terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

A Família de Deus

    É muito difícil entendermos muito bem, com base em nossa sensibilidade religiosa atual todo o modo de ser da família de Jacó. Estamos falando de uma estrutura antiga e poligâmica de família com o adicional do o instituto do concubinato, algo inexistente nos nossos dias. Provavelmente você já se perguntou se o modelo de vida dos patriarcas é um modo de vida possível hoje; ou deve ter se perguntado se o Deus é mutável em sua moralidade para permitir antes a poligamia que a igreja hoje rejeita. Mas a resposta é “Não”, Deus não muda em seus propósitos, mas os meios para atingi-los variam em cada época. A questão é que o mundo antigo não era populoso, e contando com taxas evidentemente altas de mortalidade a poligamia se tornava uma forma de sobrevivência. Contudo isso nem é o importante da questão aqui. Ao tratarmos da questão da Família de Deus queremos falar a respeito da graça que vem para retificar um povo falível.

    Não há outro termo: a história da família de Jacó é estarrecedora, pois ela contava: com irmãs esposas lutando por um marido (Gn 30.1); a amada Raquel vendendo seu marido por um punhado de mandrágoras (30.14,15); Rúbem, o primogênito, cometendo incesto com Bila, concubina de seu pai (35.22); Raquel roubando os ídolos de seu pai, inserindo idolatria na família eleita (31.19); Simeão e Levi assassinando uma vila inteira como vingança pela violação de sua irmã Diná (34.25-31); José, o mais novo, vendido por todos os seus 10 irmãos a uma caravana de ismaelitas, o que levou os 10 a mofarem o ocorrido debaixo da mentira da sua José por anos a fio (37); Judá mostrando seu lado perverso, fraudando a lei do levirato e mantendo relações sexuais com prostitutas, além de hipocritamente buscar a morte de sua nora que supostamente havia adulterado, enquanto que ele é quem a havia possuído (38); os bisnetos de Abraão, Onã e Er, sendo mortos por Deus por se rebelarem diante dele (38.9).

    A intenção aqui não se trata de maldizer o conceito de eleição, ou blasfemar dos patriarcas, antes é mostrar a quem Deus chama, e como são aqueles a quem Deus chama. Longe de significar qualquer coisa como premiar a injustiça, a graça e a aliança divina visa tratar o homem tal como ele é em toda a sua imperfeição. Aqui podemos afastar aquela visão torcida que muitas vezes foi sinalizada por um lado demasiadamente ascético e purista que sempre povoou a Igreja que buscou expulsar dela os imperfeitos, botando mais fé em uma suposta retidão que falsamente viam do que acreditando naquela graça, que sustenta o filho de Abraão, que justamente não viam. É por isso que a família de Deus é algo que pode ser decepcionante para quem julga achar nela mais do que tem para dar a ela. É nesse povo imperfeito, e por vezes incrivelmente estarrecedor, que está em vigência aquela graça do Cristo, que a esse pequenino rebanho decidiu entregar o seu Reino.

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