sexta-feira, 15 de outubro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonathan Edwards: 3ª Resolução

3ª Resolução: Resolvi que se eu cair e me tornar insensível, de forma a negligenciar qualquer parte destas Resoluções, arrepender-me-ei de todas as coisas das quais puder me lembrar quando recobrar a lucidez.

    Esta terceira resolução possui tanto uma confissão de falta quanto uma confissão de esperança, coisas essas que podemos usar aqui de ocasião para traçar duas características fundamentais da vida do homem considerado no contexto da fé.

    A primeira características fundamental da vida do homem considerado à luz da fé expressa pela primeira confissão diz respeito à possibilidade da queda na insensibilidade e na negligência. Tal possibilidade espreita o horizonte de considerações que Jonathan Edwards faz sobre si mesmo. Essa possibilidade de cair é inerente à nossa natureza em função da defecção (defeito da natureza) contraída pela humanidade na Queda adâmica. Percebamos a extrema relevância dessa consideração: toda caminhada espiritual visa tanto a incondicionalidade do mandamento divino quanto o nosso empenho em estar à altura do mandamento. Quando, porém, olhamos para a incondicionalidade do mandamento, incondicionalidade que não faz concessões, e consideramos a nós mesmos pelo ângulo da nossa pecaminosidade, vemos a distância infinita que nos separa da observância total do mandamento divino. Vemos em nós certo estado atual de defecção que nos impede amar tanto a Deus como o nosso próximo com todas as nossas forças. Somos tomados pela exclamação do Apóstolo: quem poderá me livrar desse corpo de morte? (Rm 7.24).

    A sensibilidade apresentada nessa 3ª resolução a respeito da defecção que nos impede de sermos perfeitos é importante, pois demonstra a humildade do homem que conhece a si mesmo. Quando temos consciência dos limites que nos indicam tanto o que podemos quanto o que não podemos, já avançamos muito em nossa vida espiritual, pois nisto já alcançamos certa verdade. Também esse tipo de consciência nos livra da arrogância ao tratarmos os pecados e defecções do nosso próximo, indicando, sobretudo, o caminho da paciência, longanimidade e da compaixão, pois também, por causa do nosso pecado, precisamos de que tenha por nós paciência, longanimidade e compaixão.

    A segunda características fundamental da vida do homem considerado à luz da fé expressa uma razão de esperança, e esta só pode ser visualizada a partir da graça. Falamos da possibilidade da conversão e arrependimento, possibilidade cuja realidade é algo criado por Deus, não tendo origem de forma alguma na natureza humana. Entendemos: o homem em queda está destituído da glória e é carente de qualquer poder para se voltar para Deus, já que sua natureza e sua vontade são viciadas e caídas. Contudo é só a intervenção e a regeneração divina operada em nós que pode nos conceder homem arrependimento e mudança de mente, a μετανοια (metanóia = mudança de mente) pela qual recobramos a razão para nos voltarmos a Deus.

    Que o arrependimento é dom de Deus, disso testemunha a Escritura: Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (Ef 2.8); Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus, por meio do nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem obtivemos pleno acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmados, e nos gloriamos na confiança plena da glória de Deus (Rm 5.1,2); Portanto, se Deus lhes concedeu o mesmo Dom que dera igualmente a nós, ao crermos no Senhor Jesus Cristo, quem era eu, para pensar em contrariar a Deus?” Diante do que fora exposto, ninguém apresentou qualquer outra objeção e passaram a glorificar a Deus, exclamando: “Sendo assim, Deus concedeu até mesmo aos gentios o arrependimento para a vida! (At 11.17,18).

    O que podemos apreender aqui é que a tensão entre a consciência de pecado e a graça redentora que nos conduz ao arrependimento e à salvação, constituem a nossa caminhada cristã. A graça nos abre um caminho em direção ao paraíso, nos concede mesmo vislumbres de raios fulgurantes dessa eternidade, e tudo isso no contexto da consciência da nossa defecção, defecção essa contra a qual Deus nos concede poder para lutarmos contra o pecado e corrermos em direção à santidade. Assim, mesmo que nos tornemos insensíveis durante o caminho, Deus é poderoso para nos conduzir ao arrependimento, e é unicamente pelo arrependimento - graça de Deus - que temos acesso à concretização em nós da benção da salvação.

    Assim entendemos que esta resolução nada é sem a luz da graça.

    Oremos sempre para que o Senhor derrame sobre nós arrependimento, sensibilidade e graça.

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