sexta-feira, 25 de junho de 2021

Kierkegaard, Hegel, a Verdade e a Subjetividade

    Muito da confusão que gira em torno do pensamento de Kierkegaard é que, além das finalidades panfletárias que lançam uma sombra sobre o seu pensamento, não fica muito claro em que ponto especificamente ele combateu a filosofia de Hegel. Muita gente generaliza a questão dizendo que ele se limitou a "protestos subjetivistas" (Olavo de Carvalho), ou que opôs o individualismo contra o coletivismo hegeliano, criando uma cisão irreconciliável entre uma coisa e outra (como se ele desconsiderasse que o particular é abarcado justamente pelo geral). Mas isso é uma leitura rasa da questão, a meu ver, e não toca o cerne da questão.

    A bem da verdade, Kierkegaard levantou oposição contra Hegel no sentido de que para Hegel - extremando a tradição ocidental -, Deus é puro conhecimento, e que o supremo do homem era a pura razão desvestida de qualquer espécie de subjetividade ou interesse. O idealismo objetivo hegeliano é a maior defesa da racionalidade pura, tanto é que para Hegel a filosofia está acima da religião e da arte justamente porque desvestida de todo elemento sensível. Kierkegaard achava isso um ultraje à humanidade, pois para ele chegar a esse nível de objetividade era deixar de ser humano, além de que isso não poderia ser o ápice do cristianismo já que o cristianismo conta com a categoria da fé, e essa não pode ser possível sem o profundo interesse pessoal.

    É por isso que contra Hegel Kierkegaar opôs a categoria da paixão, assim como disse que a "verdade é subjetividade". É interessante isso porque a noção de "participação existencial" é uma categoria profundamente rica e que pode ser aplicada na análise de vários fatos da vida. O que o taciturno e sombrio de Copenhage queria, no fim das contas, era ressaltar que é impossível apreender a verdade do cristianismo sem amar pessoalmente essa verdade posta como que diante dos olhos, e é por isso que a paixão veio ser uma categoria tão importante em seu pensamento, já que ela sinaliza o interesse, sendo o único médium transcendental pelo qual temos acesso à verdade de Deus.

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