quinta-feira, 21 de outubro de 2021

As Setenta Resoluções de Jonathan Edwards: 7ª Resolução

7ª Resolução: Resolvi nunca fazer qualquer coisa que eu devesse ter medo, caso esteja vivendo a última hora de minha vida.

    Não há segredo em relação a essa terceira resolução, pois ela se deve a uma consciência de de zelo em relação àquilo que, segundo o que experimentamos em nossa vida espiritual, depende do nosso comportamento para a salvação. Mas antes de tudo, é bom que deixemos algo claro: a salvação é algo que a Deus pertence (Jn 2.9) e não a nós, pois somos salvos pela graça de Deus, mediante a fé, coisas essas que são inteiramente graça de Deus para nós, pois não somos capazes de criar nem a graça da salvação por nós mesmos e nem mesmo a fé, que é um dos constitutivos dessa graça que nos salva.

    Explicada a questão da necessidade absoluta da graça para a salvação, cuja concessão para nós é algo reservado pela sua exclusiva autoridade, partamos para uma especificação mais profunda: embora a graça de Deus seja a única causa da salvação em nossas vidas, pois ela é absolutamente necessária como necessidade de consequência, o fazer da nossa parte é também necessário, mas em outro sentido, a saber, como necessidade de consequente. Não se trata da ideia errônea de que devemos realizar obras para manter sobre nós a graça salvadora. Antes, a noção de que as obras são necessárias como necessidade de consequência exclui qualquer ideia de que cooperamos com nossas energias para a consecução da graça, pois a graça não é inócua. Ela tem seus efeitos. Dizemos que a necessidade de consequência é antes uma necessidade de efeito, ou seja, uma necessidade de que o efeito da santificação e elevação da nossa vida em graça seja uma consequência necessária da presença da graça mesma como causa desses efeitos.

    Em Gl 5.6 se diz que a fé opera pelo amor, ou seja, que o amor sobrenatural está unido à fé salvadora, pois a fé por ele atua. Também dizemos que uma fé sem obras é morta (Tg 2.26), pois a nota característica daquele que porta a fé salvadora é certo zelo, benignidade, amabilidade, operosidade generosa da nossa parte, sensibilidade aos sofrimentos alheios vista por atos de misericórdia, mas também o zelo manifesto através do cuidado de si mesmo. E é aqui que podemos compreender o conteúdo dessa resolução que temos diante de nós: a hora da morte é um dos eventos mais importantes de nossa vida, por essa hora é uma fronteira em que do lado de lá reside um estado irreversível que se estenderá por toda a eternidade, visto que, segundo a Escritura, depois da morte segue-se o juízo (Hb 9.27). A morte, assim, esgota totalmente as nossas potências para a alteração das coisas por nossa parte; é comum dizer que, após a morte, nos tornamos exatamente aquilo que somos, ou seja, que após a morte seremos definitivamente o que somos, sem possibilidade alguma de mudanças - como ocorre em vida, quando podemos nos arrepender, voltar atrás etc.

Podemos concluir dizendo que o zelo em questão, relacionado a não fazer aquilo que venhamos a ter medo na hora da morte está relacionada com a ideia de não passar por essa fronteira que divide a vida e a morte com um coração deliberadamente mal, impenitente, ou seja, um coração não quebrantado e não arrependido. Isso parte de uma noção de cuidado de si, de selo, de amor à bondade que deve estar enraizado em nosso coração. Essa resolução não se trata, ao contrário do que pode parecer, de uma resolução para um momento específico, mas também implica em um cuidado cotidiano, constante e diário para transformarmos o nosso coração para a eternidade. Esse é um trabalho que, pela oração, comunhão e fé, vamos realizando por nós mesmos; e certamente que quem é sensível a essas coisas só pode ser sensível porque tem presente em si a fé salvadora, cuja presença é causa do amor que nos leva a querer a unidade eterna com Deus. Assim, é necessário que um coração cristão tenha, tanto agora como na hora da morte, um coração que queira estar sem a presença da maldade que nos afasta do Senhor.

Que essa bondade em nós seja motivo da nossa oração.

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