sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A Ordem e a Anarquia



   Quando olho para algumas políticas desastradas que alguns países implementaram em outros países em nome do "progresso", do "novo" contra o "anacrônico" ou o "ultrapassado", como foi a política "progressista" de Obama em nome da "democracia laica" na Líbia - o que, feito de forma mal feita, abriu um vácuo tenebroso naquele país que permitiu ele entrar em estado de anarquia, vindo a força organizada do ISIS e o engolindo com a boca escancarada -, sempre tenho em mente uma frase do Russell Kirk:

"A grande linha demarcatória da política contemporânea, como Eric Voegeling (1901-1985) costumava apontar, não é a divisão entre liberais, de um lado, e totalitários, do outro. De um lado daquela linha, estão todos os homens e mulheres que imaginam que a ordem temporal é a única ordem que, as necessidades materiais são as únicas necessidades e que podem fazer o que quiserem do patrimônio da humanidade. Do outro lado da linha estão todos os que reconhecem a existência de uma ordem moral duradoura no universo, uma natureza humana constante e sublimes deveres para com a ordem espiritual e a ordem temporal" (KIRK. A Política da Prudência. p. 115).

Ou seja: a Ordem é algo incriado, e que é feito para o homem e o homem é feito para ela, como diria também o sábio filósofo. E tenho cá para mim que a Ordem, as regras consolidadas, as instituições, organizações humanas, o senso de hierarquia, a compreensão da necessidade de valores e regras duradouras são coisas fundamentais que garantem a paz que o homem necessita, e que devem perdurar pelos tempos em favor, e não contra, o homem, já que respeita, e muito, a natureza do próprio homem, que não pode ser reinventada a cada dois minutos para se adequar ao "novo". O homem deseja constância, perenidade e, em última instância, uma eternidade que deve ser refletida nas estruturas e ações levadas a cabo no Mundo presente.

A dificuldade com a visão dos libertários - que alimenta o raciocínio tanto dos capitalistas brutais, como dos "progressistas" de esquerda - é que ela não consegue enxergar que a liberdade absoluta - que degenera em anarquia ou niilismo - não é um negócio a favor dos homens, mas algo que cria um campo perfeito para a ação ilimitada dos mais fortes e dos mais poderosos, já que os valores, os tabus, as regras, as convenções consagradas, Igrejas, a moral etc. (e não a revolução permanente), são barreiras que freiam as liberdades que dariam aos malignos o poder absoluto, como diz o apóstolo Paulo na segunda carta aos cristãos de Tessalônica: " Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda" (II Ts 2:7,8), ou seja: a resistência contra o avanço da iniquidade só pode ser possível por meio do desejo de conservação de valores consagrados como a Ordem.

O caso da Líbia - e o da Primavera Árabe, como um todo -, ainda é algo a ser profundamente estudado e refletido, já que a evidência de que algo deu errado por lá não pode ser sustada em nome da consideração sobre um "simples erro de cálculo", nos levando a concluir que a política, ou as ações humanas em geral que visam uma liberdade sem ordem está fadada a ter como resposta uma ordem sem um mínimo daquela liberdade que está em acordo com a essência humana, já que fomentará é a traição e a supressão total dela.

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