segunda-feira, 18 de outubro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonathan Edwards: 6ª Resolução

6ª Resolução: Resolvi que enquanto estiver vivo, viverei com todas as minhas forçar.

O distintivo da fé cristã está na afirmação de que a vida é um bem e, como um bem, toda vida vale a pena ser vivida. Assim, viver e existir é melhor do que não viver e não existir. Mesmo ao lado das considerações sobre a má fortuna dos homens, do pecado e dos males aí decorrentes, ainda assim o brilho da vida supera toda escuridão do inferno. Assim é porque a realidade de ser, o fato de as coisas existirem, possuem certa semelhança com Deus, já que Deus, que é a melhor coisa que há em toda realidade, existe, mesmo que sua existência seja infinitamente superior à nossa existência. Contudo, temos a nossa vida em analogia à vida de Deus, e isso já é mais do que todas as coisas. Podemos dizer que uma folha seca deitada na areia do deserto é infinitamente melhor do que o nada.

    Sob esse ponto de vista podemos entrever o valor supremo da nossa vida. Ela, tanto quanto o tempo mencionado na última resolução, são bens reais - mesmo fazendo a distinção que o tempo seja hoje, para nós, o modo de ser da nossa vida. Contudo, amar a vida é realmente amar a Deus, pois é amar aquilo que ele ama. A vida é amada por Deus simplesmente porque ele escolheu que ela existisse. Odiar a vida é odiar a Deus. Obviamente que Deus não ama o pecado - que é algo contrário à vida e destrutivo a ela. Mas ama a vida daquele que Ele elegeu, mesmo odiando nesse eleito o pecado. Pois a questão fundamental é que ao término da criação Deus disse que tudo era muito bom (Gn 1.31). Ora, podemos pensar a partir daí que como Deus só pode amar o que é bom, Deus ama a vida, e como imagens de Deus devemos também amar a vida, pois como imagem de Deus é necessário que queiramos o que Deus quer, o que inclui a nossa vida - pois se ela existe existe pela vontade de Deus.

    Amar é certamente fazer o bem, e não há maior bem do que fazer daquilo que se ama a sua versão superior. Portanto, buscar tudo o que é amável, honrado, verdadeiro e bom é amar a vida, e buscar isso para a vida é viver com todas as forças. Aquele que se negligencia, desperdiçando a vida na futilidade, buscando o que é vil e torpe, despreza a si mesmo; e todo aquele que a si mesmo se despreza despreza a criação de Deus, ofendendo a Deus. Aqui essa constatação é universal e válida para todos os homens. Aqueles que se destroem, terão sua própria destruição. Nosso corpo, e o corpo do nosso próximo, é templo do Espírito Santo, e quem destrói o Templo do Espírito, Deus o destruirá (1Co 6.19). A universalidade do preceito de amar o próximo como a si mesmo, assim, implica em preservar a nós mesmos e o próximo da destruição. Isso também é viver com todas as forçar, pois inclui procurar o máximo bem do próximo e nosso próprio bem. E como refletimos no texto sobre o tempo, remir o tempo do próximo, desviando a si mesmo da futilidade, e desviar o próximo da futilidade e do mal tanto quanto possível, é também viver, pois é viver o preceito de Deus, de onde temos a regra da boa vida.

    Consideramos também pelo fato de Jesus ser absolutamente o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6), que buscar a melhor versão de si mesmo e a verdadeira vida é viver em Cristo, seguindo seus passos, andando em sua direção. Viver com todas as forças é, portanto, viver a mensagem do evangelho de Cristo em toda a sua altura e em toda a sua profundidade, buscando unidade com Deus o tanto quanto possível. É também seguir a Cristo e, assim sendo: é perdoar sempre que pudermos perdoar; é ter fome de justiça o quanto podemos ter; é ser puros de coração e limpos de mãos; é ser pacificador; é ser misericordioso e compassivo para com os fracos e necessitados; ser dependente de Deus; é chorar segundo o espírito de Cristo; é ser amável e dócil como Cristo, acolhendo sem revolta a sua verdade em nosso coração (Mt 5.3-9); é orar e adorar em espírito e em verdade com toda nossa mente e com todas as nossas forças (Jo 4.23); é buscar ser perfeito como o nosso Pai celestial é perfeito (Mt 5.48).

    Não há como atingir o âmago do amor à vida sem unidade com Deus, e é em virtude disso que devemos orar por esse dom, que é o de amar e desfrutar conscientemente da vida em unidade com o Pai o Filho e o Espírito Santo, que é o Deus supremo e Criador de todas as coisas.

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