quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A Fé, a Mortificação e a Esperança

   O homem consciente de si sabe que existe uma fratura interior, uma convulsão que podemos nomear de violência. A fé que opera pela amor é o meio pelo qual enfrentamos essa fratura e essa convulsão interior, e podemos chamar a nossa militância contra esse estado de coisas de mortificação.

   É justamente aqui que entendemos o apelo do Apóstolo quando diz: "não reine o pecado em vosso corpo" (Rm 6:13); não quer dizer "não exista", mas "não reine".

   Mesmo os autores eclesiásticos antigos (Ambrósio, Agostinho) entendiam que após a conversão e batismo o pecado em nós não está extinto - assinalando aqui a continuidade da ruptura da nossa natureza. Essa é a chamada "lei do pecado" (Rm 7), que deve ser mortificada para não reinar em nós.

   É aqui que vemos que estamos em estado de cisão, cisão entre o que somos e o que deveríamos ser. Somos por vezes marcados pela angústia, pela violência e mesmo pelo estado de alienação interior; mas a questão é que na fé ganhamos um sentido e poder para a milícia e para a esperança da incorrupção na reconciliação final da nossa natureza com Deus.

   Mente quem diz que estarão findas as guerras com a nossa carne e com nossas pulsões no nível da presente vida. No tempo não há fim de guerra, há fim de culpa, pois Cristo se fez maldição por nós, e o que podemos, pelo poder da fé e do Espírito, é gozar de um armistício entre uma guerra e outra, pois enquanto vivemos somos chamados à mortificação (Cl 3:5-7), mortificação que é trabalho para toda a vida, já que a glória da imortalidade é dom para outra vida (I Co 15:55).

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