sábado, 2 de janeiro de 2021

Ἐνδύσασθε οὖν ὡς ἐκλεκτοὶ τοῦ θεοῦ; Ou: Exposição no Livro de Colossenses: 12ª Exposição: Nos Revestindo das Virtudes do Novo Homem (Cl 3.12-17)

Texto Grego:
12 Ἐνδύσασθε οὖν ὡς ἐκλεκτοὶ τοῦ θεοῦ, ἅγιοι καὶ ἠγαπηµένοι, σπλάγχνα οἰκτιρµοῦ, χρηστότητα, ταπεινοφροσύνην, πραΰτητα, µακροθυµίαν, 13 ἀνεχόµενοι ἀλλήλων καὶ χαριζόµενοι ἑαυτοῖς ἐάν τις πρός τινα ἔχῃ µοµφήν· καθὼς καὶ ὁ κύριος ἐχαρίσατο ὑµῖν οὕτως καὶ ὑµεῖς· 14 ἐπὶ πᾶσιν δὲ τούτοις τὴν ἀγάπην, ὅ ἐστιν σύνδεσµος τῆς τελειότητος. 15 καὶ ἡ εἰρήνη τοῦ Χριστοῦ βραβευέτω ἐν ταῖς καρδίαις ὑµῶν, εἰς ἣν καὶ ἐκλήθητε ἐν ἑνὶ σώµατι· καὶ εὐχάριστοι γίνεσθε. 16 ὁ λόγος τοῦ Χριστοῦ ἐνοικείτω ἐν ὑµῖν πλουσίως, ἐν πάσῃ σοφίᾳ διδάσκοντες καὶ νουθετοῦντες ἑαυτοὺς ψαλµοῖς, ὕµνοις, ᾠδαῖς πνευµατικαῖς ἐν χάριτι ᾄδοντες ἐν ταῖς καρδίαις ὑµῶν τῷ θεῷ· 17 καὶ πᾶν ὅ τι ἐὰν ποιῆτε ἐν λόγῳ ἢ ἐν ἔργῳ, πάντα ἐν ὀνόµατι κυρίου Ἰησοῦ, εὐχαριστοῦντες τῷ θεῷ πατρὶ διí αὐτοῦ.
    Exposição:
12 Ἐνδύσασθε οὖν ὡς ἐκλεκτοὶ τοῦ θεοῦ, ἅγιοι καὶ ἠγαπηµένοι, σπλάγχνα οἰκτιρµοῦ, χρηστότητα, ταπεινοφροσύνην, πραΰτητα, µακροθυµίαν,: "Vesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, com profundo sentimento de misericórdia, bondade, humildade, mansidão, longanimidade".
    O texto começa utilizando a metáfora ενδύσασθε (endúsasthe), segundo o vs. 10 onde se diz: ἐνδυσάµενοι τὸν νέον (endusámenoi ton néon), ou seja, tendo-vos revestido do novo. O que importa aqui é que o ενδύσασθε, que é imperativo, remete a uma ordem: ενδύσασθε τὸν νέον (revesti-vos do novo) (Cl 3.10). Quando falamos τὸν νέον (tón néon) nos remetemos à nova criação, ao absolutamente novo, ao novo homem criado em Cristo, àquilo que é oposto ao velho mundo do vício e da degradação, o velho mundo do qual já nos desvestimos ao termos afogado completamente o velho homem, destruindo-o, no batismo. O que morre no batismo ressuscita para o novo mundo pela fé.
