domingo, 6 de fevereiro de 2022

A Cidade da Transgressão

    No capítulo de nº12 do livro de Gênesis é relatado o chamado de Abrão, e no VS. 4 é dito que Ló (לוֺט = lôt) o seguiu. Após os acontecimentos da primeira descida de Abrão ao Egito, Ló e Abrão se separaram pela incapacidade da terra de comportar o gado de ambos. Ló, a quem Abrão concedeu o direito de escolha, decidiu partir para as verdejantes campinas do Jordão, em direção a Sodoma e Gomorra (vs.10) ao Oriente, e Abrão ficou em Canaã. Após isso se levantou a guerra dos quatro reis contra cinco (cap. 14.1-11), sendo Ló levado cativo (vs. 12). Ao tomar ciência do fato Abrão partiu com 318 homens dos mais capazes de sua casa. Com a vitória sobre Quedarlaomer e os outros quatro reis, Abrão retornou com Ló e seus bens, e teve um encontro com Melquisedeque (מַלְכִּי-צֶדֶק = maleqî-tsedek) a quem entregou seu dízimo, recebendo a benção do sacerdote de Salém.

Após esses eventos o Senhor prometeu a Abraão descendência, e levando em consideração a esterilidade de Sarai, tal realização não seria um evento entre outros, mas um milagre. Em meio á impaciência, Sarai dá a Abrão Agar com quem teve Ismael (cap. 15-16). Mas reafirmando que seria de Sarai que Abraão teria um filho, YHWH mudou o nome de Abrão para Abraão (אַבְרָהָם = ‘aberāhām), ou Pai de Povos, e de Sarai para Sara (שָׂרָה = sārāh), ou Princesa. Como sinal da aliança Deus institui a circuncisão, e após isso YHWH reaparece refazendo suas promessas e anuncia a destruição de Sodoma, cidade onde Ló habitava. Neste ponto somos levados à famosa intercessão de Abraão (cap. 18.22-33) , história que nos mostra como os justos podem vir a ser causa de salvação dos injustos – o que muito nos explica o como somos salvos pela justiça de Cristo.

A narrativa a respeito de Sodoma e Gomorra é esclarecedora, e a violência que os moradores da cidade despendem aos anjos nos lembra muito o prólogo do dilúvio, onde a injustiça suprema é ilustrada na coabitação entre mulheres e anjos (Gn 6.1-3). Aqui é importante frisar, em função do reducionismo interpretativo a respeito do juízo sobre Sodoma e Gomorra, que o pecado deste povo não se limitou à imoralidade sexual ou à prática desenfreada da homossexualidade, antes, como nos informa Ezequiel (16.46), contra esse reducionismo interpretativo, seu pecado também foi: soberba, fartura de pão e abundante tranquilidade [...], e nunca estendeu a mão para o pobre e necessitado. Esse foi o cenário onde a abundância estava unida à maldade, construindo o pior dos mundos. Contra a mesquinhez e a maldade se arremete o juízo divino, destruindo um estado de coisas que em Sodoma, ou em qualquer outro lugar, era e é algo tanto corrupto como corruptor.

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