quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Desespiritualização e Teocratização Paralelas: O Conservadorismo como Melhor Resposta


   O irônico é que inúmeros defensores de Teologia Política - que eles ensaiam esvaziando tudo daquilo que existe de sagrado na Teologia, fazendo uma verdadeira politização da teologia, transformando Marx em teólogo, ou mesmo a escola de Frankfurt em legisladores do Juízo Final - detestam quando, ao menos, uma pessoa confessamente religiosa - grosso modo, hoje em dia, aqueles da ala evangelical - entram no campo da política. 

   É interessante que tais indivíduos negam a existência de determinados conteúdos nas camadas mais sutis da própria consciência, ao chamar de fundamentalista o "Outro", porque, neste caso, o "Outro" não pode exercer a Teologia Política que não seja a deles próprios. 

   O problema dos "Teólogos Políticos" não é, desde a ideia da escola alemã de demitologização, nada além do que o esvaziamento teológico, fazendo, com a nova ideia de "teopolítica" que culminou nos movimentos de esperança na década de 1960 na Europa, e na Teologia da Libertação aqui na America Latina, um prosélito ao contrário: ao invés de teologizar a visão excessivamente pobre e extremamente horizontal e política do homem, para que ele possa se dedicar à aquilo que importa e que não lhe será tirado, eles politizam a teologia, transformando Igrejas e ministros religiosos em cabos eleitorais. Por último, para o lixo com a transcendência, salvação, alma, moral - pois, neste âmbito, tais conceitos são formas míticas de representar nuances psicológicas ou de intuições sobre formas sensatas de relacionamento em sociedade (não entrarei aqui no conceito errado de mito que hoje em dia contamina as mentalidades)! No entanto, tais "teólogos políticos" odeiam com ódio visceral qualquer um que procura teologizar a política fora deste tipo de espectro (já que a Teologia da Libertação é a única que possui o monopólio da ação política teologizada aqui no Brasil) - o que, de fato, é uma metástase daquela confusão de pensamento que eles próprios criaram.  

   Para deixar claro, a política está, para a vida cristã, em uma esfera distinta da esfera teológica. A teologia pode oferecer a fundamentação moral de ação do homem político, mas escapa à própria política aquilo a que o próprio cristianismo oferece: a redenção do homem. Política é serviço, no sentido mais pleno do termo, como aquilo que diz respeito aos interesses da pólis - e isto implica (como nos mostra Aristóteles em "Ética a Nicômaco") no mais alto preparo moral do homem político. Por tanto, trata-se de uma vocação de serviço, que ainda que sujeita ao agente político, guarda ela a sua própria natureza de disposição em favor da pólis - e aqui fazemos uma divisa de Weber, que distingue a ética da responsabilidade e a ética da convicção, visto ser a primeira prudente na institucionalização dos conflitos, e na mediação das diferenças sociais ou religiosas, e a segunda compreendida como ética radical, fundada em valores profundos, como valores religiosos, filosóficos etc - tal como nós absorvemos na melhor tradição política ocidental. 

   No entanto, o que deve ficar claro é isto: 1) A retórica de determinados "teólogos políticos", que, não menos radicais que determinados fundamentalistas, busca esvaziar a teologia de seu conteúdo transcendente (ou espiritual), transformando Igrejas e ministros em megafones de partido; 2) A criação de uma determinada teocratização da política, o que guarda uma identidade, em seus métodos, com o primeiro item, gerando fundamentalismos desnecessários; 3) A necessidade de recorrer ao melhor da tradição política do Ocidente que, grosso modo, não exclui a identidade - até mesmo a identidade religiosa - popular, respeitando as tradições sedimentadas ao longo dos séculos, e procura, a partir de um Estado não confessional (ou leigo), mediar conflitos, e atuar a serviço dos interesses da nação, e não de partidos, ou de utopias políticas, voltando o olhar para as necessidades concretas, e primando pelas liberdades individuais a partir de nossas próprias referências históricas e necessidades humanas. 

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