quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Degeneração da Crítica da Religião

 

   Quando o teólogo reformado suíço Karl Barth fez um ataque mortal ao conceito de religião na primeira metade do século XX (e toda crítica da religião moderna parte, basicamente, dele), o que ele pretendia era, como homem de Igreja, recuperar a tradição de fé que havia sido diluída pela teologia liberal. Tal diluição ocorreu desde que Schleiermacher, no início do século XIX, tentou criar um amálgama, uma junção ou uma síntese entre cultura protestante alemã, iluminismo e Evangelho, já que religião para Scheiermacher - assim como para uma filosofia altamente complexa -, trata-se de uma construção humana em sua relação com o divino. Para a teologia liberal que se formou desta tradição de pensamento que remonta a Schleiermacher, influenciada também pela filosofia da cultura de Hegel, a produção do espírito religioso humano culminava na cultura protestante alemã do século XIX. E é aqui neste contexto que surge a máxima de Barth: cristianismo não é religião, mas revelação. É um trabalho de cima para baixo (de Deus ao homem) e não de baixo para cima (do homem a Deus).
No entanto, hoje, a crítica da religião - que é grandemente utilizada pelas Igrejas Neopentecostais em seu apelo conversionista, ou por movimentos cristãos contemporâneos - é justamente o inverso do que pensava Barth: trata-se da destruição sistemática do Evangelho, e da tradição cristã em nome de um apelo ao "novo", do suplantar de muitas das bases teológicas com o intuito de abrir a fé aos novos tempos, numa tentativa de travar um "diálogo" com os "apelos" destes "tempos", o que poderia culminar em uma síntese ou construir uma ponte entre movimentos culturais e Evangelho, já que tais movimentos podem e devem ser absorvidos pelo Evangelho, lançando um passado de interpretações na lata do lixo da história para que seja possível uma resposta adequada às "novas perguntas", o que demanda "novas respostas".
Portanto, apesar de a visão de Barth ser sujeita a sérias críticas - e eu tenho sérias críticas ao pensamento barthiano com relação a religião -, muito do que vemos hoje como "crítica da religião" seria anatematizado por Karl Barth, pois a nova "crítica" trata-se de uma forma que nada tem de muito restaurador, já que Barth construiu as bases de sua Crítica como Teólogo da Palavra em uma recuperação das fontes da fé na teologia bíblica, em teólogos e pregadores patrísticos (os primeiros teólogos cristãos), nos teólogos reformados, e na restauração para a teologia protestante dos conteúdos tradicionais dos Credos e dos dogmas fundamentais da fé, não sendo Barth, por tanto, nenhum modernista, mas sim um destruidor da síntese entre teologia e cultura, lançando fora, em seu tempo, por muitos anos, qualquer diálogo com o "espírito dos tempos", já que isto seria um tanto desnecessário para a Salvação do Homem.

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