A primeira interação que temos entre Esaú e Jacó está logo em Gn 25.27-34, em um dos episódios mais estarrecedores de Gênesis. A perplexidade desse episódio se dá em virtude de uma inversão moral que ao mesmo tempo explica certa hierarquia de valores constitutiva de uma moral divinamente revelada, e nos coloca diante de um exemplo do quão longe pode ir o desprezo humano pelas coisas que dizem respeito a Deus e aos homens. No vs. 29 é dito que Jacó havia feito um cozido (נָזִיד) – termo que não guarda nenhuma correspondência com o termo lentilhas, como é comumente traduzido –, em um dia em que Esaú veio do campo exausto. No vs. 30 Esaú pede a Jacó um pouco do caldo vermelho (אָדֹ֤ם = ’ādōm), daí a origem do seu segundo nome, Edom (אֱדוֺם = ’edōm), nome que Deus origem à nação dos edomitas ou da idumeia. Dos vs. 31-33 temos a questão da venda da primogenitura, direito que Esaú dispõe, mediante juramento, à venda em troca do cozido preparado por Jacó.
Esaú é a figura própria do velho homem. Seu nome Edom (אֱדוֺם = ’edōm) é formado pela mesma raiz que forma o nome de Adão (אָדָם = ’ādām), e além da proximidade fonética (dos sons das palavras), os nomes possuem também proximidade semântica (significado), não apenas no sentido geral de vermelho – pois Adão significa vermelho e humanidade –, mas no sentido teológico, ou seja, ambos se aproximam no seu afastamento deliberado das coisas divinas, o que fez com que ambos trouxessem sobre eles imensa dor. Tal catástrofe não é, portanto, gratuita: um, nosso pai ancestral, em troco da bem-aventurança furtou da árvore aquilo que lhe retirou tudo, trazendo sobre ele morte e tristeza; o outro, o pai de Edom, que em troca do dos seus bens eternos preferiu um caldo comum que lhe trouxe amargor. Ambos pensaram pequeno preferindo um bem ínfimo pela eternidade; ambos são reflexos da nossa humanidade - אָדָם = ’ādām: humanidade –, quando escolhemos levianamente o nosso pecado.
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