sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Teologia do Auto-Golpe (Texto de 27/08/2020)

    Na prolongada questão relativa à teologia da expiação, a teologia reformada possui duas vertentes: uma que afirma que haviam outros modos de expiação que não a expiação penal substitutiva (Calvino, Twise, Zanchius, Vermigli etc.) e outra que afirma que não havia outro modo de expiação que não aquela realizada por Cristo (Owen, Turrentini, Bavink, Berkhof etc.). Não é desconhecido que me enquadro na primeira vertente que é característica à primeira geração dos reformadores. No entanto, há uma certa acusação sobre a crueldade de Deus em eleger esse modo de expiação que alguns afirmam ser indigno de Cristo, e ofensivo à majestade divina.

    Vamos estabelecer a seguinte questão segundo a própria posição do oponente. Ora, é sabido que segundo a potência absoluta afirmamos que Deus poderia eleger outros modos de realizar a expiação dos pecados; mas afirmamos que Deus, segundo a potência ordenada, decretou tal modo de operar a salvação. Há de se perguntar se aqueles que também afirmam isso, afirmando também que a Cruz é o meio pelo qual Deus salva o homem, o libertando do poder das trevas e da morte, se esquecem que havia em Deus Pai a possibilidade de livrar os homens sem fazer padecer o seu Filho. Se havia, por qual razão e qual o real ganho do Pai ter feito Cristo sofrer na Cruz, se isso não era absolutamente necessário? Qual a razão de ser de o justo sofrer pelo injusto, se Cristo era de todo inocente, havendo o Pai outros meios, e meios não cruentos, de libertar a humanidade? Aqui hão de torcer o assunto e de agir com desconversa, mas as objeções que estes põem sobre as nossas costas cai com peso semelhante, agravado pela acusação feita a outros, nas costas deles mesmos.
    Dito isso, uma nota sobre esse modo de fazer oposição a adversários: Nesse tônus quase persecutório de fazer oposição à teologia alheia, salta aos olhos que essa obsessão mórbida em querer derrubar uma determinada vertente da teologia cristã traz em si determinadas marcas distintivas, uma das quais é a cegueira para enxergar os próprios pressupostos. É como se para espancar a teologia alheia alguém arrancasse a pilastra do seu próprio edifício teológico afim de forjar uma arma. Obviamente esse procedimento tende a ganhar contornos de irracionalidade. E aqui estes se põe à distância eterna da bem-aventurança que ensinou o Apóstolo Paulo: "Bem-aventurado é o homem que não se condena naquilo mesmo que aprova" (Rm 14:22).

Nenhum comentário:

Postar um comentário