quinta-feira, 19 de março de 2020

Arianismo Ad Nausean, Calvino e a Teologia da Substituição Penal

   Uma das afirmações repetidas até causar náuseas contra a Teologia da Substituição é que ela implica em Arianismo.
   A esta afirmação finérrima oponho as afirmações de João Calvino que espancam tal alegação sem lastro na teologia do pai da Teologia Reformada que defendeu essa modalidade de expiação.
   1) Cristo não temeu quanto à sua salvação, ao lhe atingir as penas cruciantes do juízo divino que por deliberação não coagida tomou para si, nos livrando do reato do pecado: "Aqui, certos [teólogos...] bradam que estou a fazer atroz injustiça a Cristo [afirmando...] que Ele temesse quanto à salvação da sua alma" Inst. II.XVI.XII
   2) A Cristo não se atribui o pecado do desespero, contrário à virtude da fé: "Em seguida, mais acerbamente agitam cavilações de que atribuo ao Filho de Deus desespero que é contrário à fé". (Idem.)
   3) A Cristo, a partir dos Testemunhos Escriturísticos, acertadamente se atribui o pavor da morte ante as penas da Cruz: "Perversamente, controvérsia é suscitada por estes [...], quanto ao medo e pavor de Cristo, que os Evangelistas proclamam tão ostensivamente. Ora, antes que se acercasse o momento da morte 'foi conturbado em espírito' (Jó 13.21)" (Idem.), e daí que na teologia da SP se atribui "agonias espirituais" a Cristo.
   4) Não apenas o seu corpo participa do castigo, mas também a sua alma é apenada pelos tormentos da Cruz: "E, na verdade, a menos que também sua alma houvesse sido participante do castigo, teria sido Redentor apenas aos corpos" (Idem).
   5) Ainda que padecesse em fraqueza, não foi coagido à Cruz; e contra a acusação de Arianismo, aqui se afirma que nada dos padecimentos lhe subtrai o seu poder: "Não há, portanto, porque nos espante a fraqueza de Cristo, para que não se sujeitasse à qual não foi coagido por violência ou necessidade; ao contrário, foi induzido por puro amor de nós e por Sua misericórdia. Tudo quanto, porém, de livre vontade, sofreu por nós nada Lhe detrai o poder" (Idem).
   Dessas afirmações, a negação do "temor da perdição", do "pecado do desespero", e de que "a Cruz lhe detrai o poder" põe em evidência perpétua a ideia de que não ouve separação ontológica entre o Pai e o Filho, ou conflito intra-trinitário, mesmo a despeito do abandono com o qual o Filho foi abandonado na maldição da Cruz, para que se identificasse com todos aqueles abandonados, recapitulando-os em si.

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