quinta-feira, 11 de novembro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonathan Edwards: 17ª Resolução.

17ª Resolução: Resolvi que viverei de modo como desejaria ter vivido se estivesse no meu leito de morte.    

    A moral e espiritualidade cristãs em seu exercício tendem a nos levar à prática daquilo que chamamos de exercícios de imaginação moral. Mas o que seria isso? Como vários outros termos que nomeiam elementos da nossa prática de fé, o termo imaginação moral se refere à a prática que até mesmo sem perceber exercitamos no nosso dia a dia, e se constitui basicamente no ato de nos imaginarmos em uma determinada situação específica que exigiria uma determinada resposta nossa, ou mesmo a prática de nos imaginarmos no lugar da outra pessoa em suas alegrias e sofrimentos. A própria compaixão implica nessa prática de nos colocarmos no lugar do outro, pois a compaixão significa sofrer com ou sofrer junto ao(s) que sofre(m). O apóstolo Paulo em Rm 12.15 nos incentiva: Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. Também em Hb 13.3 esse exercício de imaginação compassiva é incentivado: Lembrai-vos dos presos como se vocês estivessem presos com eles, e dos maltratados como se vocês mesmos fossem maltratados no corpo. E podemos perceber que mesmo na leitura da Escritura nós mesmos somos içados pela imaginação a vivermos como se estivéssemos ao lado, ou mesmo como se nós mesmos fôssemos Abraão em suas peregrinações e em suas orações; como se fôssemos Davi em suas lutas e nas suas composições dos Salmos; como se fôssemos os profetas quando estes estavam proferindo suas profecias; ou como se fôssemos Moisés em seus encontros com Deus e em sua oração no Sinai etc. Na caminhada da fé a imaginação está ao nosso lado o tempo inteiro, e a proposta do pastor Jonathan Edwards envolve um importante exercício de imaginação, pois nesta resolução ele visa nos coloca diante das coisas mais importantes ou últimas da nossa vida.

    A resolução do pastor depende de um processo de meditação e por isso de imaginação. A resolução implica em viver como desejaríamos ter vivido no leito de morte. Essa experiência drástica da morte não é realmente comum a nenhum de nós, mas a essa experiência podemos nos aproximar mediante um ato imaginativo. Obviamente que esse tipo de experiência não é de modo algum desejável para nenhum de nós, contudo ela não é evitável, e quando voltamos nossos olhos para a Escritura podemos ver que ela nos incentiva a esse tipo de ato imaginativo, como é claro no fim do livro de Eclesiastes 12.1-8, onde está escrito: Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; Antes que se escureçam o sol, e a luz, e a lua, e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva; No dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas; E as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem. Como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça; Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço; E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Vaidade de vaidades, tudo é vaidade.

    Nos versículos acima o Pregador do livro de Eclesiastes conclui propondo um temor a Deus antes que cheguem os maus dias, ou os dias em que o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu, ou seja, nos dias que precedem o fim da vida no mundo. Propondo essa reflexão imaginativa sobre a vida atual através da tela de fundo formada pelos maus dias o pastor visa uma coisa só: imaginar como seria viver a vida da forma mais virtuosa possível, de maneira que, nos últimos instantes da nossa vida, não olhemos para trás com vergonha de nós mesmos ou com arrependimento em função da nossa história mal construída através de decisões mal tomadas. A questão é que é sempre possível viver bem se olharmos para a nossa vida com um dom que deve ser sempre bem aproveitado. Viver intensamente hoje, servir intensamente com o maior amor a Deus agora, buscando verdadeiramente a sua glória e seu proveito através dos nossos atos, aproveitando cada momento que Deus no dá como se cada um desses momentos fosse o mais valioso. Em Provérbios 5.1,2 o sábio instrui: Filho meu, atende à minha sabedoria; à minha inteligência inclina o teu ouvido; Para que guardes os meus conselhos e os teus lábios observem o conhecimento, e tudo isso para que evitemos o amargo fim dos imprudentes, que lamentarão nesses termos: E no fim venhas a gemer, no consumir-se da tua carne e do teu corpo. E então digas: Como odiei a correção! e o meu coração desprezou a repreensão! E não escutei a voz dos que me ensinavam, nem aos meus mestres inclinei o meu ouvido! (Pv 5.11-13).

    Enfim, o sábio nos instrui a viver bem, algo que só pode ser feito à luz da lembrança do nosso Criador, assim como com fidelidade a Deus, fidelidade praticada à luz da sabedoria e da Sua Palavra. É como ocorreu com Abraão, sobre quem Deus proferiu essas palavras: Tu, porém, gozarás de uma velhice abençoada, morrerás em paz, serás sepultado e irás reunir-te com os teus pais no mundo dos mortos (Gn 15,15). Além da vida abençoada, em nosso fim poderemos tranquilizar a nossa mente, porque andando em paz e fidelidade com Deus teremos o prêmio da bem-aventurança eterna, como diz o Apóstolo Paulo: Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda.(2Tm 4.7-8).

    Que o Senhor, nosso Deus, por Cristo Jesus no dê sabedoria para viver afim de que tenhamos em tudo paz, até mesmo no morrer!

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