    Aqui temos novamente relação dinâmica entre imperativo e indicativo; pois Εἰ οὖν συνηγέρθητε τῷ Χριστῷ (Se vocês foram ressuscitados com Cristo), logo... Por isso, segue-se a seguinte ideia: se vocês foram ressuscitados com Cristo, revesti-vos!. Já não cabe o espaço para o velho mundo para aquele que ressuscitou com Cristo. O imperativo é nos revestirmos, e, sendo assim, nos revestirmos como eleitos de Deus segundo as virtudes do eleito por excelência, que é Cristo. Portanto, ser revestido é, necessariamente, sermos revestidos como eleitos de Deus (Ἐνδύσασθε οὖν ὡς ἐκλεκτοὶ τοῦ θεοῦ), e por isso como santos e amados (ἅγιοι καὶ ἠγαπηµένοι), não apenas como amantes, mas como aqueles que foram amados (ἠγαπηµένοι). A ideia é que da eleição resulta uma forma de viver, e um viver que parte do novo (νέον). Até agora não entramos na realidade concreta das virtudes, mas apenas na dos indicativos, como a indicação de que por sermos eleitos e amados, logo devemos nos revestir.     E assim se apresentam aqueles que, sendo santos e amados, são também eleitos de Deus, ou seja, com σπλάγχνα οἰκτιρµοῦ. A palavra σπλάγχνα, que vem de σπλάγχον, e que traduzimos por entranhas. Trata-se de um hebraísmo que é basicamente a tradução grega da palavra רֶחֶם (rehem), e significa compaixão, seio, entranhas. Podemos dizer que o no texto o termo se refere a um sentimento profundo, entranhável, vindo do mais íntimo de uma pessoa. Já o termo οἰκτιρµοῦ vem de οἰκτιρµός, que significa misericórdia (trata-se do חֶסֶד, ou o hesed hebraico) Então, como eleitos de Deus devemos ter a característica do homem que possui, do mais íntimo do seu ser, de suas entranhas, um profundo sentimento de misericórdia, o que se opõe à violência do homem bestial. Compaixão é a característica do homem do alto, e não do homem da terra.
    Aqueles que ressuscitaram com Cristo tem χρηστότητα, que vem de χρηστότης (chestótes), ou seja, a bondade e benignidade no sentido da suavidade, suavidade contrária à rudeza e aspereza do homem sem trato. Disso é fácil entender que também é constitutivo do homem novo ter ταπεινοφροσύνη (humildade), ou mais especificamente, segundo o próprio termo grego, a disposição mental que parte do curvar-se, a disposição do espírito que não age pelo levante, mas sim pela devida reverência a Deus, e reverência verificável no χρηστότης, na suavidade do trato. A atitude humilde e curvada parte da consciência exata tanto da nossa fraqueza, tanto quando da nossa insuficiência. Não se trata de emulação de fraqueza ou de falsa humildade, mas sim de uma disposição daquele que tem consciência de si. É uma virtude da mente, não uma virtude irracional que parte de um curva-se sem nenhum critério; antes parte de um reconhecimento da virtude  própria das autoridade, da ausência de um saber absoluto, da consciência de nosso estado fragmentário e do fato de que não somos em nós mesmos, senão que devemos a nossa existência absolutamente de um outro, ou seja, de Deus, de quem recebemos o nosso ser. E nesse sentido não se distancia a característica da virtude do homem novo a πραΰτητα (praúteta), a mansidão, amabilidade, brandura.
    Não seria proveitoso para nós nenhuma dessas virtudes sem um substrato pelo qual tais virtudes pudessem ser vistas perdurando no tempo entre aqueles que são eleitos, santos e amados. O homem novo também tem uma longa disposição de ânimo na perseverança, termo que é traduzido do µακροθυµία (makrothymía), e que também carrega o sentido de ser alguém que suporta com paciência o mal sobre si, assim como a lentidão em tomar vingança, ou ser o indulgente e mesmo clemente.
    Não é raro Paulo amontoar vários termos que carregam em si não pouca semelhança. Seu estilo literário é de alguém que professoralmente deseja incutir algo, uma forma de ver as coisas. Não se trata apenas de paralelismo hebraico, e ainda que possa ser isso, evidencia nessas seções parenéticas de suas cartas aquele que se porta realmente como o mestre de um ensino que se vê na responsabilidade de encucar ensinos em seus pupilos.
13 ἀνεχόµενοι ἀλλήλων καὶ χαριζόµενοι ἑαυτοῖς ἐάν τις πρός τινα ἔχῃ µοµφήν· καθὼς καὶ ὁ κύριος ἐχαρίσατο ὑµῖν οὕτως καὶ ὑµεῖς·: "suportando uns aos outros e perdoando uns aos outros, se alguém tiver motivo de queixa contra o outro, assim como Cristo vos perdoou, assim perdoem vocês também;".
    Se segue que se um grupo há µακροθυµία, ele é convidado a agir suportando uns aos outros (ἀνεχόµενοι ἀλλήλων - anechómenoi allelôn), pois toda boa árvore tem a sua própria bondade cognoscível pelo seu fruto. Aqui a equação é simples: os eleitos de Deus se revestem como eleitos de Deus, e na comunidade daqueles que foram chamados para a glória esses também devem atuar perdondo uns aos outros (χαριζόµενοι ἑαυτοῖς - charitzomenói eautoîs).
