quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Comentário em Isaías 2.6-22: (מִפְּנֵי֙ פַּ֣חַד יְהוָ֔ה) A soberba de Israel e a face aterradora do Senhor

Texto de Isaías 2.6-22:

6 כִּ֣י נָטַ֗שְׁתָּה עַמְּךָ֙ בֵּ֣ית יַעֲקֹ֔ב כִּ֤י מָלְאוּ֙ מִקֶּ֔דֶם וְעֹֽנְנִ֖ים כַּפְּלִשְׁתִּ֑ים וּבְיַלְדֵ֥י נָכְרִ֖ים יַשְׂפִּֽיקוּ׃
7 וַתִּמָּלֵ֤א אַרְצוֹ֙ כֶּ֣סֶף וְזָהָ֔ב וְאֵ֥ין קֵ֖צֶה לְאֹצְרֹתָ֑יו וַתִּמָּלֵ֤א אַרְצוֹ֙ סוּסִ֔ים וְאֵ֥ין קֵ֖צֶה לְמַרְכְּבֹתָֽיו׃
8 וַתִּמָּלֵ֥א אַרְצֹ֖ו אֱלִילִ֑ים לְמַעֲשֵׂ֤ה יָדָיו֙ יִֽשְׁתַּחֲו֔וּ לַאֲשֶׁ֥ר עָשׂ֖וּ אֶצְבְּעֹתָֽיו׃
9 וַיִּשַּׁ֥ח אָדָ֖ם וַיִּשְׁפַּל־אִ֑ישׁ וְאַל־תִּשָּׂ֖א לָהֶֽם׃
10 בֹּ֣וא בַצּ֔וּר וְהִטָּמֵ֖ן בֶּֽעָפָ֑ר מִפְּנֵי֙ פַּ֣חַד יְהוָ֔ה וּמֵהֲדַ֖ר גְּאֹנֹֽו׃
11 עֵינֵ֞י גַּבְה֤וּת אָדָם֙ שָׁפֵ֔ל וְשַׁ֖ח ר֣וּם אֲנָשִׁ֑ים וְנִשְׂגַּ֧ב יְהוָ֛ה לְבַדֹּ֖ו בַּיֹּ֥ום הַהֽוּא׃ ס
12 כִּ֣י יֹ֞ום לַיהוָ֧ה צְבָאֹ֛ות עַ֥ל כָּל־גֵּאֶ֖ה וָרָ֑ם וְעַ֖ל כָּל־נִשָּׂ֥א וְשָׁפֵֽל׃
13 וְעַל֙ כָּל־אַרְזֵ֣י הַלְּבָנֹ֔ון הָרָמִ֖ים וְהַנִּשָּׂאִ֑ים וְעַ֖ל כָּל־אַלּוֹנֵ֥י הַבָּשָֽׁן׃
14 וְעַ֖ל כָּל־הֶהָרִ֣ים הָרָמִ֑ים וְעַ֖ל כָּל־הַגְּבָעֹ֥ות הַנִּשָּׂאֹֽות׃
15 וְעַ֖ל כָּל־מִגְדָּ֣ל גָּבֹ֑הַ וְעַ֖ל כָּל־חוֹמָ֥ה בְצוּרָֽה׃
16 וְעַ֖ל כָּל־אֳנִיֹּ֣ות תַּרְשִׁ֑ישׁ וְעַ֖ל כָּל־שְׂכִיֹּ֥ות הַחֶמְדָּֽה׃
17 וְשַׁח֙ גַּבְה֣וּת הָאָדָ֔ם וְשָׁפֵ֖ל ר֣וּם אֲנָשִׁ֑ים וְנִשְׂגַּ֧ב יְהוָ֛ה לְבַדֹּ֖ו בַּיֹּ֥ום הַהֽוּא׃
18 וְהָאֱלִילִ֖ים כָּלִ֥יל יַחֲלֹֽף׃
19 וּבָ֨אוּ֙ בִּמְעָרֹ֣ות צֻרִ֔ים וּבִמְחִלֹּ֖ות עָפָ֑ר מִפְּנֵ֞י פַּ֤חַד יְהוָה֙ וּמֵהֲדַ֣ר גְּאוֹנֹ֔ו בְּקוּמֹ֖ו לַעֲרֹ֥ץ הָאָֽרֶץ׃
20 בַּיֹּ֤ום הַהוּא֙ יַשְׁלִ֣יךְ הָאָדָ֔ם אֵת אֱלִילֵ֣י כַסְפֹּ֔ו וְאֵ֖ת אֱלִילֵ֣י זְהָבֹ֑ו אֲשֶׁ֤ר עָֽשׂוּ־לוֹ֙ לְהִֽשְׁתַּחֲוֹ֔ת לַחְפֹּ֥ר פֵּרֹ֖ות וְלָעֲטַלֵּפִֽים׃
21 לָבוֹא֙ בְּנִקְרֹ֣ות הַצֻּרִ֔ים וּבִסְעִפֵ֖י הַסְּלָעִ֑ים מִפְּנֵ֞י פַּ֤חַד יְהוָה֙ וּמֵהֲדַ֣ר גְּאוֹנֹ֔ו בְּקוּמֹ֖ו לַעֲרֹ֥ץ הָאָֽרֶץ׃
22 חִדְל֤וּ לָכֶם֙ מִן־הָ֣אָדָ֔ם אֲשֶׁ֥ר נְשָׁמָ֖ה בְּאַפֹּ֑ו כִּֽי־בַמֶּ֥ה נֶחְשָׁ֖ב הֽוּא׃ פ

