quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A Arte como o Último Covil


   A escultura, arquitetura, poesia e demais áreas da arte jamais são neutras. Todas são expressões simbólicas de realidades que militam em nosso espírito ou são coisas para as quais damos o nosso assentimento e que se estabelecem em uma relação dialética com o eu daquele que as contempla. Nunca a arte não diz nada, pois impõe por si mesma uma informação à realidade pelo próprio fato de existir.
   Todas as expressões da arte passam informação e podem, como já disseram Platão, Santo Agostinho e Hegel, elevar o homem, sendo veículo das mais altas realidades do espírito, ou podem fazer degenerar o coração humano e enterra-lo em pensamentos vis ou incitá-lo à violência e ao dilaceramento. Sem essa crítica não haveria nem mesmo aquele violento movimento iconoclasta do protestantismo cristão, o qual enxergava em qualquer arte uma degeneração do espírito. Mas não precisamos ir tão longe.
   O que vimos no espaço cultural do Santander não foi algo neutro. Em sua apresentação o curador disse quais eram as intenções do evento: quebrar o significado patriarcal de museu, quebrar a imposição normativa da moral sexual vigente, abolir os parâmetros normativos do cânone artístico e se presentar como campo de batalha. Mas vale lembrar o que aformou Dalrymple quando sabemos da manipulação da imagem infantil: o que é quebrado no nível simbólico também será quebrado na realidade.
   Antigamente se poderia dizer em épocas de vigência máxima do jingoísmo que o nacionalismo era o último refúgio do canalha. Hoje, sem medo de errar, podemos dizer que na vigência geral de uma existência estética de corte sartreano não comprometida, onde ninguém quer dizer aquilo que realmente diz ao dizer, que a arte tornou-se o último covil dos criminosos.

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