    O que o Santo Apóstolo afirma aqui é bem propício em virtude da vida em comunidade que os cristãos são chamados a viver. Como veremos o amor, como vínculo da perfeição, requer o suportar ainda os resquícios da velha natureza na nova comunidade. A comunidade é também o νέον, o novo que, diferentemente da comunidade mundana, conta com o apoio das virtudes do mundo futuro. Há uma contradição evidente nascida da guerra entre a velha e a nova natureza na nova comunidade. Mas junto com o problema a assistência do Espírito traz o suporte para a sustentação da nova realidade. É por isso que se faz necessário suportar uns aos outros, assim como amar uns aos outros. Não é dada na nova comunidade a eliminação de todos os problemas do homem, mas a superação a partir do próprio problema do homem. A vantagem aqui é que os resquícios da velha natureza nos oferecem a ocasião do aperfeiçoamento e da obtenção das virtudes que devemos ter. Cristo não vence o mundo apenas fora de nós, pois as virtudes do novo mundo que nos são conferidas fazem com que Cristo também vença o mundo a partir de nós, da sua nova comunidade, comunidade esta que é o corpo de Cristo.
    A comunidade de Cristo segue as pisadas de Cristo. O texto é incisivo em dizer: se alguém tiver motivo de queixa contra o outro, assim como Cristo vos perdoou, assim perdoem vocês também. (ἐάν τις πρός τινα ἔχῃ µοµφήν· καθὼς καὶ ὁ κύριος ἐχαρίσατο ὑµῖν οὕτως καὶ ὑµεῖς·). Na nova comunidade pode ser que alguém tenha queixa (µοµφήν - momphén) contra alguém (τινα - tina). Mas ela é sempre conclamada a, em obediência, suavidade e humildade, a agir como Cristo, pois, segundo a estrutura da relação dinâmica entre o indicativo e o imperativo, o apóstolo afirma: como também Cristo vos perdoou (καθὼς καὶ ὁ κύριος ἐχαρίσατο ὑµῖν - kathos kai hó kúrios echarísato humîn), para também afirmar: assim vós também [perdoai] (οὕτως καὶ ὑµεῖς·- ahutôs kai húmeîs).
14 ἐπὶ πᾶσιν δὲ τούτοις τὴν ἀγάπην, ὅ ἐστιν σύνδεσµος τῆς τελειότητος.: sobre todas as coisas [esteja] o amor, que é [o] vínculo da perfeição.
    O elemento constitutivo da virtude do novo mundo é justamente o amor (τὴν ἀγάπην - tên agápen), que deve estar acima de tudo (ἐπὶ πᾶσιν - epí pâsin), pois é o vínculo da perfeição (ὅ ἐστιν σύνδεσµος τῆς τελειότητος - hó estin síndesmos tês teleiótetos). E sobre isso é bom lembrar que a constatação de Paulo segue o espírito da Oração Sacerdotal de Jesus em Jo 17. Em Jo 17.22b Jesus ora pelos discípulos para que eles sejam um (ἵνα ὦσιν ἓν - hina ôsin hen) como nós [Jesus e o Pai] somos um (καθὼς ἡµεῖς ἕν katho hemeîs hen). No vs 23a Jesus pede: eu neles (ἐγὼ ἐν αὐτοῖς)e tu em mim (καὶ σὺ ἐν ἐµοί) para que sejam aperfeiçoados na unidade (ἵνα ὦσιν τετελειωµένοι εἰς ἕν). A oração de Jesus é decisiva neste ponto, pois o aperfeiçoamento no um (ἕν) evoca a participação nas virtudes de Deus. Assim, Jesus assinala o fim do conhecimento do Nome de Deus, assim como a finalidade da glória que estava conferindo aos discípulos no fim da oração sacerdotal. Eis o desejos de Jesus em Jo 17.26b: afim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja (ἵνα ἡ ἀγάπη ἣν ἠγάπησάς µε ἐν αὐτοῖς ᾖ κἀγὼ ἐν αὐτοῖς.). Portanto, acima de tudo esteja o amor, pois sem amor não há a unidade pela qual a nova comunidade irá manifestar e revelar Deus ao mundo.
15 καὶ ἡ εἰρήνη τοῦ Χριστοῦ βραβευέτω ἐν ταῖς καρδίαις ὑµῶν, εἰς ἣν καὶ ἐκλήθητε ἐν ἑνὶ σώµατι· καὶ εὐχάριστοι γίνεσθε.: "E a paz de Cristo, à qual também vocês foram chamados em um corpo, governe os vossos corações, e sejam agradecidos.".
