quarta-feira, 3 de novembro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonathan Edwards: 13ª Resolução

13ª Resolução: Resolvi esforçar-me por descobrir objetos apropriados de caridade e liberalidade.  

    Já vai longe a reflexão sobre o lugar adequado das obras na vida cristã. Duas vertentes aqui se separam em seu conteúdo, mas se unem nos extremos do erro: A primeira vertente afirma que as obras são causa mesma de salvação, afirmando no homem uma potência para realizar a própria salvação mediante uma obediência estrita à lei de Deus. A segunda vertente afirma que obras são completamente opcionais ou absolutamente dispensáveis na vida daquele em ao qual a graça da salvação é administrada. Ambos os pensamentos são heréticos, constituindo elementos desviantes na verdadeira compreensão da vida cristã. E contra essas duas formas de consideração podemos invocar aqui Ef 2.8-10, onde temos: Pela graça vocês são salvos, e isso não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se orgulhe, pois somos criaturas suas, criadas em Jesus Cristo para as boas obras que de antemão Deus preparou para que andássemos nelas, ou seja, Deus é a causa única da salvação; contudo, esta salvação em nós não é inócua, mas nos conduz às boas obras as quais Deus preparou de antemão para que nela andássemos.

    Assim, se espera naturalmente a visualização de certos efeitos salvíficos na vida daqueles que creem. Um desses efeitos aqui podem ser vistos no desejo pela busca de objetos adequados de caridade e liberalidade. A caridade é um termo que remonta à palavra grega χαρις (cháris), cujo significado é graça, de onde também vem o termo ευχαριστια (eucharístia), que tem o sentido de agradecimento que parte de um coração consciente e feliz pelos benefícios recebidos (cf. 1Co 14.16). Assim a caridade é um ato de graça, ou um ato gratuito de bondade que visa beneficiar outro, podendo também ser um ato de gratidão a Deus através de atos de gratuidade para com quem necessita etc. A noção de liberalidade tem relação com a disposição generosa em doar liberalmente sem reter com avareza, ou mesmo a disposição alegre em doar, o que contrasta com a disposição que doa com tristeza ou com mão remissa.

    Paulo nos dá várias e importantes orientações sobre os objetos adequados de caridade e liberalidade, quando na 2ª Carta aos Coríntios explana sobre seu plano de assistência aos cristãos pobres da região da judeia. É interessante que no início de seu ministério ele tenha recebido uma instrução importante do Colégio Apostólico de Jerusalém a se lembrar dos pobres (Gl 2.10). Já em 2Co 9 Paulo é aqui visto organizando um a ação coordenada com várias Igrejas para trazer mantimentos aos cristãos pobres da Judeia. Mas o importante aqui é nos lembrarmos das palavras de Paulo: Lembrem-se: aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também colherá fartamente (2Co 9.6), e: Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria (9.7). Aqui há certo incentivo, segundo a lei da colheita, assim como também um princípio de liberalidade segundo o qual se afirma que Deus ama aquele que dá com alegria, como repugna que faz o bem por mera obrigação.

    Mas em 2Co 9.8-10 temos uma informação importante que esclarece a base pela qual os atos de liberalidade são considerados: E Deus é poderoso para fazer que lhes seja acrescentada toda a graça, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra. Como está escrito: "Distribuiu, deu os seus bens aos necessitados; a sua justiça dura para sempre". Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que come, também lhes suprirá e aumentará a semente e fará crescer os frutos da sua justiça. Aqui Deus é quem concede bens para que possamos abençoar, afim de que possamos abundar em boas obras e, nesse sentido, em atos de justiça. Atos de graça são convertidos assim em atos de justiça, e é importante considerarmos a liberalidade à luz da categoria da justiça porque essa é a visão bíblica de justiça segundo o conceito hebraico de direito ou juízo (מִשְׁפָּט = mishpath). Assim, quem é iliberal é um injusto e é justamente por isso que o avarento é inapto para o Reino de Deus.

    Assim, a consideração sobre a liberalidade e seus objetos apropriados - principalmente aqueles que mais precisam - também inclui a liberalidade no campo da promoção do que é bom. Nesse sentido, aqueles que com atos de gratuidade louvam a Deus através do ato de contribuir para obras de missão, para a casa de Deus, ou mesmo hospitais, colégios (como é comum em países como os EUA), irmãos necessitados, creches, asilos etc. também louvam a Deus de coração, em atos liberais com ação de graças. Todos esses objetos listados são objetos adequados de liberalidade, pois os inadequados são aqueles que difundem erros e coisas que obstruem a justiça e o livre amor de Deus.

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