quinta-feira, 19 de março de 2020

Agostinho e o Amor para Além da Razão

   No Enarrationes in Psalmos (Comentário aos Salmos) XVII, X, Agostinho propõe uma interpretação que tornou-se um estilo teológico e um princípio de espiritualidade na tradição cristã. Eis a passagem:
   "'Subiu em um Querubim e voou'. Foi exaltado acima da da plenitude da ciência, e então ninguém chega a ele, senão pela caridade. A caridade é a plenitude da lei. E logo demonstrou aos que o amam ser ele incompreensível, a fim de que não julgassem compreendê-lo por meio de imaginações corporais. 'E voou com as asas do vento'. A rapidez, porém, com que se mostrou ser incompreensível, acha-se acima das potências da alma, asas que os elevam dos temores terrenos à auras da liberdade."
   A opulência linguística e espiritual de Agostinho vasa por todos os cantos nas suas interpretações aos Salmos, e certamente tal obra monumental encerra todo o seu estilo teológico e seu tratamento característico a uma imensa variedade de temas. Contudo aqui, nesta exegese alegórica, também está encerrada essa proposição teológica em que Deus estaria acima da plenitude da ciência.
   Desde Agostinho é possível destacar uma linha luminosa de autores que trataram desse grande tema. Passando de Agostinho, entrando na Idade-Média, indo de Francisco de Assis aos franciscanos até Duns Scotus, Deus é apresentado como o ente para além da razão, ao qual só se chega pelo amor.

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