    A paz de Cristo (εἰρήνη τοῦ Χριστοῦ) é evocada aqui para governar (βραβεύω) os corações. Entendamos aqui o governo como ato deliberativo daquele que julga se algo é lícito ou ilícito. Trata-se do papel de um árbitro, e, evidentemente, aqui a paz de Cristo é mais do que um simples sentimento, sendo antes uma virtude do Espírito a realizar o domínio do centro da pessoa. Há de se entender aqui um conhecimento do que seja a paz do Espírito que não é simplesmente aprendido, como algo que independentemente do que for, se possui de uma vez por todas, antes trata da realidade experimentada daquele que está em posse do Espírito, ou melhor, daquele que está possuído pelo Espírito. É necessário ter o Espírito, andar no Espírito, viver uma vida espiritual para que saibamos o que é a paz de Cristo, pois ela é algo que não pertence ao velho mundo, mas ao novo mundo e que, por natureza se contrapõe ao velho mundo. Essa é a paz de Cristo e é a paz à qual vocês foram chamados em um corpo (εἰς ἣν καὶ ἐκλήθητε ἐν ἑνὶ σώµατι), pois é o corpo que tem acima de tudo o amor de Deus, que é o vínculo da perfeição.
    Também nada seria perfeito nesse amor se não soubéssemos que o que há nele é dado em graça. É fundamental que entendamos que os eleitos, que são amados e santos, assim o são porque são amados. Se não fosse o fato de serem amados não haveria razão de entender a inserção na nova comunidade, no corpo que veio a ser chamado para a paz, não tivesse sido convocado e eleito se não em função da graça. Tudo é de Cristo, pois ele é tudo em todos (Cl 3.11b). Por isso, sede agradecidos (εὐχάριστοι γίνεσθε). Ser agradecido é imperativo para aqueles que são eleitos, santos e amados, pois daquilo que os faz serem como Cristo, nada disso possuem de si mesmos.
16 ὁ λόγος τοῦ Χριστοῦ ἐνοικείτω ἐν ὑµῖν πλουσίως, ἐν πάσῃ σοφίᾳ διδάσκοντες καὶ νουθετοῦντες ἑαυτοὺς ψαλµοῖς, ὕµνοις, ᾠδαῖς πνευµατικαῖς ἐν χάριτι ᾄδοντες ἐν ταῖς καρδίαις ὑµῶν τῷ θεῷ·:"A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda sabedoria ensinando-vos e vos admoestando uns aos outros, com salmos, hinos, e com cânticos espirituais, com gratidão, louvando a Deus em vossos corações.".
    Assim, estar em Cristo, e estar vestido de Cristo, todas essas coisas apontam para um modo de viver, pois é impossível que quem não esteja em Cristo não haja e não exista para Cristo, sendo a ele grato por todos os benefícios, sejam eles conhecidos ou desconhecidos. A questão é que não se trata de uma exortação dirigida a uma pessoa, mas sim a uma comunidade, comunidade que tem em si o modo de viver do novo mundo, e que vive no poder na graça do mundo futuro. Ora, se tal comunidade vive nesse poder e nessa graça, logo isso será cognoscível pelo seus frutos; se tal comunidade é eleita, santa e amada, logo todas a gratidão manifesta é ela um fruto amadurecido que surge da recepção da graça. É só por receber a graça que ela pode agradecer. Então, da boa natureza seguem-se necessariamente os frutos: A palavra de Cristo habite em vós ricamente (ὁ λόγος τοῦ Χριστοῦ ἐνοικείτω ἐν ὑµῖν πλουσίως), e isso não apenas para nós, pois continua o apóstolo: em toda sabedoria ensinando-vos e vos admoestando uns aos outros (ἐν πάσῃ σοφίᾳ διδάσκοντες καὶ νουθετοῦντες ἑαυτοὺς). E à natureza do educação mútua da comunidade do Espírito não cabe apenas a realidade do ensino, mas nela se mescla a celebração e o regozijo com Deus, pois um modo como a Palavra na comunidade deve habitar está: com salmos, hinos, e com cânticos espirituais, com gratidão, louvando a Deus em vossos corações (ψαλµοῖς, ὕµνοις, ᾠδαῖς πνευµατικαῖς ἐν χάριτι ᾄδοντες ἐν ταῖς καρδίαις ὑµῶν τῷ θεῷ·). É assim que a Palavra de Cristo deve habitar plena e ricamente em nós. Seja ensino, seja em cântico espiritual, seja em admoestação mútua, todas as coisas devem conduzir à gratidão a Deus pelos seus inúmeros dons concedidos à Igreja, à edificação na qual cada um de nós somos uma pedra do edifício, para que juntos, consumados no um (na unidade), resplandeçamos a glória de Deus.
