terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A Assolação da Terra e a Glória da Segunda Casa; Ou: a Fé e a Profecia do Profeta Ageu

    No livro de Ageu 2.1-9, especificamente no vs. 9, temos a tão conhecida profecia da Glória da Segunda Casa. Mas como diz um adágio muito verdadeiro, o que é conhecido não é geralmente reconhecido, e isso porque essa passagem se desenrola em um contexto em que os judeus se encontravam em frangalhos, contexto para o qual se dá pouca atenção.

    Povo de um país politicamente sem importância no Oriente Antigo não é difícil ver a realidade do desânimo do remaescente do povo judeu voltando do exílio a um país assolado. Ageu é o profeta que atua em um período de reconstrução. O templo estava em ruínas, e o país estava longe do período áureo da grande glória e riqueza do reino de Salomão, período onde o primeiro templo foi construído.
    Mas como assim a glória do segundo templo seria maior do que a glória do primeiro templo? O profeta assim se dirigia a um povo para o qual o horizonte era assolação, e para o qual estava sendo prometido uma glória superior à glória dos tempos de Salomão. Ageu agindo assim, apela para a lembrança da aliança: "meu Espírito habita entre vocês" (2.5b); portanto, "sejam fortes e trabalhem" (2.4).
    Aqui é possível enxergar o cuidado de Deus em pastorear o coração do povo. Pois ainda que fosse dada uma palavra-promessa por meio de um profeta, os mais antigos do povo, que testemunharam a glória do primeiro templo, tinham que lidar com o contraste inelutável entre aquilo que o templo era, e aquilo que eles tinham diante dos olhos. De fato, o que eles tinham diante dos olhos era um templo que "não era nada" (2.3).
    O que "resta" ao povo diante da assolação? A fé na aliança e na fidelidade de Deus. "Deus opera a partir do nada", "Deus faz o deserto se tornar um jardim" (Is 51.3), diz o profeta do exílio. E só se sustenta na assolação aquele que pela fé crê para extrair do nada a vida. Portanto, da terrível assolação nasce a luz, e do nada, da negação mais severa nasce a esperança, porque a Palavra cria a partir do nada.
    O contraste visível entre a glória da primeira casa e a pequenês da segunda não impede que se creia que a glória da última será menor. Deus enviou a sua palavra criadora ao povo; ela é a razão da esperança para um povo desvalido. Mas é pela pela fé que o trabalho não será vão, pois o Senhor inundará a segunda casa com com a sua glória (2.7), e ali ele dará ao povo a tão desejada paz (2.9).

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