sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O Espírito Santo e o Batismo com Fogo

    Há uma certa reserva existente contra a interpretação pentecostal da afirmação de João Batista (Mt 3.11) sobre o "batismo com Espírito Santo e com fogo". Essa reserva se deve ao fato de que a noção de "batismo de fogo" em Mt 3.11 se refere exclusivamente à condenação ao inferno, isso porque logo no vs. nº 12 João Batista diz que Jesus traz a pá na sua mão e separará o trigo da palha. Ele recolherá o trigo no seu celeiro e queimará a palha com fogo inextinguível. Neste texto, interpretar o batismo com fogo como condenação é, evidentemente, a interpretação natural.

    Contudo o texto em pauta não é exaustivo para tratar sobre a totalidade da ação do Espírito tal como nos ensina a Escritura. A teologia do Espírito na Escritura vai para além de Mt 3.11. Um dos textos que registram um modo interessante de ação do Espírito é Isaías 4.4, onde o profeta diz: "quando o Senhor lavar a podridão das filhas de Sião e limpar, desde dentro, Jerusalém do sangue, com Espírito de Juízo e com Espírito Purificador". Aqui a última designação do Espírito como "purificador" tem a ver, segundo os textos mais antigos, com fogo.
    O original hebraico (BHS), assim como a versão dos Setenta (LXX), relacionam o Espírito na sua última ação em Is 4.4 com o fogo: na bíblia hebraica o termo usado para a última designação do Espírito no vs. 4 é בָּעֵֽר (ba'er) que significa acender, queimar ou incendiar. Em específico a última expressão do versículo é וּבְר֥וּחַ בָּעֵֽר (uveruha ba'er), ou, e com espírito que queima, ou "que acende". Na versão dos Setenta a expressão é πνευματι καυσεως (pneumáti kauseõs) que significa algo como "espírito de queima". Pneumati vem de πνευμα, ou "espírito"; kauseos vem de καυσις, que é tanto queimar como causticar - donde temos a origem do adjetivo "cáustico" que usamos para designar, por exemplo, a "soda cáustica".
    Com todas essas coisas consideradas, fica claro que a ação da queima, como sugere o contexto de Isaías 4.2-6, é uma ação do Espírito que visa a purificação da cidade de Sião e também das filhas de Sião. É por isso que a Almeida Revista e Atualizada sugere, não de modo impróprio, que o Espírito aqui é Espírito Purificador. A TEB traduz essa parte do texto como sopro de incêndio, e a NVI como espírito de fogo. É certo que essa ação do Espírito abrange não só a cidade de Jerusalém, mas também as filhas de Sião, para que não sobre dúvidas quanto a consideração errônea de que uma ação de queima por parte do Espírito implica apenas o juízo destruidor contra inimigos, excluindo a noção de purificação daqueles que sofrem essa ação incendiária.
    Teologicamente, é mais do que óbvio que no Antigo e Novo Testamentos a noção de fogo relacionada à ação de Deus não sugere apenas destruição, como em 2Ts 1.7, 8 onde a vingança contra o ímpio no Segundo Advento é relacionada com a labareda de fogo, mas também a certa ação benéfica e mesmo santificadora, como no dia de Pentecostes (At 2.3) onde as línguas de fogo não destruíram os discípulos, mas os plenificaram com a presença poderosa do Senhor. E se realmente Mt 3.11 sugere que o batismo de fogo indica a queima da palha em juízo eterno, não é errado dizer que há certo batismo de fogo que seja, para nós, uma ação santificadora do Espírito em nosso favor.
    Venha e nos santifique, Espírito do Senhor!

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