sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A Prisão de Ferro

   A ideia do "sócio-construtivismo", herdeiro do "materialismo-histórico" é interessante. Trata-se daquela sabedoria esquisita que afirma que a sociedade e as suas estruturas formam o caráter do indivíduo. Sendo assim nunca, dentro desta teoria, o indivíduo tem, por exemplo, culpa de seu mau caráter, ou culpa por seus crimes, vícios e frustrações. Tais defeitos se devem à sociedade "opressora", "machista" etc. No fundo trata-se de uma "desculpologia" barata sem visão de alcance.

Mas - interessante - ela não pode explicar o progresso histórico por esta "teoria", já que se as estruturas sociais exteriores são responsáveis pelas realidades interiores do indivíduo, seria difícil explicar, por exemplo, a razão pela qual o ser humano teria saído da caverna.

Mas os "progressistas" armados com a visão cega do "progresso histórico" de Marx, tentam remendar a fraude: creem com fé inabalável em uma certa evolução histórica inevitável que exclui literalmente a ação humana no processo da construção do que quer que seja. Trata-se, por tanto, de um fé em uma força mística e impessoal a guiar tudo, diante da qual - se conclui -, seria necessário apenas sentar na calçada e esperar a banda passas. Os esforços pessoais, ou as monstruosas energias gastas ao longo de uma vida em nome de qualquer coisas seriam, aqui, equivalentes ao suspiro de uma pulga.

Mas toda essa inexorabilidade (ou, de maneira mais simples, a inevitabilidade) histórica não estaria completa na justificação do progresso se não fosse a visão do determinismo biológico que, desde Darwin - em quem Marx se inspirou em sua teoria materialista -, apostou em um Design Inteligente, que, segundo Darwin, tratava-se de uma "lei impressa por Deus na natureza humana". Por tanto a natureza evoluiria com base em uma razão a guiar uma finalidade para onde evoluiria. Mas o evolucionismo se pensarmos em termos de ética se torna complicado, pois subdividiria a humanidade em casatas sem fim e, seguindo a ideia da sobrevivência do mais forte ou mais apto, daria vazão a teorias racistas que dominaram a mente europeia (e Nazista, mais especificamente) e norte-americana. E era justamente tendo em vista esta visão que Marx chegara a apontar que a revolução se faria em países mais avançados, assim como condenado eslavos como povos menos "evoluídos" - destinados a perecer no holocausto revolucionário - e o lumpen (a casta de vadios, deficientes físicos e mentais, bêbados, prostitutas, viciados dos mais diversos, ou seja: todos aqueles incapazes de produzir ou contribuir para a sociedade igualitária), já que não haviam atingido o progresso necessário que daria existência à calasse proletária revolucionária.

Nesta vaga, o caminho aberto para a destruição de conceitos como consciência individual e responsabilidade pessoal são destruídos. E não é preciso pensar muito para descobrir que se somos condicionados apenas pelo meio em que vivemos, a ideia de que o ser humano seja livre para decidir, sem de antemão estar predeterminado a uma escolha correspondente à uma estrutura à qual ele já esta condicionado, é, nó mínimo, impossível. Abre-se, a partir deste pensamento, toda uma corrente que tende a afirmar que "o ser humano nasce bom, mas é corrompido pela sociedade" ou "pelo seu código genético". Abre-se, no fim, toda um catálogo inumerável de desculpas que retira do ser humano a possibilidade da liberdade, condenando-o previamente a viver em um ciclo vicioso impossível de ser rompido, ou a guetos sem vistas para os céus e que não deixa a mera possibilidade de ele elevar o espírito e emoções a lugares altos onde ele pode se demorar, contemplando aquela beleza que só pode nascer em um espírito livre, possibilitando carregar consigo um poder que traz um pouco de luminosidade neste mundo de trevas.

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