quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A Autodepreciação é Pecado

    Uma das vantagens de conhecer teologia é que há certa libertação quando estudamos alguns atributos de Deus. Sim, o conhecimento de Deus não é inócuo, já que, se bem aproveitado, é possível pela teologia corrigir hábitos mentais viciosos a exemplo do vício da autodepreciação.

    A autodepreciação não é a inculpação justa do penitente que confessa seu pecado - pois quem faz isso se ama -, antes é o vício pelo qual o homem nutre ódio a si mesmo, das suas capacidades, como um dessabor amargo pela vida. Tudo isso entendemos por dedução, tendo o Ser de Deus considerado como tela de fundo, projetando a realidade de suas perfeições sobre a atitude do homem que busca a demolição de si mesmo.

    Entendamos: Deus é aquele único que é capaz por si mesmo de amar plenamente o homem. Também, sendo Deus amor, não pode amar qualquer coisa mais do que a si mesmo (pois Deus é pleno de todas as perfeições), e ama a Si mesmo absolutamente unicamente porque quer seu Ser absolutamente - nada pode querer a si mesmo mais do que Deus quer seu Ser. Portanto Deus ama, e sendo o mais pleno no amor aos outros, é também ao mesmo tempo o mais pleno no amor a si mesmo.

    Mesmo que pelo ângulo da humanidade isso não ocorra de forma idêntica, ocorre de forma semelhante: o homem só não quer seu ser atual pecaminoso porque realmente ama a si mesmo amando a Deus. Mas o amor a si mesmo é pressuposto quando o homem ama corretamente, não querendo seu pecado; se lhe é repulsivo o seu ser atual pecaminoso, em sua repulsa quer para si um bem maior, amando verdadeiramente, ou quer na sua vontade pecaminosa a própria destruição - desejando para si a redução ao nada, ou seja, o mal.

    Contudo, quando ama corretamente o homem também se ama, e só por um perfeito amor a si é que ele também é capaz de amar seu próximo, tendo como medida de perfeição de seus atos de amor a Deus. Não há quem ame seu próximo que também não ame a si mesmo, pois se ama um homem como seu igual não pode ama-lo se também não ter amor por si. Quem conscientemente odeia a Deus, odeia também todas as coisas; quem a si mesmo se odeia, odeia o homem a quem deve amar - pois todos somos os mais próximos de nós mesmos.

    Quem não ama a si não está apto também para nenhum amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário