terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Liberdade e Prudência: O Problema da Ilimitação da Liberdade de Expressão

    O argumento da liberdade de expressão ilimitada exposta pelo Monark é semelhante ao planejamento urbano que a pretexto de promover mais senso de higiene entre os cidadãos resolvesse construir vias com esgoto a céu aberto a fim de que a repulsa pelo cheiro levasse a um maior desejo por limpeza.

    Pense em um minuto nessa analogia. A grande questão é que a exposição ao horror e à loucura constantes levaria a uma degradação de certo senso de limite. O grande erro dessa versão extremada de liberalismo que o Monark representa é aquela inocência imoderada que pensa que o bom senso sempre vencerá, e que a sociedade nunca colapsará caso libere forças caóticas e homicidas para circular em pé de igualdade com o "pelotão do bom-senso" (ou do comom-sense no sentido britânico, que é aquele senso natural de alegria pela felicidade alheia, senso de comunidade, comedimento etc.).

    Abrir espaço para a radicalização irrestrita é o primeiro passo para a destruição do senso de amizade, daquele afeto mutuo que constitui o tecido que ampara a convivência civil. E Aristóteles dizia que o fim do legislador é muito mais preservar essa amizade até mesmo do que se preocupar de forma obcecada com a justiça - que o nosso país entenda isso. Nesse sentido a liberação de forças de extrema violência através da liberação da circulação de discursos enlouquecidos já geraria uma gangrena na rala verniz moral que ainda garante certa unidade civil - imagine um vilipêndio irrestrito de sulistas contra nordestinos ou coisa parecida.

    No fim, no fim, por uma previsão de cenário, o grande problema do estabelecimento da liberdade de expressão irrestrita seria garantir a formação de partidos políticos por parte de terroristas e extremistas, de maneira a possibilitar a tomada do poder, gerando ocasião para que o fanatismo ingresse na estrutura de Estado, moldando essa estrutura.

    Muitas teorias de uma ala extremada e anárquica do liberalismo (que ironicamente coincidem com teses defendidas até mesmo por comunistas) são simplesmente deletérias, e devem ser banidas daquele campo das possibilidades reais onde tais ideias poderiam vir a tomar corpo concreto na história, destruindo muitos - incrivelmente a liberação de forças extremas é um problema sério nos Estados Unidos. E contra o extremismo, como diriam os teóricos conservadores, a única oposição radical seria a prudência, sōphrosýnē (σωφροσυνη), prudência que Aristóteles definiu como a virtude política por excelência.

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