terça-feira, 2 de novembro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonathan Edwards: 12º Resolução

12ª Resolução: Resolvi que se eu sentir nisso deleite, como gratificação para o orgulho, para a vaidade ou algo parecido, de imediato o eliminarei.

    Essa resolução tem imediata relação com a resolução anterior e nela fundamenta seu significado. Então vale a citação da 11ª Resolução: Resolvi que ao pensar em qualquer problema teológico que precise ser esclarecido, farei imediatamente o que puder para esclarece-lo, caso as circunstâncias não me impeça de fazê-lo. O pastor então se refere ao orgulho do conhecimento teológico, ou do conhecimento bíblico que pode envenenar aquele que o possui, se tal conhecimento não vier acompanhado com uma disposição de espírito adequada. Por extensão podemos aplicar essa advertência contra a vaidade do conhecimento bíblico ou teológico a todos os tipos de habilidades e conhecimentos que possuímos ou venhamos a possuir, já que tal vaidade pode nos cegar para o que verdadeiramente importa, como veremos mais abaixo.

    Fazendo referência ao que já foi dito no comentário passado, podemos aqui nos lembrar da Igreja de Corinto que se sentia inchada por causa de certa presunção de possuir conhecimento, não dando conta, porém, da miséria que a arrasava. As misérias nos são conhecidas, mas vale cita-las aqui: a imoralidade sexual (1Co 5.1,2), o partidarismo dissencioso (1Co 3.4), o desprezo para com os pobres na mesa do Senhor (1Co 11.20-22), e mesmo invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, orgulhos, tumultos etc. (2Co 12.20,21). A pergunta a ser feita é como é possível a boa convivência entre pecados tão terríveis ao lado de tão alta consideração de si mesmo pela posse de certos conhecimentos ou ao lado do orgulho espiritual? A resposta pode estar em Paulo mesmo, como em uma citação que também fizemos no comentário anterior: Quem pensa que sabe alguma coisa, ainda não sabe como convém saber (1Co 8.2).

     O orgulho intelectual é algo que tanto cega como corrompe, pois transforma algo naquilo que ele não é, ou seja, engana e desvia do caminho. Entendamos: o conhecimento meramente informativo não é o mesmo que grandeza moral, e nem mesmo é sinal de um favor absoluto por parte de Deus. Entendemos que o conhecimento é uma benção e ninguém deve despreza-lo, mesmo que ele venha da pessoa mais vil, pois verdade é sempre verdade. Mesmo Jesus disse, em Mt 23.2,3 dos fariseus: Os escribas e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Fazei e obedecei, portanto, a tudo quanto eles vos disserem. Mas adverte nestes termos: Contudo, não façais o que eles fazem, porquanto não praticam o que ensinam. A questão aqui é que o mero conhecimento exterior da lei apreende o que da lei é verdade, mas tal conhecimento informativo não necessariamente significa uma excelência moral ou uma excelência no espírito. As duas coisas aqui devem ser discernidas.

    Assim temos o verdadeiro perigo do conhecimento, ou seja, que ele, isolado das demais virtudes, não sinaliza a presença daquela graça e bondade naquele que o detém, e pode até mesmo cegar os orgulhosos que pensam que o conhecimento, sem atos de bondade, é suficiente de algum modo. E assim entendemos os dizeres do Apóstolo: E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria (1Co 13.2), ou seja, o conhecimento para aquele que o detém, separado do amor, não tem nenhum poder salvador.

    Nos salve da vaidade que nos destrói, Senhor!

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