quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Comentário de Isaías 3.16-4.1: (בְּנֹ֣ות צִיֹּ֔ון) O juízo sobre as filhas de Sião

Texto de Isaías 3.16-4.1:

16 וַיֹּ֣אמֶר יְהוָ֗ה יַעַן כִּ֤י גָֽבְהוּ֙ בְּנֹ֣ות צִיֹּ֔ון וַתֵּלַ֨כְנָה֙ נְטוּוֹת נְטוּיֹ֣ות גָּרֹ֔ון וּֽמְשַׂקְּרֹ֖ות עֵינָ֑יִם הָלֹ֤וךְ וְטָפֹף֙ תֵּלַ֔כְנָה וּבְרַגְלֵיהֶ֖ם תְּעַכַּֽסְנָה׃
17 וְשִׂפַּ֣ח אֲדֹנָ֔י קָדְקֹ֖ד בְּנֹ֣ות צִיֹּ֑ון וַיהוָ֖ה פָּתְהֵ֥ן יְעָרֶֽה׃ ס
18 בַּיֹּ֨ום הַה֜וּא יָסִ֣יר אֲדֹנָ֗י אֵ֣ת תִּפְאֶ֧רֶת הָעֲכָסִ֛ים וְהַשְּׁבִיסִ֖ים וְהַשַּׂהֲרֹנִֽים׃
19 הַנְּטִיפֹ֥ות וְהַשֵּׁירֹ֖ות וְהָֽרְעָלֹֽות׃
20 הַפְּאֵרִ֤ים וְהַצְּעָדוֹת֙ וְהַקִּשֻּׁרִ֔ים וּבָתֵּ֥י הַנֶּ֖פֶשׁ וְהַלְּחָשִֽׁים׃
21 הַטַּבָּעֹ֖ות וְנִזְמֵ֥י הָאָֽף׃
22 הַמַּֽחֲלָצוֹת֙ וְהַמַּ֣עֲטָפֹ֔ות וְהַמִּטְפָּחֹ֖ות וְהָחֲרִיטִֽים׃
23 וְהַגִּלְיֹנִים֙ וְהַסְּדִינִ֔ים וְהַצְּנִיפֹ֖ות וְהָרְדִידִֽים׃
24 וְהָיָה֩ תַ֨חַת בֹּ֜שֶׂם מַ֣ק יִֽהְיֶ֗ה וְתַ֨חַת חֲגוֹרָ֤ה נִקְפָּה֙ וְתַ֨חַת מַעֲשֶׂ֤ה מִקְשֶׁה֙ קָרְחָ֔ה וְתַ֥חַת פְּתִיגִ֖יל מַחֲגֹ֣רֶת שָׂ֑ק כִּי־תַ֖חַת יֹֽפִי׃
25 מְתַ֖יִךְ בַּחֶ֣רֶב יִפֹּ֑לוּ וּגְבוּרָתֵ֖ךְ בַּמִּלְחָמָֽה׃
26 וְאָנ֥וּ וְאָבְל֖וּ פְּתָחֶ֑יהָ וְנִקָּ֖תָה לָאָ֥רֶץ תֵּשֵֽׁב׃
4.1 וְהֶחֱזִיקוּ֩ שֶׁ֨בַע נָשִׁ֜ים בְּאִ֣ישׁ אֶחָ֗ד בַּיֹּ֤ום הַהוּא֙ לֵאמֹ֔ר לַחְמֵ֣נוּ נֹאכֵ֔ל וְשִׂמְלָתֵ֖נוּ נִלְבָּ֑שׁ רַ֗ק יִקָּרֵ֤א שִׁמְךָ֙ עָלֵ֔ינוּ אֱסֹ֖ף חֶרְפָּתֵֽנוּ׃ ס

Tradução e Comentário:

16, 17)

וַיֹּ֣אמֶר יְהוָ֗ה יַעַן כִּ֤י גָֽבְהוּ֙ בְּנֹ֣ות צִיֹּ֔ון וַתֵּלַ֨כְנָה֙ נְטוּוֹת נְטוּיֹ֣ות גָּרֹ֔ון וּֽמְשַׂקְּרֹ֖ות עֵינָ֑יִם הָלֹ֤וךְ וְטָפֹף֙ תֵּלַ֔כְנָה וּבְרַגְלֵיהֶ֖ם תְּעַכַּֽסְנָה׃
וְשִׂפַּ֣ח אֲדֹנָ֔י קָדְקֹ֖ד בְּנֹ֣ות צִיֹּ֑ון וַיהוָ֖ה פָּתְהֵ֥ן יְעָרֶֽה׃ ס

    E disse YHWH: Visto que são altivas as filhas de Sião são altivas e andam com o pescoço esticado, lançando um olhar sedutor, andando a passos curtos, fazendo tintilar os adereços de seus pés, o Senhor tornará em sarna a cabeça das filhas de Sião e exporá a sua nudez.

