quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Milagre!

Após a morte de Sara registrada em Gn 23.1ss, Abraão incumbiu o mais antigo servo seu da busca de uma esposa ao seu filho Isaque. Feito o juramento de que seu servo não iria à busca de uma esposa para Isaque dentre as filhas de Canaã (24.2,3,9), partiu o servo com a benção de Abraão à procura de uma esposa dentre os parentes de Abraão, ou seja, a descendência de Naor, seu pai (24.4). A certa altura, o servo orou a Deus e pediu um sinal de que ele havia encontrado a esposa de Isaque: que a moça desse de beber a ele, e aos animais depois dele (Gn 24.14), o que ocorreu quando ele encontrou Rebeca (רִבְקָה = ribeka, que significa algo como cativante, ligação), filha de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor (Gn 24.15-27). Após isso o servo foi recebido na casa do pai de Rebeca, Betuel, e expondo o caso, e a promessa que fizera a Abraão, teve o consentimento de Betuel (24.50) para levar Rebeca a Isaque, além do próprio consentimento de Rebeca (24.58).

Após tudo voltou o servo a Abraão junto com Rebeca, e de longe ao ver Isaque meditando no campo, tomou seu véu, cobriu o rosto e foi conduzida pelo servo ao encontro de Isaque que a tomou e a levou para a tenda de Sara, sua mãe (24.63-67a). Diz a escritura que Isaque amou-a (וַיֶּאֱהָבֶ֑הָ = vayyěehāvěhā) e foi consolado (וַיִּנָּחֵ֥ם = vayyināhēm) após a morte de Sara. A Escritura aqui mostra uma unidade de sentido muito importante. Na afirmação de Adão em Gn 2.24 se diz que deixa o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher. Aqui vemos em um caso concreto como o casamento, e posse de Rebeca como esposa, preencheu o vazio deixado pela morte de Sara, consolando Isaque. Deixou ele sua mãe e se uniu à sua mulher, Rebeca a quem ficou atado pelo amor. Vemos aqui um paradigma para os filhos de Israel - coextensivo à humanidade toda -, já que após o primeiro casal esse é o primeiro relato de um casamento completo, e no salto de Adão e Eva para Isaque e Rebeca o padrão permanece idêntico.

Padrão também segue a sustentação divina no caso de Abraão, onde a continuidade da linhagem, segundo o desígnio divino, segue sendo possível segundo atos miraculosos. Em Gn 25.21a é dito que Rebeca era estéril, e em 25.21b diz que YHWH, o SENHOR, atendeu ao pedido de Isaque e Rebeca concebeu, dando à luz dois filhos, que eram Esaú e Jacó. Casos de concepção miraculosa são recorrentes na escritura. Lembremos da história do nascimento de Sansão (Jz 13), de Samuel (1Sm 1.9-28), ou mesmo a predição sobre o nascimento de Ezequiel que iria trazer libertação ao povo (Is 7.14-16), além da concepção miraculosa de João Batista (Lc 1.8-25) e de Jesus (Mt 1.18-25; Lc 1.26-45). Todos esses testemunhos encerram a verdade de que a ação de YHWH, o SENHOR, na história, na promoção da salvação, é ação que está encerrada na potência divina e não no conjunto de possibilidades oferecidas pelo mundo ou pelo homem. A razão disso é que ao SENHOR pertence [miraculosamente realizar] a salvação (Jn 2.9).

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