quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Orígenes (185-254 d.C.) o Aniconista

   Se ele [Celso] julga certo que eles jamais tiveram valor por sua categoria ou número, pois não se encontra qualquer alusão à história dos judeus entre os gregos, eu responderei: se atentarmos para o seu regime inicial e as disposições de suas leis, veremos que foram homens que apresentavam na terra uma sobra da vida celeste. Entre eles, não havia nenhum outro deus a não ser o Deus supremo; nenhum artífice de imagem que tivesse direito de cidadania. Nenhum pintor, nenhum escultor tinha espaço em seu Estado, pois a lei bania todos os artífices desse gênero para eliminar qualquer ideia de fazer estátuas, prática que atrai os simples e desvia os olhos da alma para longe de Deus na direção da terra. Havia, pois, entre eles esta lei: "Não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida em forma de um ídolo: uma figura de homem ou de mulher, figura de algum animal terrestre, de algum pássaro que voa no céu, de algum réptil que rasteja sobre o solo, ou figura de algum peixe que há nas águas que estão sob a terra" (Dt 4:16-18). A intenção da lei era encarar a realidade de cada ser, impedindo que fossem modeladas fora da verdade imagem que mentiam a respeito da verdade do homem e da realidade da mulher, da natureza, dos pássaros, dos animais, do gênero dos pássaros, dos répteis, dos peixes. E o motivo era venerável e sublime: "Levantando os olhos o céu e vendo o sol, a lua, as estrelas e todo o exército do céu, não te deixes seduzi-los para adorá-los ou servi-los!" (Dt 4:19)

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1] Orígenes - Contra Celso. Paulus, Lib.IV.XXXI. p.307

Obs: A concepção de "Estado Judaico Inicial" - isto é, antes da degradação da nação - de Orígenes quanto aos escultores e pintores está proporcionada à justificação do banimento de escultores, pintores e poetas da República de Platão (601-603b.), já que esses se aplicam àquilo que é o terceiro em relação à verdade. É como Platão diz: "Então concerne esse tipo de imitação a algo que é o terceiro a partir da verdade, ou não é?" (602c), ou: "Isso, então, era sobre o que eu queria encontrar um consenso quando afirmei que a pintura e a imitação como um todo produzem obras que estão distantes da verdade, ou seja, que a imitação realmente se associa a um elemento [inferior] da nossa alma que se distancia da razão [parte superior da alma], e que o resultado desse relacionamento e amizade não é nem saudável, nem verdadeiro." (603a,b) - Platão - A República. Edipro. Lib.X p. 407, 409.

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