    O bloco textual em pauta forma um só texto que se estende do cap. nº2 até aqui, perfazendo todo um discurso, e há razões sobejas para pensarmos assim, como veremos mais adiante. Em 2.1-5 temos o anúncio da futura Jerusalém paradigmática cujo templo é procurado por todas as nações. De 2.6-3.15 temos tanto a descrição da corrupção do Reino do Sul quanto de Jerusalém e o juízo de 'adon - uma variante de 'adonay (אֲדֹנָ֔י) - contra o povo em geral e aos chefes do povo e anciãos em específico. Aqui, contudo, estamos diante de um juízo especificamente voltado para as mulheres, ou as filhas de Sião (בְּנֹ֣ות צִיֹּ֔ון). Esse tipo de profecia no Antigo Testamento constitui todo um gênero a parte, devendo ser considerado de forma particular - algo importante, mas que foge ao propósito deste texto.

    Nos versículos em questão o profeta apresenta os dizeres de YHWH, onde temos a descrição de duas situações: 1) A forma de vida rebelada e vazia das filhas de Sião e 2) o juízo concomitante a essa forma fútil de viver. Isaías é um tanto quanto descritivo nessa parte do texto e fala: 1) do pescoço emproado, 2) do olhar sedutor, 3) dos passos curtos, 4) e do andar cascavelante que faz tinir os adereços dos pés dessas mulheres. Obviamente a intenção do profeta é expor o modo de vida vazio das filhas de Sião, assim como o lado fescenino delas. Isaías está, desde o cap 2.6ss, às voltas com a degradação espiritual de Jerusalém e chega em uma esfera de questões que é existencialmente delicada, mas tremendamente importante. O fato de ser possível predicar esses atos das filhas de Sião, das filhas da capital do país, da nação que YHWH escolheu para ter ali seu olhos, só indica quão pouco apelo havia uma vida no espírito à época, o que explica o surgimento dessa classe de pessoas. Estamos falando de uma corrosão na vida no espírito na nação de Deus. O paradigma dos povos agora estava afogado no vazio e o sinal disso é a insolência das filhas de Sião. Mas a vocação da nação como um todo tem o seu peso e de YHWH pode se esperar a devida retaliação.

    Deus se vingará da insolência das filhas de Sião e tornará em sarna (וְשִׂפַּ֣ח) o topo da cabeça (קָדְקֹ֖ד) delas e exporá a nudez das mesmas. O fato de Isaías mencionar que tal ação será causada por אֲדֹנָ֔י indica a ligação com o textos anteriores que falam da injustiça dos anciãos e dos príncipes de Israel, quanto de um tipo de manifestação de Deus na imposição de um juízo. Estamos, digamos, no contexto um vazio espiritual que permite o livre curso sem freios da injustiça, algo que é tangível em face do comportamento vão e da importância desmensurada que se dá à futilidade. Desde o cap. 2.6ss há uma devassa geral em Israel feita pelo Senhor, e certamente com isso se visa confrontar o espírito torcido do povo que tem nas filhas de Sião um símbolo da corrosão. O juízo de אֲדֹנָ֔י não é sem um porquê, ele atinge um objeto de vaidade das mulheres que é sua beleza física, um ponto sensível no universo da feminilidade, tal como a potência e a honra são pontos sensíveis para o homem. Podemos conjecturar que a torção do espírito ocorre quando elementos supérfluos se tornam fins, guardando por trás desejos viciosos como a vontade de alimentação desproporcional da vaidade a ponto de cegar a pessoa para o que realmente importa. Todas essas predicações até caricatas que Isaías faz das filhas de Sião demonstra certa falta de grandeza por parte delas, e não uma condenação peremptória de certa vontade honesta e aceitável de beleza. O alvo da condenação, no fundo, é certa futilidade, assim como certo comportamento luxurioso nutrido em um campo que se tornou fértil para a prática da injustiça. Trata-se de um comportamento corrupto e corruptor por parte dessas mulheres, pois destrói todos os fins honestos alcançados por uma alma unida a Deus. Elas não apenas se desviam, como também desviam. Ao provocar um juízo contra a vaidade feminina atrofiada, Deus acaba por destruir um ídolo. E em relação à exposição da nudez, poderíamos indicar um juízo direto contra a sensualidade corrompida, quando Deus concede às filhas de Sião a exposição que elas, em seu coração atrevido, no fundo quiseram para si. 

18, 19 - 24)

בַּיֹּ֨ום הַה֜וּא יָסִ֣יר אֲדֹנָ֗י אֵ֣ת תִּפְאֶ֧רֶת הָעֲכָסִ֛ים וְהַשְּׁבִיסִ֖ים וְהַשַּׂהֲרֹנִֽים׃
הַנְּטִיפֹ֥ות וְהַשֵּׁירֹ֖ות וְהָֽרְעָלֹֽות׃
הַפְּאֵרִ֤ים וְהַצְּעָדוֹת֙ וְהַקִּשֻּׁרִ֔ים וּבָתֵּ֥י הַנֶּ֖פֶשׁ וְהַלְּחָשִֽׁים׃
הַטַּבָּעֹ֖ות וְנִזְמֵ֥י הָאָֽף׃
הַמַּֽחֲלָצוֹת֙ וְהַמַּ֣עֲטָפֹ֔ות וְהַמִּטְפָּחֹ֖ות וְהָחֲרִיטִֽים׃
וְהַגִּלְיֹנִים֙ וְהַסְּדִינִ֔ים וְהַצְּנִיפֹ֖ות וְהָרְדִידִֽים׃
וְהָיָה֩ תַ֨חַת בֹּ֜שֶׂם מַ֣ק יִֽהְיֶ֗ה וְתַ֨חַת חֲגוֹרָ֤ה נִקְפָּה֙ וְתַ֨חַת מַעֲשֶׂ֤ה מִקְשֶׁה֙ קָרְחָ֔ה וְתַ֥חַת פְּתִיגִ֖יל מַחֲגֹ֣רֶת שָׂ֑ק כִּי־תַ֖חַת יֹֽפִי׃

    Naquele dia Adonay removerá o esplendor dos anéis de tornozelo, as testeiras, as luetas, os brincos, os braceletes, os véus, os ornamentos, as enfeites para os tornozelos, as fitas, as caixas de perfumes, os amuletos enconchados, anéis de sinete, os pendentes de nariz, as vestes de luxo, os mantos, bolsas, vestes de papiro, roupas de linho, turbantes e mantilhas. E será que em lugar de balsamo haverá podridão; em lugar de cinto, corda; em lugar de encrespadura, calvice; em lugar de veste fina, cinta de cilício; em lugar de beleza, queimadura.

    A quebra da idolatria é visível aqui nos vs.18-4.1, pois ainda se referindo ao dia de juízo o profeta diz que naquele dia 'adonay (אֲדֹנָ֗י) removerá (יָסִ֣יר) o esplendor (תִּפְאֶ֧רֶת) tanto de adereços, brincos, roupas, mantas perfumes etc. Há várias considerações possíveis a serem feitas aqui: 1) Ao dizer que אֲדֹנָ֗י tira o esplendor dessas coisas podemos nos remeter ao cap. 2.6-22 onde se diz que naquele dia (בַּיֹּ֨ום הַה֜וּא) só YHWH seria exaltado, fazendo oposição a tudo o que se eleva. Certamente que estes adereços podem ser objeto de desejo, se tornando também certo elemento de ostentação dessas mulheres. Nada contra isso, mas do que valem diante de um coração vazio? Não se trata apenas de uma cosmética do engano; uma maquiagem para esconder o mal? Obviamente que nada disso pode escapar do fulgor da glória divina que conduz todo engano em direção ao pó. Obviamente que não há disputa entre Deus e os adereços, mas tais acessórios podem ser desviantes, ocultando a verdade e dando razão à tolice. Por um lado, no contexto da maldade, tais coisas ganham certa importância que não tem. O que fazer diante disso? Eis a resposta: Deus retirará o esplendor de todas as coisas que ganham certa consideração desmensurada, ocultando a injustiça e a maldade do coração, e estabelecerá a visão da verdadeira glória para o bem do homem, fazendo as escamas da cegueira caírem diante da tentativa de camuflagem da verdade.

    O Juízo de אֲדֹנָ֗י aqui segue o mesmo esquema do vs. 17, atacando o sustentáculo da vaidade enganosa: em lugar de balsamo haverá podridão; em lugar de cinto, corda; em lugar de encrespadura, calvice; em lugar de veste fina, cinta de cilício; em lugar de beleza, queimadura. Todo objeto usado para a camuflagem da verdade ganha uma certa subversão. O aroma agradável vira mal cheiro, os cabelos encaracolados dão lugar à calvice, a veste festiva cede seu lugar para roupas penitenciais e a beleza dá lugar à deformação. Toda superfluidade desaparece, restando uma condição de vida radical. Ao que parece, os tempos de bonança deram lugar ao tempo da guerra onde o que se contempla é a carestia, naquele tipo de dificuldade onde o homem e a mulher se encontram com a sua própria verdade, pois embora não seja uma regra absoluta é verdade que a felicidade infantiliza e o sofrimento humaniza, e a dureza do juízo só mostra que em seu zelo YHWH, mesmo não sendo injusto, pode nos conduzir ao bem, de forma radical, aqueles a quem ama - até mesmo as filhas de Sião.

É importante fazer certa consideração aqui. Quanto à questão da vaidade e de certo desejo de beleza, podemos dizer que mesmo não sendo necessários, nada aqui há de absolutamente proibitivo. Nada há no Antigo Testamento ou no Novo Testamento que sugiram uma condenação radical de perfumes, adereços etc. Mas sim, é obvio que o bom senso clama uma certa medida que impede o desequilíbrio e a morbidade. Como deve restar óbvio, um extremo está na condenação todas essas coisas, exigindo uma abstinência proibitiva que vê com desconfiança qualquer beleza, a alegria na excitação benéfica com bons cheiros, sabores etc., regozijo com a beleza das cores etc. O outro extremo, porém, está no uso desviante desse tipo de coisa, tanto no abuso que visa a sensualidade ilícita, como no exagero que mirando a beleza atinge a deformidade. No primeiro caso o constitutivo formal, a intencionalidade do uso, está viciada desde a raiz, já que o que se visa no uso é certo objeto angariado mediante fraude e engano; no segundo caso o que se consegue é a deformação da beleza conatural à pessoa através do abuso.

    Também é importante notar que uma das coisas que nos caracteriza como pessoas está em que o nosso desejo se estende para além daquilo que é meramente útil. Questões estéticas estão arraigadas em nossa natureza porque não somos simples máquinas devotadas ao cumprimento de certas funções. O prazer com os cheiros, com o paladar, cores e mesmo com o tato também constitui a nossa humanidade, e por isso considerações relativas ao gosto também importam, não podendo ser negligenciadas naquilo que nós somos sem a consequente violência contra nossa natureza. Não comemos apenas para saciar a fome, mas queremos o sabor das coisas; não queremos apenas trabalhar, mas sermos felizes no nosso trabalho; não queremos apenas respirar, mas nos sentimos felizes com o bom perfume; não queremos uma casa apenas para dormir, mas queremos habitar em um lar e embelezamos o nosso espaço para nos deleitarmos nele. Esse mais constitui a nossa humanidade, e toda a transgressão radical contra os sentidos pelos quais experimentamos essas coisas é vista como uma agressão à nossa humanidade. O desleixo, o descuido com a higiene ou a falta de asseio são vistos como coisa agressiva a todos nós; uma casa deliberadamente abandonada, descuidada e aos pedaços experimentamos como hostil; o mau-cheiro nos repugna, e a exposição constante à feiura deliberada nos diminui. Obviamente que todas essas coisas podem nos sobrevir em razão da injustiça perpetrada por outros, nos forçando à diminuição. Mas aqui a culpa não está em nós, pois não somos a razão desse estado de coisas. Também mesmo quando a arte moderna quando se desgrudou da beleza para valorizar o escatológico e a feiura, ganhou caracteres transgressores. Certamente que a alternativa à atitude das filhas de Sião não é a sujeira e nem mesmo a grosseria, mas sim um coração devotado ao bem, à justiça e às coisas que realmente importam, dando medida às coisas que, na corrupção do coração, podem vir a ser fruídas não em razão do uso, mas sim de abuso - seja na ostentação das vestes, no abuso dos cheiros e seu uso desviante etc. Como diz um ditado: o abuso não condena o uso.

25, 26, 4.1)

מְתַ֖יִךְ בַּחֶ֣רֶב יִפֹּ֑לוּ וּגְבוּרָתֵ֖ךְ בַּמִּלְחָמָֽה׃
וְאָנ֥וּ וְאָבְל֖וּ פְּתָחֶ֑יהָ וְנִקָּ֖תָה לָאָ֥רֶץ תֵּשֵֽׁב׃
וְהֶחֱזִיקוּ֩ שֶׁ֨בַע נָשִׁ֜ים בְּאִ֣ישׁ אֶחָ֗ד בַּיֹּ֤ום הַהוּא֙ לֵאמֹ֔ר לַחְמֵ֣נוּ נֹאכֵ֔ל וְשִׂמְלָתֵ֖נוּ נִלְבָּ֑שׁ רַ֗ק יִקָּרֵ֤א שִׁמְךָ֙ עָלֵ֔ינוּ אֱסֹ֖ף חֶרְפָּתֵֽנוּ׃

Teus homens cairão à espada, e teus poderosos cairão na guerra. As suas portas chorarão e se lamentarão; e, desolada, Sião se assentará na terra. E naquele dia sete mulheres agarrarão um homem, dizendo: O nosso pão comeremos, e a nossa roupa vestiremos; tão somente queremos ser chamadas pelo seu nome. Retire a nossa humilhação.

Além do amor desmensurado por coisas que são segundas, com o prejuízo das virtudes primeiras, como a piedade, a fé e o amor, o desejo de justiça, as filhas de Sião se verão desprotegidas e a mercê de um futuro incerto: Teus homens (מְתַ֖יִךְ) cairão à espada (בַּחֶ֣רֶב יִפֹּ֑לוּ) e teus poderosos (וּגְבוּרָתֵ֖ךְ) na guerra (בַּמִּלְחָמָֽה). Todo o contexto sugere que os poderosos, como os homens adultos são das mulheres em função do sufixo pronominal. Assim, esses entes em questão, por serem homens adultos e poderosos, sugere uma certa proteção que garante a vida e certa paz onde as filhas de Sião podem viver despreocupadamente. Quando esses caem à espada e na guerra uma nova situação se impõe e a insegurança e a descontinuidade passam a fazer parte do dia a dia. Assim, a condição precária dessas mulheres como que sem seus bálsamos, e o fato de serem apresentadas como sofridas de queimadura, com roupas penitenciais etc. sugere que as elas foram acometidas pela calamidade e pela matança dos homens adultos e dos poderosos - os quais pereceram em uma guerra. Também o fato de que as portas delas (פְּתָחֶ֑יהָ) se lamentarão em luto (אָנ֥וּ וְאָבְל֖וּ) assinala a aniquilação do festim supérfluo e da estabilidade, convertendo a alegria em desolação (נִקָּ֖תָה).

    No abandono e na humilhação extremada, e no contexto desesperador do desamparo, algo surpreendente ocorrerá: sete mulheres agarrarão um único homem e pedirão somente para que sejam chamadas pelo nome dele. A humilhação é terrível a ponto de nem se fazer questão do sustento de pão ou do luxo das vestes. Existe aqui uma reviravolta, pois antes confiantes na sua beleza, hoje as filhas de Sião, na desolação, só querem estar à sombra do nome de alguém. A auto confiança dá lugar aos rogos de súplica por quase nada. Confessamos ser quase impossível esse texto ser compreendido hoje, mas ele vale mais por aquilo que significa, do que aquilo que se vê em sua leitura literal. Seria ocioso discorrer, por isso, sobre a poligamia no Antigo Testamento, pois se deter sobre questões desse tipo é inútil para o entendimento do significado desta profecia. O mais importante é que em seu juízo אֲדֹנָ֗י destroçará, nessas mulheres, tudo o que se configura como vazio de espírito e vaidade mórbida; tudo o que camufla a injustiça, desviando o coração delas das coisas que realmente importam. Deus, assim, no geral, definirá diante dos olhos dos homens e mulheres o peso da sua própria glória, impedindo uns e outros de se fiarem em seu próprio mundo vão, se esquecendo que há um Deus sobre todos que quer a justiça e a beneficência acima de tudo. O juízo terrível do Senhor, por tanto, abate os exaltados e exalta os humilhados, mesmo que os exaltados a serem abatidos sejam seus próprios filhos e filhas que moram no topo do santo monte Sião.

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