segunda-feira, 18 de outubro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonatan Edwards: 4ª Resolução

4ª Resolução: Resolvi nunca fazer qualquer coisa, quer por meio da alma, quer por meio do corpo, nada mais, nada menos, que não glorifique a Deus; nem ser, nem sujeitar-me a tal coisa, se puder evita-la.

    A 4ª resolução guarda um princípio de devoção fundamental, pois ilustra uma verdade que não pode jamais ser esquecida, ou seja, que o fim da nossa humanidade é estar unida a Deus. Mas o que que somos senão nosso corpo e a nossa alma? Assim se segue que homem, considerado em sua totalidade, para viver e viver bem, deve estar, em corpo e alma, unido a Deus. Nosso corpo é templo do Espírito Santo (1Co 6.19) e, como tal, só tem vida e felicidade plena se vive seguindo aquilo que ele mesmo é. Mas quanto a isso, ou seja, em relação àquilo que o homem é, a Escritura nos oferece duas definições, ou seja, que o homem é imagem de Deus (Gn 1.26), e que é o templo do Espírito Santo.

    Essas duas definições estabelecem nossa altura, nossa vocação e nossa finalidade sobrenatural. Segundo a Escritura, podemos dizer que o templo está para o corpo assim como a imagem está para alma: O corpo como habitação do Espírito inclui certamente a totalidade do homem (mente e corpo), contudo a noção de corpo se inclina mais a sinalizar a exterioridade do homem, ou seja, a sua corporalidade. E por alma, como imagem de Deus, devemos nos remeter àquilo que em nós é estritamente espiritual, pois Deus é espírito (Jo 4.24). Ora, o espírito é, por definição, algo imaterial, invisível, intangível, tal como é a nossa mente. Assim, a imagem de Deus se refere à espiritualidade do homem, algo que o diferencia dos animais e das demais coisa criadas. E uma das propriedades da espiritualidade do homem é certamente a sua vida moral, a capacidade de fazer uma distinção moral entre o bem e o mal. É por isso que tanto a noção de mérito, como de culpa e pecado são mais cabíveis ao homem, pois por ser um ser espiritual tem responsabilidades diante de Deus e do próximo que os animais e as pedras não possuem.

    Assim, cumprir sua finalidade como templo do Espírito e como Imagem de Deus é buscar, pelo corpo e pela razão, aquilo que glorifica a Deus. Essa finalidade é, de alma e corpo, fisicamente e espiritualmente, viver em Deus e goza-lo eternamente; pois se somos imagem de Deus, aquilo que pode nos trazer o verdadeiro prazer e felicidade só pode ser aquilo que a Deus agrada e aquilo que O satisfaz, tal como andar em justiça, santidade, amando a Deus e o próximo. O homem deve discernir isso e se esforçar por cumprir com esse fim. Por isso o empenho esforçado por buscar a Deus e ao seu agrado, no corpo e na razão, só podem constituir a felicidade para o homem - algo que se encaixa perfeitamente na definição da 1ª Resolução, que fala, entre outras coisas, do empenho na busca pelo próprio bem.

    Corpo e alma se empenham nesse fim religioso - no bom sentido da ideia de religião -, e fazer da mente e do coração receptáculos da presença de Deus e o nosso corpo como um meio santificado de manifestação da glória de Deus é atingir a nossa finalidade, pois nisso está a unidade entre Deus e o homem desejada por Jesus em sua oração sacerdotal (Jo 17). Com isso em mente, é correto o juízo que afirma que estar abaixo desse propósito é algo que nomeamos negativamente por sujeição. O homem que destrói em si a finalidade de viver segundo a imagem de Deus está abaixo da sua vocação. A degradação do homem é ele destruir em si a imagem divina, depreda-la ou demoli-la por causa do pecado. Assim, o homem que desaba dentro de si por causa do pecado, ou do vício reiterado, está abaixo de si mesmo, deformado em seu espírito, destruído no templo que é seu corpo. Por isso o cuidado de si está no cuidado do nosso corpo e do nosso espírito, na vigilância em relação ao nosso corpo e em relação aos nossos pensamentos.

    Sabemos que a maldade do pecado não está na consideração moralista de que alguém faz algo errado quando peca. Antes de tudo a maldade do pecado está no fato de que realmente o homem se destrói, se degrada e se rebaixa para ser menos do que aquilo que ele é quando pratica o ato pecaminoso. O ato pecaminoso trata-se de uma violência e de um abuso que o homem comete contra si, quando usa ilicitamente de sua mente ou de seu corpo na busca de prazeres ou na busca pela obtenção de algum ganho ilícito. O homem que assim age entra em trevas na sua mente e macula o seu corpo. Quem assim age não deseja o melhor para si; quer muito pouco, para falar a verdade, e anda à busca de prazeres mesquinhos porque ainda não conseguiu se erguer da multidão dos prazeres pequenos em direção à contemplação da face gloriosa de Deus, lá onde está todo prazer e felicidade do homem.

    Assim, para a nossa felicidade, vivamos para glória de Deus.

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