Tradução e Comentário:

6, 7, 8, 9:
כִּ֣י נָטַ֗שְׁתָּה עַמְּךָ֙ בֵּ֣ית יַעֲקֹ֔ב כִּ֤י מָלְאוּ֙ מִקֶּ֔דֶם וְעֹֽנְנִ֖ים כַּפְּלִשְׁתִּ֑ים וּבְיַלְדֵ֥י נָכְרִ֖ים יַשְׂפִּֽיקוּ׃
וַתִּמָּלֵ֤א אַרְצוֹ֙ כֶּ֣סֶף וְזָהָ֔ב וְאֵ֥ין קֵ֖צֶה לְאֹצְרֹתָ֑יו וַתִּמָּלֵ֤א אַרְצוֹ֙ סוּסִ֔ים וְאֵ֥ין קֵ֖צֶה לְמַרְכְּבֹתָֽיו׃
וַתִּמָּלֵ֥א אַרְצֹ֖ו אֱלִילִ֑ים לְמַעֲשֵׂ֤ה יָדָיו֙ יִֽשְׁתַּחֲו֔וּ לַאֲשֶׁ֥ר עָשׂ֖וּ אֶצְבְּעֹתָֽיו׃
וַיִּשַּׁ֥ח אָדָ֖ם וַיִּשְׁפַּל־אִ֑ישׁ וְאַל־תִּשָּׂ֖א לָהֶֽם׃

Porque tu, Yahweh, desamparaste o teu povo, a casa de Jacó, porque os seus se encheram de bruxos, como os filisteus, e se associam com filhos estrangeiros. E sua terra se enche de prata e ouro sem fim. E enche a terra de cavalos e suas carruagens são incontáveis. E enchem a sua casa de ídolos inúteis, se prostrando diante das obras das suas mãos. E com isso as pessoas tem que se vergar e o homem é degradado; por isso não haverá perdão.

    A profecia mira Israel, ou a casa de Jacó (בֵּ֣ית יַעֲקֹ֔ב), que é o povo de Deus, ou o seu povo (עַמְּךָ֙), o qual foi alvo do desamparo de Yahwew por certas razões, como, em primeiro lugar: 1) a prática da bruxaria e 2) a associação com os filhos dos estrangeiros. A orientação da lei (תּוֺרָה) tinha certo rigorismo quanto à associação entre as nações, já que Israel, eleito para ser o oráculo de Deus, deveria conservar certos costumes, tal como já anteriormente Yahweh esperava de Abraão (Gn 18.19). Quanto a práticas de feitiçaria, ou bruxaria podemos listar a adivinhação pelos astros, pela leitura de vísceras, pelo vôo dos pássaros etc.

    Também no texto o profeta cita condenações expressas no livro do Deuteronômio, como riqueza excessiva, excesso de armas de guerra (cavalos e carros de guerra), e a idolatria. Mas essa última listagem contém uma informação extremamente interessante, levando em conta como eles estão relacionados - o que inclui os dois motivos de reprovação dos parágrafos anteriores, assim como o que no comentário passado falou-se sobre a profecia pacifista de Isaías. Mas voltando a Deuteronômio, em particular Dt 17.16,17, ali temos algumas prescrições que poderíamos chamar de preambulares para o exercício de um bom governo: 1) não multiplicar cavalos; 2) não multiplicar mulheres; 3) não multiplicar ouro. Essas prescrições preambulares foram todas violadas pelo rei Salomão, o qual imprimiu uma forma de governar que está entre os problemas de Israel. E todas essas coisas estão relacionadas por determinados motivos, envolvendo a cobiça por poder e os males daí decorrentes.

    Então temos nesses versículos o seguinte: 1) o fato de os Israelitas, por influência estrangeira, estar praticando bruxaria; 2) a associação aos filhos de estranhos; 3) a acumulação exorbitante de ouro e prata; 4) se enchendo de cavalos e carros de guerra; 5) a queda na idolatria. Todos esse problemas, na verdade, estão ligados uns aos outros, e disso a própria profecia de Isaías é testemunho, tanto nos capítulos que vão de Is 3-5, a 7-10, nos quais estão listados vários males de Israel e Judá relacionados a esses vícios (e provavelmente a "casa de Jacó" se refira amplamente tanto ao Reino do Norte como ao Reino do Sul), como males que são juízos divinos, mal de pena ou pena corretiva. Assim, as proibições de Deuteronômio tem a sua razão de ser e explicam o estado atual da Casa de Jacó, pois no geral a idolatria e a associação aos filhos de estranhos se explicam em função das alianças políticas na história pragmática dos povos. Pois Israel nunca foi um potência militar que teria a capacidade de dobrar seus vizinhos em definitivo, o que o colocava em certo aperto quando super-potências militares emergiam. O caso de Is 7.1-8, que comentaremos mais adiante, relata a aliança entre Rezin, rei da Síria, com Peca, rei do Reino do Norte (Israel), afim de eles conquistarem o Reino do Sul (Judá), cujo rei era Acaz. Isaías busca alentar o rei Acaz (Is 7.7), dizendo que tal plano iria falhar. Mas quanto à aliança entre o Reino do Norte e outros povos, o caso não é novo: em 1Rs 16.31 o rei Acabe tomou a Jezabel por mulher, sendo esta filha dos Sidônios. Esse costume de casamentos fundados em alianças políticas militares entre nações é uma das razões pelas quais o próprio rei Salomão se casou ou entrou em concubinato com tantas mulheres. Também o fato de Salomão ter sido pervertido pelas suas mulheres à adoração de outros deuses se deu porque tai mulheres que eram dadas em casamento ou concubinato por alianças políticas, eram certamente estrangeiras (como é fato óbvio o caso da filha de Faraó), trazendo a prática da sua religião a Israel - como ocorre no caso entre Acabe e Jezabel -, o que potencialmente acabou por influenciar religiosamente de forma negativa Israel, trazendo a perversão em função dos valores abomináveis de tais deuses estrangeiros.

    Assim, fica claro que alianças políticas são feitas com interesses militares - a pretexto de proteção da nação ou de conquista -, e mesmo a riqueza abundante pode ser explicada com base em espólios de guerra ou mesmo na exploração dos necessitados. Tudo também se relaciona com a idolatria, pois as formas das alianças políticas se davam também pela introdução do culto daqueles com quem os reis se aliançavam, e isso prescindia até mesmo de casamentos arranjados entre as cortes das nações. Mas é também interessante notar que a busca pelo poder temporal também redunda na degradação do homem (וַיִּשְׁפַּל־אִ֑ישׁ), isto é: na forma degradante do culto, na confiança na riqueza e na guerra. Poderíamos estabelecer uma investigação profunda a respeito dos males da idolatria, da guerra e da avareza. Todos esses elementos deformam e aviltam o homem. A idolatria por tornar opaca a dimensão vertical e transcendente para a qual o homem foi feito, eclipsando a realidade de Deus para a sua alma, redunda em destruição da sua humanidade; a avareza por operar uma inversão absurda na consideração das coisas, triturando o reto entendimento e a humanidade do homem, que corrompe a si mesmo em busca de riquezas; e a guerra por causa do exercício brutal da força, levada a cabo pela avareza que não hesita em massacrar os homens, seus bens, famílias e história, em nome da conquista de poder temporal. Todas essas coisas destroem a orientação espiritual do homem, e são contrários aos caminhos de Yahweh, cuja orientação, uma vez acatada por todos, é a eliminação da guerra, e não a sua perpetuação sem sim (Is 2.4).

    Nesse sentido, para esse eclipse da humanidade, "não há perdão". É o que declara o profeta de Yahweh.     

10, 11 - 18:
בֹּ֣וא בַצּ֔וּר וְהִטָּמֵ֖ן בֶּֽעָפָ֑ר מִפְּנֵי֙ פַּ֣חַד יְהוָ֔ה וּמֵהֲדַ֖ר גְּאֹנֹֽו׃
עֵינֵ֞י גַּבְה֤וּת אָדָם֙ שָׁפֵ֔ל וְשַׁ֖ח ר֣וּם אֲנָשִׁ֑ים וְנִשְׂגַּ֧ב יְהוָ֛ה לְבַדֹּ֖ו בַּיֹּ֥ום הַהֽוּא׃ ס
כִּ֣י יֹ֞ום לַיהוָ֧ה צְבָאֹ֛ות עַ֥ל כָּל־גֵּאֶ֖ה וָרָ֑ם וְעַ֖ל כָּל־נִשָּׂ֥א וְשָׁפֵֽל׃
וְעַל֙ כָּל־אַרְזֵ֣י הַלְּבָנֹ֔ון הָרָמִ֖ים וְהַנִּשָּׂאִ֑ים וְעַ֖ל כָּל־אַלּוֹנֵ֥י הַבָּשָֽׁן׃
וְעַ֖ל כָּל־הֶהָרִ֣ים הָרָמִ֑ים וְעַ֖ל כָּל־הַגְּבָעֹ֥ות הַנִּשָּׂאֹֽות׃
וְעַ֖ל כָּל־מִגְדָּ֣ל גָּבֹ֑הַ וְעַ֖ל כָּל־חוֹמָ֥ה בְצוּרָֽה׃
וְעַ֖ל כָּל־אֳנִיֹּ֣ות תַּרְשִׁ֑ישׁ וְעַ֖ל כָּל־שְׂכִיֹּ֥ות הַחֶמְדָּֽה׃
וְשַׁח֙ גַּבְה֣וּת הָאָדָ֔ם וְשָׁפֵ֖ל ר֣וּם אֲנָשִׁ֑ים וְנִשְׂגַּ֧ב יְהוָ֛ה לְבַדֹּ֖ו בַּיֹּ֥ום הַהֽוּא׃
וְהָאֱלִילִ֖ים כָּלִ֥יל יַחֲלֹֽף׃

Entra na rocha e esconde-te no pó, diante do terror da face e do esplendor da sua majestade. Os olhos altivos dos homens serão rebaixados, e a arrogância dos homens terá humilhada. Só Yahweh será o único exaltado naquele dia. Porque o dia de Yahweh Tsevaot, o Senhor dos Exércitos, será contra todo altivo e contra todo aquele que se eleva, para que seja rebaixado; e contra todos os cedros do Líbano que se elevam, e contra todos os carvalhos de Basã; e contra todas as montanhas que se erguem, e contra todas as colinas que se elevam; contra toda torre alta, e contra toda muralha inultrapassável; contra todos os navios de Társis e contra todas as naus de algo desejável. E terá que se humilhar todo orgulho humano e toda altivez dos homens; e Yahweh será exaltado sozinho naquele dia. E os deuses inúteis sumirão completamente.

    A profecia aconselha a fuga. Aqui se instaura o juízo na manifestação do esplendor (מֵהֲדַ֖ר) da majestade ou altivez (גְּאֹנֹֽו) de Yahweh, pois Ele está absolutamente acima de tudo o que se pode e não se pode imaginar. Assim o conselho: Entre na rocha (בֹּ֣וא בַצּ֔וּר = bo' vatsur) e te oculta (וְהִטָּמֵ֖ן = vehitamen) no pó (בֶּֽעָפָ֑ר = be'afar) do terror da face (מִפְּנֵי֙ פַּ֣חַד = mippenê pahad) de Yahweh (יְהוָ֔ה) e do esplendor (וּמֵהֲדַ֖ר = umehadar) da majestade (גְּאֹנֹֽו = ge'ono). Assim, mippeney pahad é construído para designar uma presença no pref. 'mi' que inclui em 'p' um daguesh forte, reforçando a ideia de "presença". A construção de penê (פְּנֵי֙), cuja raiz é 'pnh' e mais especificamente 'pny' que significa face, ou mesmo o ato de se voltar para algum lado. A questão é que 'pny' está no modo constructo, indicando que o sentido de presença se refere à presença de um absoluto que é o 'pahar', ou temor, e mesmo terror. Vemos aqui, portanto, um modo específico da manifestação divina na face terrível de Deus. É assim, nessa face terrível, que o Senhor há de manifestar o esplendor da sua majestade. Então, naquele dia (vs. 11b), o aconselhável é se "esconder da face" se metendo nas cavernas ou nos buracos do chão, pois seu resplendor majestoso e altivo será contra os homens da terra.

    Aqui o profeta anuncia que o esplendor da majestade fará oposição completa contra a o olhar orgulhoso (עֵינֵ֞י גַּבְה֤וּת), e humilhando os que humilham, na manifestação de Yahweh será rebaixado (שָׁפֵ֔ל) arrogância (ר֣וּם) dos homens (אֲנָשִׁ֑ים = 'anashim: homem no sentido masculino e não no sentido de humanidade). Assim, naquele dia (בַּיֹּ֥ום הַהֽוּא) Yahweh será exaltado (וְנִשְׂגַּ֧ב יְהוָ֛ה) sozinho (לְבַדֹּ֖ו).

    O versículo 12 introduz dizendo que Yahweh Tsevaot será contra (עַ֥ל) todo altivo (גֵּאֶ֖ה). E aqui podemos explorar o sentido para implicações mais amplas, pois o adjetivo g'h (גֵּאֶ֖ה) em questão é também aplicado para falar sobre a face majestosa (גְּאֹנֹֽו = ge'ono) de Yahweh. Assim, g'h é um qualificativo neutro, que pode tanto significar altivez como também majestade, sendo o seu constitutivo formal aquilo que caracteriza uma boa ou majestade. Portanto a face terrível e majestosa do Senhor se voltará contra os majestosos, contra os grandes, exercendo a sua justiça vindicativa de forma completa contra eles, pressupondo o pecado por parte deles. Nesse dia Yahweh estará contra aquilo que se eleva (וָרָ֑ם) e contra todo o que se levanta (וְעַ֖ל כָּל־נִשָּׂ֥א) para que seja abatido (וְשָׁפֵֽל) da sua própria altura. Então o oráculo continua: contra os cedros libaneses que se elevam altíssimo, e contra todos os carvalhos de Basã; contra as montanhas elevadas e contra todas as colinas; contra todas as torres altas e contra todas muralhas intransponíveis; contra os navios de Társis, e contra todas as naus com produtos preciosos. O vs. 17 é quase uma cópia do vs. 11, retomando o tema do abatimento do orgulho e da altivez dos homens, assim como a exaltação só do Senhor naquele dia (בַּיֹּ֥ום הַהֽוּא).

    Com relação à lista das coisas a serem abatidas por Yahweh naquele dia, podemos tecer o seguinte comentário: ao se referir aos cederos do Líbano certamente o profeta não se refere aos pecados dos cedros, já que esses não são capazes disso. Mas aqui há de ser levado em conta a noção do valor que tais cedros possuem - como é possível ver ao longo das Escrituras -, indicando tanto a excelência intrínseca deles quanto o que move a consideração dos homens a respeito deles, especialmente no sentido do valor monetário. Certamente que a Ira do Senhor naquele dia será contra também um sistema de valoração dos homens, pois aquilo que eles carnalmente estimam, naquele dia, se revelará em seu real valor, sendo estimado em nada diante das coisas que realmente importam, como a majestade de Deus. Assim, a gloriosa manifestação de Deus abaterá toda consideração humana, pois na revelação da glória divina nada pode ser considerado de elevadíssimo valor senão o próprio Deus. Yahweh é mais elevado do que os altos montes; mas seguro do que as altas torres, e mais firme do que a firmeza das muralhas inultrapassáveis, as quais nada são contra o Seu poder e glória. Da mesma forma, os navios de Társis, conhecidos pela atividade mercante, nada terão de valioso ou belo à vista que sirva para se ombrear ao esplendor terrível da majestade de Yahweh. Tudo virá ao chão, vindo ao chão a soberba do homem, pois ali, para a Casa de Jacó, o Senhor revelará a si mesmo e a sua santidade diante da deformação terrível da alma do seu povo, corrompido com juízos e atos de perversidade.

    Assim considerada a questão podemos entender a conclusão do vs. 18, pois na manifestação do esplendor majestático do Senhor, na afetação das mentes e na destruição de toda esperança e confiança vãs mediante a visão, ou seja, a visão da própria Verdade na face do Senhor, todos os ídolos também ruirão, já que esses dependem do sistema de auto-engano, da mentira que já não encontrará qualquer sustentação naquele dia da manifestação do Senhor. Assim, os deuses inúteis (הָאֱלִילִ֖ים) completamente (כָּלִ֥יל) sumirão (יַחֲלֹֽף).     

19, 20, 21, 22:
                          וּבָ֨אוּ֙ בִּמְעָרֹ֣ות צֻרִ֔ים וּבִמְחִלֹּ֖ות עָפָ֑ר מִפְּנֵ֞י פַּ֤חַד יְהוָה֙ וּמֵהֲדַ֣ר גְּאוֹנֹ֔ו בְּקוּמֹ֖ו לַעֲרֹ֥ץ הָאָֽרֶץ׃ בַּיֹּ֤ום הַהוּא֙ יַשְׁלִ֣יךְ הָאָדָ֔ם אֵת אֱלִילֵ֣י כַסְפֹּ֔ו וְאֵ֖ת אֱלִילֵ֣י זְהָבֹ֑ו אֲשֶׁ֤ר עָֽשׂוּ־לוֹ֙ לְהִֽשְׁתַּחֲוֹ֔ת לַחְפֹּ֥ר פֵּרֹ֖ות וְלָעֲטַלֵּפִֽים׃
 לָבוֹא֙ בְּנִקְרֹ֣ות הַצֻּרִ֔ים וּבִסְעִפֵ֖י הַסְּלָעִ֑ים מִפְּנֵ֞י פַּ֤חַד יְהוָה֙ וּמֵהֲדַ֣ר גְּאוֹנֹ֔ו בְּקוּמֹ֖ו לַעֲרֹ֥ץ הָאָֽרֶץ׃
                   חִדְל֤וּ לָכֶם֙ מִן־הָ֣אָדָ֔ם אֲשֶׁ֥ר נְשָׁמָ֖ה בְּאַפֹּ֑ו כִּֽי־בַמֶּ֥ה נֶחְשָׁ֖ב הֽוּא׃ פ

Então se meterão nas cavernas das rochas e nos buracos da terra ante o terror da face de Yahweh e da glória da sua majestade, quando ele se levantar para aterrorizar a terra. Naquele dia os homens lançarão aos morcegos e musaranhos os seus ídolos de prata e de ouro que fizeram para se rebaixarem; e se meterão nas fendas das rochas e nas grutas dos rochedos ante o terror da face de Yahweh e o esplendor da sua majestade, quando Ele se levantar para aterrorizar a terra. Afastem-se do homem cujo fôlego está no seu nariz. Porque em quê deve ele ser estimado?

    Se no vs. 10 há um conselho, aqui no vs. 19 há uma descrição. Ambos os versículos se assemelham em conteúdo, mas possuem uma forma distinta, como assinalado, Aqui os homens se meterão nas concavidades das rochas e em buracos na terra diante do terror da face de Yahweh e do esplendor de sua majestade. O que se acrescenta de novo é que isso ocorrerá no levantar (בְּקוּמֹ֖ו) do Senhor para estremecer (לַעֲרֹ֥ץ) a terra (הָאָֽרֶץ).

    E o profeta continua no seu tom descritivo: Naquele dia (בַּיֹּ֤ום) os homens lançarão aos morcegos e aos musaranhos (camundongos do oeste asiático) seus ídolos de prata e ouro, os quais os homens, para a vergonha (לַחְפֹּ֥ר) eles fizeram para se prostrarem (לְהִֽשְׁתַּחֲוֹ֔ת). Assim, eles se meterão (לָבוֹא֙) nas fendas (בְּנִקְרֹ֣ות) das rochas (הַצֻּרִ֔ים) e nas grutas (וּבִסְעִפֵ֖י) dos rochedos (הַסְּלָעִ֑ים) diante da face terrível de Yahweh (מִפְּנֵ֞י פַּ֤חַד יְהוָה֙). Assim, aquilo que poderia ser objeto de confiança dos homens, seus ídolos inúteis, serão reduzidos a pó, e sua dignidade será semelhante à dignidade dos morcegos e "camundongos", soterrados frente à glória de Deus. Nada restará de elevado para além da sua própria medida, no dia em que Deus se levantar para estremecer a terra e expurga-la de toda a sua mentira.

    Assim, se o homem assim fará, recebendo oposição frontal daquele que é eterno, porque ainda deitaríamos a nossa confiança eterna nos homens? Nesse sentido o profeta conclama: Afastai-vos (חִדְל֤וּ לָכֶם֙), que nos hebraico também tem o sentido de parai! Assim: Afastaivos do homem (מִן־הָ֣אָדָ֔ם), ou poderíamos também considerar a seguinte tradução: Parem de confiar em homens! E esse é dotado da mortalidade, pois assim é se saca um atributo do homem: cujo (אֲשֶׁ֥ר) fôlego (נְשָׁמָ֖ה) está no nariz (בְּאַפֹּ֑ו). Assim, se Yahweh, cuja manifestação é capaz de abater tudo o que é alto e que é capaz de reduzir tudo o que o homem tem por estimado a pó, é o único exaltado naquele dia, segue-se que a reserva e ceticismo em relação aos homens e seus juízos é algo que, para além de prudente, justificado. Assim, Yahweh Tsevaot, o Senhor dos Exércitos, é Deus Plenipotente, e o homem é o transitório cujo fôlego está em seu nariz. E assim o profeta conclui: Porque em que (כִּֽי־בַמֶּ֥ה) ele (הֽוּא) é tido, considerado ou estimado (נֶחְשָׁ֖ב)?

    O texto em questão tem todo o sabor da profecia de juízo e, consequentemente, da oposição de Deus aos feitos humanos. Aqui a profecia se volta obviamente contra a casa de Israel e seus descaminhos aviltantes contra os homens. Yahweh assinala os vários pecados e a subversão do seu povo: avareza, violência e idolatria. E todas essas coisas estão devotadas à destruição de Deus.     Deus, por tanto, manifesta a sua altivez contra a altivez humana, opõe a sua grandeza àquilo que os homens consideram grandes, sua força àquilo que os homens consideram firmes, e sua verdade contra aquilo que os homens consideram objeto de confiança. Trata-se de uma oposição ao juízo perturbado da casa de Israel pelo qual eles sustentam a sua própria maldade. Assim, Deus promete a aniquilação da falsa confiança a que leva esse juízo perturbado, ou seja, promete a destruição da idolatria.

    Mas se podemos destacar algo nesse texto é o fato profundamente interessante que assinala que a gloriosa e terrível manifestação de Deus é, ao mesmo tempo, a queda de toda falsa confiança, seja na guerra, nos tesouros ou naqueles falsos deuses. Ou poderíamos colocar as coisas de forma mais clara: a manifestação gloriosa de Deus é, ao mesmo tempo, a queda de toda idolatria.  

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