domingo, 30 de janeiro de 2022

A Natureza da Regeneração

    A palavra regeneração é profundamente importante para a vida cristã, embora ela pareça possuir inúmeros significados na Escritura. Por regeneração podemos entender, segundo a escritura, três coisas: 1) A ressurreição após o retorno de Cristo, como está em Mt 19.28, onde Jesus disse que aqueles que o seguirem, i.e, os apóstolos, na regeneração, se assentarão em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel; 2) A santificação, como em Tt 3.5, onde o apóstolo diz: Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, pois fica evidente que a noção de renovação está atrelada a um poder transformador na concessão efetiva de uma nova vida; 3) Ou pode ser entendido como justificação, como em Ef 2.1-10, onde é dito que Deus nos deu vida estando mortos em delitos e pecados – nesse sentido fé é pura receptividade da graça.

    Mas também entendemos, por uma lógica demandada pela ordem dos fatos, que certa graça vem antes, sendo a regeneração um dom divino que nos alcança, transformando-nos. Mas veja bem: fora a ressurreição, os dois significados de regeneração, principalmente o último, não comportam a noção de perfeição absoluta da vida. Por justificação entendemos uma mudança de relação de Deus conosco, não uma mudança da nossa natureza. Assim, Deus nos trata como justos por causa de Cristo, não pela nossa perfeição pessoal. Fato é que Paulo, se dirigindo à comunidade de Colossos, em Cl 3.5ss, ainda exorta aos cristãos que mortifiquem os resquícios viciados da velha natureza. Ora, uma natureza que precisa modificar velhos vícios, resquícios de pecados, ainda não é uma natureza perfeita, conformada absolutamente com a justiça divina. Aqui somos considerados filhos não porque fomos transformados em justos, mas sim para que venhamos a ser justos.

Assim, a natureza da regeneração não nos informa, sob nenhuma hipótese, algo como a presença de uma natureza humana transformada tão radicalmente a ponto de termos alcançado a dignidade intrínseca na qual somos vistos perfeitos por sermos perfeitos. Antes somos vistos como filhos por sermos visualizados em Cristo, pois pelos seus méritos somos dignificados como filhos de Deus, nos assentando juntamente com Cristo nos lugares celestiais, ou seja, como aqueles que foram reconciliados com Deus. A partir desse ponto caminhamos em direção à perfeição no segundo sentido da palavra regeneração, pois é na santificação que vamos mortificando a velha natureza. Aqui nós entramos no campo daquilo que foi chamado tradicionalmente de luta contra o pecado, ou conformação com a morte de Cristo (Fp 3.10), na própria área do discipulado, que é o sinal vivo e verdadeiro da recepção da fé que atua pelo amor (Gl 5.6), já que onde houve regeneração e justificação, necessariamente há discipulado e santificação.

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