sexta-feira, 20 de março de 2020

Agostinho, a Teologia Pneumática e a Ceia do Senhor


 É muito disputada a questão de se a teologia do sacramento da Ceia em Agostinho se alinha à teologia da transubstanciação ou não. Há evidentemente, para quem conhece os textos agostinianos, a certeza de que Agostinho cria numa presença real, porém pneumática, de Cristo na Ceia.
No tratado nº XXVI.XII sobre o Evangelho de João, Santo Agostinho literalmente afirma: "Hic est ergo panis de coelo descendens, ut si quis manducaverit ex ipso, non moriatur. Sed quod pertinet ad virtutem Sacramenti, non quod pertinet ad visibile Sacramentum: qui manducat intus, non foris; qui manducat in corde, non qui premit dente".
Na versão em espanhol do texto temos: "Éste es, pues, el pan que desciende del cielo, para que, si alguien comiere de él, no muera. Pero en cuanto a lo que se refiere a la fuerza del sacramento, no en cuanto se refiere al sacramento visible: quien lo come dentro, no fuera; quien lo come con el corazón, no quien lo aplasta con los dientes".
Em uma tradução livre do latim para o português que eu e o Joel Pereira (mais o Joel Pereira) fizemos desse texto temos: "Este é o pão que desceu do céu, para que se alguém comer dele, não morra. Mas no que diz respeito à virtude do sacramento, não no que se refere ao sacramento visível: quem o come por dentro, não come por fora; quem come com o coração, não quem o pressiona com os dentes".
Aqui está uma das passagens que atesta a noção da recepção espiritual de Cristo no sacramento da Ceia por parte de Agostinho, e que obviamente não pode ser pareado à noção da recepção literal da substância mesma do corpo de Cristo na Ceia, pois: "Utquid paras dentes et ventrem? crede, et manducasti" - "Por que prepara os dentes e o ventre? Creia e terá comido" (Tratados sobre o Evangelho de João XXV.XII).

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