sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Platão, o Demonismo e a Filosofia

     Platão é certamente um dos homens com um dos mais potentes intelectos da história humana, e mesmo que a filosofia pudesse ter adquirido o corpo que ganhou sem ele é indiscutível que sua passagem na história marcou o mundo passado e presente de forma profunda - e certamente marcará ainda de forma duradoura. E é evidente seu virtuosismo em ter feito da própria filosofia certa forma do seu pensamento. 

     No entanto, mesmo não ignorando seu poder intelectual imenso posto a serviço da humanidade, é possível vislumbrar nele certos rompantes diabólicos, tais como vemos em Hegel, a exemplo da sua persistente postulação (que vamos encontrar na República e mesmo nas Leis) de que a abolição do casamento seria um elemento necessário para o estabelecimento da cidade (pólis) ideal; também sua noção de que seria necessário estabelecer um controle de natalidade (até mediante a administração estatal de anticoncepcionais) e a deportação de "filhos em excesso", já que a cidade ideal contaria com algo em torno de 5.004 pessoas, não deixa de ser perturbadora. 

     Mesmo assim, a sua postulação a favor do Rei filósofo teria realmente mais sentido em cidades pequenas, que é o que ele defende. Sua persistente repulsa contra o gigantismo nacional atrofiado é louvável, e isso porque Platão é se sível que tal grandeza não pode ser conquistado sem o aliançamento com vários vícios. Também sua sensibilidade ao significado dos mitos cosmogônicos como uma linguagem expressiva da estrutura da realidade parte de uma sensibilidade e argúcio magistral; sua "descoberta" da alma e a sua percepção da constituição da virtude também são louváveis.  Mas Platão não era um santo e nem precisamos trata-lo como tal.

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