17 καὶ πᾶν ὅ τι ἐὰν ποιῆτε ἐν λόγῳ ἢ ἐν ἔργῳ, πάντα ἐν ὀνόµατι κυρίου Ἰησοῦ, εὐχαριστοῦντες τῷ θεῷ πατρὶ διí αὐτοῦ.: "e tudo o que vocês fizerem em palavra ou obra, façam tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças a Deus Pai por meio dele.".

    O texto traz o que deve ser feito, mas há também aqui um critério pelo qual podemos definir a nossa ação tendo Cristo como o governante sobre os nossos corações (Cl 3.15a). É importante que façamos todas as coisas tendo Cristo como o árbitro em nossos corações. O que podemos fazer no Espírito é aquilo que fazemos sendo conduzidos pela paz de Cristo. Obviamente se tudo o que fizermos, seja em palavra ou obra, devemos fazer em nome de Cristo, certamente nada daquilo que for feito no nome de Cristo pode lhe trazer qualquer infâmia. Logo, aqui se exclui uma miríade de possíveis ações a serem feitas em nome de Cristo, pois não são compatíveis com o amor e a santidade de Cristo, o eleito. Por isso, tudo o que vocês fizerem (καὶ πᾶν ὅ τι ἐὰν ποιῆτε), em todas as coisas, em palavra e em obra (ἐν λόγῳ ἢ ἐν ἔργῳ), façam tudo em nome do Senhor Jesus (πάντα ἐν ὀνόµατι κυρίου Ἰησοῦ), ou seja, só façamos aquilo do qual o Senhor Jesus possa ser o árbitro da paz no nosso coração, ou daquilo que é compatível segundo o que Cristo é, em sua santidade, amor, piedade etc. para nós -  Que nos vistamos de Cristo! -. Assim também, por sermos destinatários de tão grande e imerecido dom, devemos fazer tudo o que fazemos dando graças a Deus Pai por meio dele [Jesus Cristo]. Ao agraciado nada mais cabe do que o agradecimento.
***
    Vejam que Paulo fala de dentro de uma prisão, e, segundo o seu fervor zeloso (Cl 2.1), seu combate diuturno estava focado em ver a perfeição da Igreja, o que deve incluir a sua luta pelas comunidades particulares. Após fazer a lista dos vícios, daquilo que a comunidade estava proibida de ser, Paulo segue para a listas das virtudes segundo as quais os Colossenses deveriam compreender o seu verdadeiro modo de ser. Portanto, se antes deveríamos nos desvestir da impureza sexual, da imoralidade má intencionada, das paixões, do desejo mau, da cobiça extremada, da ira, das blasfêmias, da linguagem obscena e das mentiras, agora devemos nos vestir de profundos afetos humanos que são contrários às paixões lascivas, de bondade que é contrária ao desejo mau e à avareza, da humildade e mansidão que são opostos ao destempero do homem violento, assim como são opostos à longanimidade. Da mesma forma, exortar uns aos outros com a boa Palavra de Cristo se opõe ao mentir uns aos outros e a blasfemar ou caluniar a moral alheia, assim como cantar cânticos espirituais e salmos se opõe às palavras obscenas do nosso falar.
    Em todas essas coisas a nova vida daqueles que ressuscitaram juntamente com Cristo (Cl 3.1) se opõe às obras a serem mortificadas nos membros que pesam sobre a terra (Cl 3.5). E assim, para aqueles que são convocados à graça e à paz de Cristo (Cl 3.15), cabe a manifestação do novo (Cl 3.10) do qual devemos nos vestir para a manifestação da nova comunidade do Espírito, pois ao sermos circuncidados em Cristo, fomos sepultados juntamente com ele (Cl 2.11,12a), e assim ressurgimos pela fé na ressurreição (Cl 2.12b), ressurgindo juntos como a nova comunidade que se reveste do novo para que por ela seja manifesta plenamente a glória de Deus, pois fomos renovados para o conhecimento, segundo a imagem daquele que nos criou, a qual é Cristo, aquele que, por sua vez, é a expressão exata do ser de Deus (Cl 1.15). Amém!

S.D.G.

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