sábado, 24 de outubro de 2015

Virtudes Enlouquecidas


   Existem aqueles, como os liberais - ou os capitalistas libertários -, que acham a liberdade absoluta um bem humano. Mas como toda a liberdade absoluta, ela tende a degenerar, desembocando na escravidão e na tirania operada pelo mais forte em detrimento dos mais fracos: se tudo é possível, o mais forte sempre vence.

   Por outro lado existem os socialistas, que desejando a igualdade absoluta - prometendo liberdade -, caminham por uma via contrária à natureza. Pois algo que os nossos olhos e a nossa experiência não negam é o fato de que no nível da vida ninguém é igual, o que faz da sociedade humana uma complexa teia harmoniosa constituída pela pluralidade de habilidades, virtudes e êxitos.

   A tolerância cultuada pelos pacifistas, que é uma virtude que tem o seu lugar próprio dentro das relações humanas, não pode ser aplicada indefinidamente, pois a tolerância absoluta, em decorrência da existência do mal no mundo, abre espaço para o seu contrário: a intolerância, o abuso e violência absolutas.

   A liberalidade no dar, que é uma bênção em meio a uma sociedade egoísta, assim como é o alento dos pobres e necessitados, quando divorciada da disciplina, tende a criar parasitas, cuja dependência torna-se um vício moral, contraditando o propósito central da liberalidade que é ajudar o necessitado a caminhar, e não fazer dele um ser eternamente estacionário.

   As quatro virtudes a cima não podem ser aplicadas isoladamente como se fossem fins em si mesmas, já que a vida humana bem-aventurada, como ensina os cristãos que ousam colocar a mansidão ao lado da sede infinita de justiça como bens a buscar, não é constituída da aplicação de princípios isolados, mas se parece mais com a arte, que se vale de elementos de vários matizes e origens afim de produzir um único bem.

   Como nos ensina Chesterton:

   "O mundo moderno esta cheio das velhas virtudes cristãs enlouquecidas. As virtudes enlouqueceram porque foram isoladas umas das outras e estão circulando sozinhas." (CHESTERTON, G. K. Ortodoxia. p. 52)

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