sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Uma Pequena Reflexão Sobre os Princípios

   


   O princípio do afeto é semelhante ao princípio da liberdade: não pode ser aplicado de maneira indefinida sem que ele se contradiga. Por exemplo: se concedermos liberdades absolutas a todos, a liberdade do mais forte tende a anular a liberdade do mais fraco. Portanto o reino da liberdade absoluta é o reino da Tirania, pois a liberdade requer uma ORDEM atuando em espaços definidos que protejam a própria liberdade da degeneração em tirania. 

   Assim também é o afeto ou a paixão do amor: o afeto NÃO PODE ser distribuído de maneira liberal sem que ele se contradiga a si mesmo, já que o amor afetivo não prescinde da FIDELIDADE, pois se a FIDELIDADE - que é um elemento discriminador, excludente de outras possibilidades, sendo um FUNDAMENTO do próprio amor - faltar, então TRAÍMOS as expectativas do outro a quem nós direcionamos o nosso afeto, fazendo com que o afeto ou a paixão degenerem em ÓDIO. O amor, no fim das contas, exige posse, segurança e discriminação e LIMITAÇÃO do afeto, e não a sua expansão indefinida. 

   Outro exemplo está no tão discutido princípio da tolerância, que semelhantemente aos outros dois princípios acima não pode ser aplicado de maneira indefinida sem que ele degenere no seu contrário, pois se formos indefinidamente tolerantes com tudo o que é bizarro e baixo na conduta humana daremos vazão, em nome da tolerância, ao mal que dizemos que combatemos, criando um inferno indescritível no mundo ao qual prometemos o paraíso. Sendo assim, a paz para que seja possível requer e exige, paradoxalmente, a existência da intolerância. Na verdade a tolerância requer em sua constituição a própria intolerância para que ela seja possível, já que a própria tolerância se faz em nome de um bem por meio da recusa de um mal, por exemplo: se somos tolerantes com o criminoso de maneira indefinida, nem por isso criaremos uma bondade por nossas atitudes naquele que possui a atitude criminosa. Em nome do bem o criminoso de sofrer de nossa parte uma intolerância a fim de tolher as possibilidades da existência de algo prejudicial a todos nós. 

   São por essas coisas que podemos afirmar que para que um indivíduo possa gozar de plena liberdade ele dever manter a regra em suas condutas, refreando os seus apetites, tal como afirma Edmund Burke: "Está ordenado na constituição eterna das coisas, que homens de espírito intemperante não podem ser livres. Suas paixões forjam seus próprios grilhões”; assim como também afirma Thomas Hobbes: "A lei natural (lex naturalis) é a norma ou regra geral estabelecida que proíbe o ser humano agir de forma a destruir a sua vida, ou privar-se dos meios necessários a sua preservação", e continua: "o homem deve concordar com a renúncia a seus direitos sobre todas as coisas, contentando-se com a mesma liberdade que permite aos demais, na medida em que considerar tal decisão necessária para a manutenção da paz e de sua própria defesa. Se cada qual fizer tudo aquilo a que tem direito, reinará a guerra entre os homens", nos deixando a máxima de que nenhum princípio deve, isoladamente de outros princípios, fornecer um imperativo categórico para nortear as nossas ações. 

      Com isso podemos concluir que viver, e saber viver, é mais uma tarefa de técnica do que a aplicação lógica de um princípio isolado, pois a vida não é constituída de uma só virtude mas de várias que não possuem princípios que sejam comuns entre si, ou seja: ao homem cabe buscar um pouco de liberdade aqui, um pouco de igualdade ali e mais afeto um pouco adiante e um pouco de tolerância em algum lugar, fazendo esta última não se esquecer da justiça que sabe discriminar de maneira intolerante o bem do mal, ou seja: não se pode fazer da vida a aplicação de um desses princípios de maneira isolada sem que a própria vida não seja ela mesma destruída por tal princípio. 

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