quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Cristianismo e Conservadorismo

   Tem gente que está doida na ideologia - ou na ignorância mesmo - quando confunde conservadorismo político com cristianismo. Mas sabe essa gente que Edmund Burke, o fundador do conservadorismo - que deve ser lido sim -, foi contra a ação de evangelização por parte de clérigos anglicanos e de não conformistas na Índia justamente porque entendia o induísmo como a base de estabilidade social da Índia, tal como o cristianismo era para a Inglaterra.

   A questão central aqui é que há uma divisa radical que o cristão deve, enquanto cristão, aceitar: o padrão cultural de uma sociedade não pode estar acima da reivindicação da Palavra de Deus. Portanto, ainda que o Cristianismo não seja revolucionário, e nem se ocupe com a transformação da forma vigente de governo de qualquer país, a exemplo do cristianismo que vigorou no início do império romano, nenhum Cristão está autorizado pela fé a colocar evangelho a venda pela manutenção da cultura política que está aí, se tais padrões se chocam contra a Palavra de Deus.

   Como os cristãos antigos que oravam pelo bem da República de Roma e do Império, nem por isso somos condescendentes com a cultura do Império. Um conservador como Celso, filósofo romano, que via na fé cristã um princípio de ruptura da unidade cultural do Império, e com isso um potencial esfacelamento do império, era mais conservador do que Orígenes que denunciava as suas mazelas, não obstante um bom súdito romano. E ainda que a filosofia conservadora tenha seus méritos contra as pretensões revolucionárias dos justiceiros do momento, dos destruidores de estrelas, ela também encontra em si mesma o seu limite.

   A única coisa que a fé cristã deve conservar acima de tudo é a sua fidelidade a Deus, orando para o seu país e pelas instituições do seu país para que tudo vá bem, sendo bons cidadãos, bons contribuintes, bons trabalhadores, honestos pagadores, bons pais de família, bons filhos, ordeiros, amantes da paz, da beneficência e da misericórdia, não aceitando que a pretexto de conservação se aceite a apostasia.

   A mente cristã é conservadora por um lado, mas aceita o avanço e o progresso por outro: conserva o bem, mas também luta pela transformação do que é inadequado e mal, fundando toda sua ação, seja na conservação ou no progresso, em um padrão eterno de justiça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário