sexta-feira, 10 de setembro de 2021

O Marxismo Maoísta e o Problema dos Princípios

    Essas frases abaixo mostram que o defeito fundamental do marxismo-leninismo é um problema de princípios. A primeira citação, perturbadora por todas as consequências a que seus princípios levam, evidencia aquilo que chamamos de problemas dos "meios". Os problemas relativos aos meios é que os fins não justificam tudo, nem a busca pelo melhor dos mundos justifica todos os meios possíveis para se chegar lá, incluindo a matança.

    Estas frases perturbadoras foram escritas por Mao Tsé Tung, o ditador comunista:
1) "Todos os comunistas devem compreender a seguinte verdade: "O poder político nasce do fuzil"" (Problemas da Guerra e da Estratégia - 6 novembro de 1938)*
2) "A tarefa central e a forma suprema da revolução é a conquista do poder político pelas armas, é a solução desse problema pela guerra" [...] (Ibidem)*
3) "Do ponto de vista da teoria marxista sobre o Estado, o exército é o principal componente do poder de Estado. Todo aquele que quiser conquistar e manter o poder de Estado deve possuir um forte exército". (Ibidem)*
4) "Nós somos partidários da abolição da guerra; nós não queremos a guerra. A guerra, porém, só pode abolir-se por meio da guerra. Para acabar com as armas há que pegar em armas". (Ibidem)*
    O problema da 1ª frase é a sugestão de que a violência ou a ameaça constituem a razão da ordem política. Não é diferente você assumir que a comunidade política é formada por porcos os quais se conduzem a varadas. No caso do Mao Tsé-Tung isso não está longe da verdade em função da matança que ele perpetrou ao próprio povo. Em retórica, poderíamos classificar o discurso político do ditador como "argumentum ad baculum", ou a tentativa de persuasão com base na ameaça de paulada.
    A questão é que se o fim da ação política visa a liberdade, obviamente que o poder político não pode ter sua origem na ponta do fuzil, mas sim em uma noção compartilhada de ordem a qual nasce daquilo que em nos é o mais humano: a razão, e é a razão o fundamento da liberdade; pois mesmo quando a violência é usada para a manutenção da paz política - e isso não se ignora -, a razão se interpõe como o princípio que incoa o movimento em direção à liberdade, mesmo que para isso nos utilizemos dos vários meios disponíveis que não contrastam com a justa ordem dos meios.
    Isso vai de encontro à noção perturbada dos adoradores da guerra, independentemente do espectro político em que habitam. Pois o problema não é lado político, mas sim os princípios que encarnam. E perceber isso é importante para deitarmos abaixo os reducionismos da nossa época que enxergam o mal apenas em sentido geográfico: quem senta daquele lado é bom; quem está aqui é mal.
Se não atentarmos aos problemas dos princípios, seremos engolfados pelas deformações que caracterizam a nossa época.
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[*]Citações tiradas do "O Livro Vermelho: Citações do Comandante Mao Tsé-Tung".

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