quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O Dogma do Pecado

   

   Algo maravilhoso da fé cristã é a sua mensagem concreta como uma pedra. Muitos podem ver o dogma cristão sobre o pecado como uma "mistificação ultrapassada", no entanto esta visão das coisas não pode se sustentar diante de um exame honesto de consciência.


   Qualquer um teria vergonha de ter os seus pensamentos publicados como um filme, e tal vergonha sinaliza um erro fundamental no homem; este é um erro que em um passado não tão distante foi maquiado com a palavra "limitação". A palavra "limitação" pode ser falsa, pois, por exemplo, podemos afirmar que somos indivíduos limitados por não podermos voar, mas ninguém diria em sã consciência que a incapacidade de voar seja um pecado. 

   A palavra pecado requer uma consideração mais profunda e mais séria, pois ela traz a tona uma ideia que não é confortável, mas nem por isso mentirosa, já que pecado é justamente o que há pior no ser humano. No fundo uma revolta, uma obstinação, uma vergonha, algo que humilha qualquer qualquer auto-imagem enganosa - o que não é, no fim das contas, agradável. 

   No entanto isto não é algo que atinge um ou outro distante, mas é partilhado de maneira, digamos, democrática. O pecado é democrático, mas também é totalitário: iguala todos a uma condição determinada, e não permite que se possa viver sem que ele não esteja à espreita. Mas é mais do que isto: está incrustado na natureza humana. 

   Se há algo pode humilhar a vaidade humana, e derrubar o trono sobre o qual fomos colocados pela nossa vaidade, não se trata das virtudes que nos unem - unem alguns poucos homens, aliás - tanto quanto os defeitos que nos perseguem, e isto é mais concreto do que o pensamento lisonjeio de que a "humanidade nasce boa", mas é corrompida pela "sociedade". O pecado é um defeito ontológico, ou, de maneira mais simples, um defeito no ser do homem.

   Como dizia G. K. Chesterton, falando sobre o dogma do pecado original, alguns poderosos podem ser imprescindíveis para a existência da sociedade como queremos e necessitamos, mas para um cristão isto nunca quis dizer que tais indivíduos poderosos fossem bons em si mesmos. Pelo contrário, o dogma do pecado é o único que pôde nos livrar do poder da tirania, já que uma desconfiança sobre a natureza humana é algo que sempre fez morada em nosso pensamento - o pensamento cristão. 

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