terça-feira, 31 de março de 2020

Tomás de Aquino e o Sacrifício de Cristo como Uma Substituição de Tipo Penal

   Do acima exposto ainda se depreende que foi conveniente ter Cristo sofrido a morte não somente para dar exemplo de desprezo da morte por causa do amor da verdade, como também para purificar os pecados dos outros. Com efeito, realizou-se isso enquanto ele, que era isento de pecado, quis sofrer a morte por causa do pecado, recebendo em si a pena devida aos outros e satisfazendo por eles.
   Embora a graça de Deus somente seja suficiente para a remissão dos pecados, como opinava a décima-nona objeção, contudo, para essa remissão também algo é exigido da parte de quem o pecado é perdoado, a saber, dar satisfação a quem ofendeu. E como os demais homens não podiam fazer isso por si mesmos, Cristo o fez por todos, sofrendo por caridade a morte voluntária.
   Embora para punição do pecado seja necessário a punição de quem pecou, como opinava a Vigésima objeção, contudo, na satisfação um pode carregar o castigo do outro. Porque, sendo a pena infligida pelo pecado, pondera-se a falta de quem é punido. Mas, na satisfação, quando alguém assume voluntariamente a pena, para aplacar quem ofendeu, pondera-se a caridade e a benevolência de quem satisfaz, que se mostram extremas quando algum assume a pena do outro. E, assim, Deus aceita a pena de um pela do outro, conforme acima foi demonstrado.

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TOMÁS DE AQUINO - Suma Contra os Gentios. IV, LV, 19-20a

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