quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A Bíblia e o Mundo


   A dificuldade do pastor é que ele ficou condenado a raciocinar em chaves. Se ele não cita versículos, ou ali não coloca o nome de Jesus, é porque ele não está em conformidade com a Bíblia, portanto não fala o que interessa. Existe quem não conheça uma verdade, tampouco o que é uma Bíblia e muito menos o que é uma fé, assim como a vastidão do significado do próprio cristianismo no campo mais concreto da vida. Pensando assim, muitos mataram o sentido do dito de Paulo: "analisem tudo e retenham o que é bom" (I Tessalonicenses 5:21), assim como enterraram o sentido da frase indignada de Jesus: "porque vocês não julgam por si mesmos o que é justo?" (Lucas 12:57). 

    Analisar de tudo e reter aquilo que é bom e julgar por si mesmo aquilo que é justo é, também, ir para além das limitações das letras e seguir para dentro do universo do espírito das letras, do significado profundo, enxergando as luzes que este mesmo espírito e significado lançam no mundo, clarificando aquilo que no mundo é obscuro. Trata-se, por tanto, de enxergar o mundo de onde a própria palavra se origina, pois, na hierarquia dos acontecimentos, antes da palavra escrita vem a realidade concreta, assim como antes do texto bíblico vem a revelação e a ação de Deus na História. 

   A Bíblia não é um centro criador por si mesma, mas vem a ser este centro criador e esta fonte espiritual porque ela se refere e se fundamenta em uma determinada verdade, a uma verdade que, em sua complexidade, é anterior a ela, já que ela é um registro, e como registro cumpre também uma determinada função de testemunho (Jo 20:31) - que contém o que é necessário saber -, além daquelas orientações que buscam nos conduzir a Deus - condução que é levada a cabo apenas no orientação e clarificação do Espírito (Jo 14:26).

   Sendo assim, a existência física de uma Bíblia só é possível, segundo o pensamento cristão, por causa de um movimento eterno e de um significado eterno, de uma inspiração vinda do próprio Deus. Por tanto, seria estranho pensar que o interesse da própria Bíblia seria ficar girando em torno de si mesma, como se as palavras da Bíblia fossem as únicas a expressarem a verdade (e não é mesmo) - a pregação atestada pelo Espírito já nos mostra isto -, já que por outros meios podemos alcançar, ou ser alcançados pelo mesmo significado ou a mesma Razão contida na Bíblia (como em um aconselhamento pastoral), visto que a razão de sua existência é Iluminar a vida concreta e todos os momentos concretos de todo o homem - uma Iluminação que pode ser transformada em inúmeras palavras, em inúmeros livros e em inúmeras artes. É nisso que a Bíblia da provas de ser a Palavra de Deus.

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