sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Eric Voegelin, os Movimentos de Massa e a Segunda Realidade

    Tem uma reflexão interessante de Eric Voegelin (aquele que ocupou a cátedra de Max Weber após a Segunda Guerra) em "Hitler e os Alemães" onde ele se detém justamente sobre a questão da "migração para a segunda realidade" usando o conceito de Pascal de "diversionismo" (divertissement), pegando Dom Quixote para explicar a questão. O argumento é simples e de fácil apreensão, mas muito profundo.

    Dom Quixote foi alguém que tinha certo saudosismo da época da cavalaria, pois vivia em uma época, no fim da idade-média, onde essa instituição já era decadente. Explicando de forma muito superficial Dom Quixote era aficcionado com as histórias fantásticas de cavalaria e lutava com moinhos de vento achando que eram dragões etc. A graça é que ele começa a angariar certos seguidores e até chega a ter entrada no mundo palaciano (na alta esfera de poder).
    A questão começa a ficar séria quando alguns começam a levá-lo a sério, e o que era um diversionismo meio bizarro passa a se cristalizar na mente de certas pessoas como ideia séria. Grosso modo Eric Voegelin diz que a partir daí o que se dá é aquele descolamento do mundo e uma migração para uma segunda realidade, onde a brincadeira passa para a disposição homicida.
    Muito dos movimentos de massa tem essa característica, e o diversionismo nada mais é do que aquela disposição que passa a cristalizar ideias que antes até pareciam loucura ou motivo de piada para quem estava de fora, ou de mera diversão para os de dentro. O problema é quando certas idéias adquirem o contorno de problemas existenciais.
    Grande parte do nosso país está imerso em uma certa narrativa política a qual não conhece direito, esposando certas idéias sem pensar em suas consequências, e isso a ponto de se dispor a matar. Esse diversionismo assassino faz parte de uma longa propagação de mentiras, e a Pandemia já nos mostrou o quão longe isso pode ir.
    Como o feiticeiro, muita gente está conjurando forças que desconhecem, sonhando com certo paraíso construído por meios que só podem conduzir ao pesadelo. E sim, nesses últimos anos desde 2013, nunca a feitiçaria política esteve tão em uso quanto nesses últimos dias, pois toda feitiçaria está calcada nessa migração para uma segunda realidade.

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