segunda-feira, 18 de outubro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonathan Edwards: 5ª Resolução

5ª Resolução: Resolvi nunca perder um momento, mas aproveitar o tempo da maneira mais vantajosa que puder.

A quinta resolução tem suporte no preceito paulino de remir o tempo, como podemos encontrar em Ef 5.16 e Cl 4.5, textos que exortam o fiel a maximizar o proveito do tempo por meio do procedimento sensato e sábio, tanto em relação a si mesmo, como em relação aos que são de fora da família da fé. A ideia está em buscar esgotar toda a potencialidade da grande dádiva de Deus, que é o tempo, no bom uso segundo aquilo que é, de toda forma, bom para todos nós. A consciência em relação ao valor tempo é algo que deve estar unida à nossa espiritualidade e à forma como nos relacionamos com Deus, conosco e com o próximo.

O procedimento sensato que um cristão deve ter em relação ao tempo é coextensivo ao procedimento sensato que devemos ter em relação a todas as coisas. Mas aqui, há certas notas distintivas que podemos considerar por certo ângulo que faz nossa percepção em relação ao tempo torna-lo ainda mais valioso. A questão é que o tempo não é algo que simplesmente passa sobre nós; não se trata de uma substância, de uma coisa externa a nós como o ar que respiramos e do qual dependemos para viver; antes o tempo é a forma como as coisas são e mudam. No texto sobre a criação, de Gn 1 a 2, não se fala que Deus criou o tempo, mas sim que criou coisas temporais. A temporalidade é o modo de ser de todas as coisas, pois todas as coisas estão sujeitas a mudanças e a alterações, tendo um início e também um fim. Dizendo assim podemos considerar que o tempo, em relação a nós, é tanto a nossa própria durabilidade quando o nosso processo de mudança, ou a forma como nós somos. E considerando a Deus, podemos entender que a nossa temporalidade é o instante a instante nos quais Deus nos sustenta e sustenta todas as coisas, garantindo tanto a nossa durabilidade quanto a nossa mudança. Assim, a sustentação de Deus é o dom que nos permite a duração da nossa existência. Deus nos dá o tempo, por assim dizer, porque permite que existamos. Assim, o tempo é um dom de Deus para todos nós, algo que deve ser amado tanto quando devemos nos amar.

Mas como tudo na vida, nossos dons, habilidades e benefícios, também o tempo pode ser desperdiçado. E, como dissemos acima, o tempo é a nossa própria vida; assim, consideradas as coisas por esse ângulo, o desperdício de tempo é exatamente a mesma coisa do que o desperdício da nossa própria vida, de sorte que remir o tempo tem exatamente o mesmo significado de remir a vida. Mas de quê remir e vida? Ora, remir a vida é não desperdiça-la, não aplica-la a coisas vãs, destrutivas empobrecedoras do significado do que somos. Assim, viver a vida maximamente bem, otimizando o bom uso do nosso tempo, é amar a nós mesmos, pois é fazer da nossa vida o melhor daquilo que podemos dela fazer. Viver bem é buscar viver a melhor versão de nós mesmos, e é imperativo para a alcançarmos esse bem dar o melhor de nossas forças, sejam essas forças a força física e a intelectual. Nossa mente deve ir diligentemente em busca desse bem absoluto, que é Deus, e buscar encarnar Sua vontade uma vez que ela seja compreendida. Certamente que nada disso será possível sem a ajuda de Deus e, por tanto, sem o auxílio da sua graça, donde se impõe a nós a sua busca, seja em sua Palavra, seja na oração, na fé ou na Ceia do Senhor.

Vivemos em um mundo de desperdícios. Hoje, as redes sociais e a internet, as quais distribuíram comunicação e informação em larga escala, também soterrou muitos debaixo de uma quantidade massiva de informação e distração. Nunca hoje se teve tanta informação e entretenimento disponível; mas também nunca se teve tanta distração e tanto potencial para a perda de foco, o que provoca a desatenção paras as coisas que realmente importam. Na Parábola do Semeador (Mt 13.1-9; Mc 4.3-9; Lc 8.4-8) se diz que a semeadura que caiu no terceiro tipo de solo, o espinheiro, até chegou a nascer, mas não avançou porque os cuidados da vida impediram o devido crescimento. Trata-se da perda da atenção na multiplicidade de estímulos que impedem a concentração e foco naquilo que Deus requer de nos. Deus quer que nos concentremos nele, que é uno, e não nos vários interesses dispersivos que são múltiplos. Assim, é necessário autodisciplina para que possamos nos aplicar às coisas de Deus, sacrificando todos os outros interesses que apontam para coisas secundárias.

Remir o tempo, portanto, é se concentrar nas coisas que realmente importam, no Deus Uno que exige nossa vida e interesse por completo; por isso, remir o tempo é ir deixando de lado as coisas secundárias como coisas secundárias, e abandonar as coisas inúteis como coisas inúteis. Mas especificamente, remir o tempo é dar a honra àquilo que para nós vem primeiro, que é Deus, Cristo e a Sua Vontade; e deixar o que vem em segundo lugar como coisas que vem em segundo lugar. Seguindo essa regra buscaremos, antes de todas as coisas, O Reino de Deus e a sua Justiça. Tudo o que é secundário, embora importante, certamente por causa do amor e graça de Deus nos serão acrescentados (Mt 6.33), mas elas não estão em primeiro lugar.

A vantagem de seguir todas essas considerações é que nisso podemos alcançar o máximo do valor das nossas vidas tanto para o nosso benefício como par ao benefício para o nosso próximo. Assim, não nos perderemos em conversações inúteis, em interesses inúteis, em atos desastrosos, desperdiçando o nosso tempo e fazendo o nosso próximo desperdiçar o seu, seja corrompendo-o, seja sendo motivo de preocupação àqueles que nos amam em função do risco que corremos por causa da nossa vida desordenada.

Ser sábio é saber ordenar todas as coisas; e o mais sábio é aquele que sabe ordenar tudo em direção a Deus, o que inclui ordenar a si mesmo, remindo o tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário