Em Gn 1-2 a Escritura se ocupa de falar sobre duas coisas: a origem do universo e a organização dele, culminando na criação do homem segundo a imagem de Deus. É importante perceber nessa narrativa que a intenção do autor não é simplesmente descrever o “como” da origem das coisas; não se limita a uma descrição científica, antes procura iluminar uma questão bem específica que é a determinação do mundo por Deus. É por isso que o termo “criação” é algo que já implica uma compreensão de coisas que só funciona no âmbito da fé, pois o mundo não é mundo avulso, considerado em si mesmo, mas sim considerado segundo uma relação onde o mundo é compreendido como o mundo de Deus.
É por isso que ao falar sobre a origem das coisas o livro de Gênesis começa com a palavra בָּרָא (bara’ = criou), pois essa palavra no texto hebraico é usada apenas para o ato criador de Deus. Assim, nem o homem ou outra coisa tida por criatura (pois fora de Deus tudo o mais é criatura) nada mais pode realizar o bara’ no sentido bíblico, e isso significa que a compreensão que devermos ter em relação a nós e ao mundo é que tudo o mais é determinado por Deus como criatura, se encontrando nessa relação como o criado se relaciona com o criador. O livro de Gênesis assim possui essa intenção: assinalar como Deus cria o mundo e como ele cria o seu povo que se compreende como criatura no mundo criado por Deus. Aqui está determinada toda a nossa relação com aquele que é Deus e Senhor.
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