quarta-feira, 13 de outubro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonathan Edwards: 1ª Resolução

    Começo uma série de 70 reflexões breves sobre as 70 firmes resoluções e Jonathan Edwards. A intenção é retirar desse patrimônio espiritual certos ensinos sobre a piedade cristã, buscando uma confrontação dessas resoluções com o texto da Escritura da Sagrada, que é o patrimônio dos patrimônios da nossa espiritualidade.

Seguem as resoluções:

1ª Resolução: Resolvi que farei tudo o que considerar ser mais importante para a glória de Deus e para o meu bem, ganho e prazer, por todo tempo que eu viver, sem levar em conta quando, quer seja agora ou num mundo futuro muito distante. Resolvi fazer tudo que eu pensar ser o meu dever, principalmente para o bem e proveito da humanidade em geral. Resolvi fazer isso, sejam quais forem as dificuldades que eu encontre, ainda que muitas e grandes.

    Edwards segue em sua reflexão a premissa de um dos famosos 5 Solas da Reforma, Sola esse acrescido pela Tradição Reformada, um pressuposto básico da reflexão teológica dessa vertente e que se constitui na seguinte ideia: a causa final de toda obra divina é a manifestação da sua própria glória. O Sola em específico é o Soli Deo Gloria. Tendo isso em vista a reta, a reta compreensão a respeito da ação visada por todo cristão é que os seus atos promovam a glória de Deus. Por assim dizer a causa final que move a ação de todo cristão, o fim último amado, é a glória de Deus e o seu agrado. Aqui está o bem do cristão, aqui é modulado o verdadeiro prazer do homem e aqui está todo o seu ganho possível.

    Aquele que glorifica a Deus é também glorificado em Deus. Diz a Escritura: Quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que crêem (2Ts 1.10). Esse é um desejo expresso por Deus: ser glorificado; Aqui na resolução está expresso outro desejo: glorificar a Deus. As vontades se encontram em uma unidade de propósito, e quem segue a resolução se dispõe a levar até ao fim o propósito sem levar em conta quando, quer seja agora ou num mundo futuro muito distante.

    Também na resolução se afirma: Resolvi fazer tudo que eu pensar ser o meu dever, principalmente para o bem e proveito da humanidade em geral. O propósito parece excessivo demais; contudo o que deve ser posto em mente é que o cuidado de si é de proveito para o homem, tal como a sabedoria do homem que o faz acertar em seus caminhos é de proveito geral para todos os homens. Um homem decente, bom pai ou mãe, cumpridor dos seus deveres, piedoso e temente a Deus pode fornecer um paradigma pelo qual o caminho da elevação da vida do seu próximo é indicado. Não há paradoxo algum na afirmação de que cuidar de si é também cuidar do próximo. E se levarmos em consideração o duplo preceito que é Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Lc 10.27), descobrimos que o amor ao próximo passa pelo amor de si (e não é possível amar se não conhecemos em nós mesmos o amor). Deus ama perfeitamente porque ele é amor. Só o homem que cuida de si tem capacidade de cuidar do próximo - sendo aquele que assim procede alguém de proveito para a humanidade em geral.

     E a última parte da resolução: Resolvi fazer isso, sejam quais forem as dificuldades que eu encontre, ainda que muitas e grandes. Grandes são as dificuldades para amar a Deus, a si e ao próximo, já que não podemos pôr nossa defecção no olvido. Mas ainda assim a tensão da busca sincera, tensão que fica a meio caminho entre a falha e a perfeição, tensão da busca pela perfeição, tem validade. Aqui se reafirma a incondicionalidade da resolução, pois há também uma incondicionalidade de preceito: Assim sendo, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está nos céus. (Mt 5.48). O preceito não pode ser mais, e não pode ser menos, exigindo a perfeição incondicional em todos os momentos, em todos os lugares, não importando as dificuldades. Contudo em meio a tudo olhamos para a nossa natureza quando falhamos na execução do preceito, e é por isso que em meio a tentativa, é imperioso lembrar da graça pela qual o homem é salvo, e sem a qual não há possibilidade de salvação - lembrança que carrega todos os motivos para a vida grata, confiante e que se aplica à busca da manifestação, em atos e pensamentos, do perfeito amor.

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