sexta-feira, 29 de outubro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonathan Edwards: 10ª Resolução

10ª Resolução: Resolvi que ao sentir dor, pensarei nas dores do martírio e do inferno.

A experiência da dor é comum a todos nós em algum nível. Não precisamos experimentar todas as dores possíveis para entender do que se trata quando alguém enuncia seu estado pessoal de dor. Da mesma forma, as reações às dores dependem em muito daquele que a sofre, e tendo essa verdade como tela de fundo podemos compreender o que a Escritura em várias passagens nos diz a respeito da nossa relação com as nossas experiências de dor.

    Em primeiro lugar, a própria experiência de dor surge para nós como um certo incômodo que nos leva à consideração que experiências assim não nos são naturais, no sentido de que essas experiências violam a nossa natureza, sendo incompatíveis com um estado ideal de vida. Consideramos que a dor é uma consequência do nosso estado caído, ou seja, trata-se de uma consequência do pecado no Éden. É impossível pensarmos o estado de perfeição unida à experiência de dor. Em Gn 3.19 se diz que a conquista do pão diário é algo alcançado pelo sofrimento: Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes ao solo, pois da terra foste formado; porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!; Também em Gn 3.16 se diz: E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos. E sabemos que daí em diante a história da raça humana se desdobrou sob o sinal da dor e do sofrimento, resultado da entrada do pecado no mundo.

    Há vários tipos de sofrimento, e nem todos possuem o mesmo significado. Mas apesar dos vários tipos de dor podemos classifica-los em dois gêneros, ou seja: a dor que é imposta sobre nós em função do nosso pecado, e a dor a que estamos sujeitos em função da injustiça alheia. Não podemos dizer, por exemplo, que Jesus Cristo sofreu em função de qualquer pecado pessoal, mas sim por causa dos nossos pecados e das nossas injustiças. Também afirmamos a realidade das dores impostas sobre nós em função dos nossos pecados. E mesmo quando estamos sob o sinal do perdão dos pecados, certa dor é imposta sobre nós a fim de sermos conduzidos pela disciplina da dor à perfeita obediência a Deus. Nesse sentido, as dores da nossa vida, que são um mal, pela sabedoria de Deus podem ser convertidas em um bem, e isso ocorre para que sejamos unidos a Cristo, como diz a Escritura em Hb 5.8-9: embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem.

    Aqui devemos aceitar que a dor, em função do estado do presente mundo, é algo que nps é inescapável. Sofremos dores de várias naturezas: quando sentimos o peso do envelhecimento, quando sentimos a dor da perda de um ente querido, quando vivenciamos a separação, quando visualizamos a catástrofe se abatendo sobre uma pessoa em função de suas escolhas erradas, quando alguém escolhe deliberadamente o mal, quando vemos alguém sofrendo por doenças ou injustiça alheia, quando nós somos alvos de doença e de injustiça alheia, quando somos punidos pelas nossas injustiças e males etc.

    Mas essa questão, como foi dito mais acima, não se estabelece para nós apenas por sofrermos algum mal que nos causa dor, pois junto a isso devemos considerar a forma como sofremos essas experiências de ruptura. É sabido que a Escritura apela em vários pontos para uma forma digna de sofrer a dor. Jesus diz às filhas de Jerusalém em Lc 23.27-31: Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito e o lamentavam. Voltando-se para elas, Jesus disse: Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos. Porque virão dias em que se dirá: Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram! Então dirão aos montes: Caí sobre nós! E aos outeiros: Cobri-nos! Porque, se vocês fazem isto ao lenho verde, que acontecerá ao seco? E em Provérbios 24.10: Se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena.

    Em especial esses dois versículos nos mostram duas coisas: 1) Que é possível superdimensionar a nossa própria dor quando realmente não conhecemos que diante da nossa tristeza pode haver outra prior ainda; 2) Que a fortaleza - que é uma virtude indiscutivelmente cristã nos dada pelo Espírito - com a qual suportamos a dor é aquilo que nos garante certa resistência para, nos dizeres de Jesus, não afrouxarmos no lenho verde. Entenda aqui que nenhuma dor deve ser desprezada, mas aquele que se deixa levar por uma certa dor ou angústia, a sofrendo ou temendo mais do que é devido, é fraco de espírito e não honra a Deus. Esse foi justamente o pecado dos Israelitas quando murmuram no deserto (leiam Ex 16, 17.1-7; Dt 1-2 etc.), pois estavam indispostos a tomar seu fardo em direção à sua própria libertação suportando com coragem aquilo que foram chamados a suportar.

    De fato, como nos ensina o pastor, devemos meditar nos sofrimentos da Cruz todas as vezes que nós mesmos viermos a sofrer - pois a dor da Cruz é a maior dor entre a dor dos mártires; devemos meditar no sofrimentos dos mártires, que passaram por dores excruciantes para dar bom testemunho de Deus, e analisarmos com isso se nós mesmos estamos aptos a testemunhamos, em meios às dores, a respeito da nossa fé em Cristo; devemos imaginar as dores dos condenados - que não tem cura -, para evitarmos sucumbir em nossos espírito por qualquer coisa.

    Enfim, busquemos em oração a virtude da fortaleza que afasta a murmuração causada pela má relação existente entre nós e nossos sofrimentos pois isso ofende a grandeza de Deus.

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