segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Jardineiros do Mundo

    Na igreja é comum a velha compreensão de que a escritura seria o manual da vida cristã. Ela, de fato, traz informações que esclarecem a relação do homem e do mundo com Deus, assim como a relação entre uma pessoa e outra (ou o seu próximo) a partir do ponto de vista da razão e da revelação. Mas essa não é a única esfera de compreensão em que a nossa vida se move segundo a Escritura. Ao lado dessa, mas não menos importante, está também a esfera das relações entre o homem e o mundo, tendo Deus por mediador. A primeira compreensão explícita dessa relação entre o homem o mundo está já em Gn 2.15 onde se afirma que Deus colocou o homem no jardim para lavrá-lo e cultivá-lo. Também em Gn 2.19-20 se diz que Deus conduziu todos os animais do campo e dos céus para que o homem os nomeassem.

    Quando nos a bíblia nomeia o jardim e os animais já está composto um todo dos incluídos dentro de uma esfera de domínio do homem. Quando falamos de domínio não queremos trazer com isso a ideia de abuso, mas sim de governo, ideia que inclui aí a responsabilidade do homem no âmbito da criação. Aqui podemos nos servir de uma designação de um filósofo francês chamado Henri Bergson que definiu o homem no âmbito de sua atividade como co-criador com Deus. A definição pode ser ambígua, e até a erros se mal compreendida, mas podemos nos servir dela para iluminar um campo de atividade que não pode ser entendido a não ser como a atividade de aperfeiçoamento do mundo da qual apenas o homem é capaz. Assim, podemos contar entre as finalidades do homem o levar à perfeição a obra da criação, e isso fazemos através do aperfeiçoamento tecnológico, das construções de cidades, cultivo racional do campo etc.

Contudo não podemos perder de vista que o homem, como tal, é o homem caído. Sendo assim, podemos ver que a Queda é uma realidade que tira do homem do seu fim, invertendo o seu fim, para sermos mais claros e francos quanto à questão. Com isso em mente podemos chegar à conclusão, seja por fatos ou por pela análise das consequências da Queda que de co-criador o homem pode vir a ser o destruidor da criação. Sabemos que a Queda tem consequências tão profundas que a escritura afirma que o desligamento da amizade com Deus por parte do homem deformou a criação (Gn 3.18). Ao lado disso vemos a denúncia dos profetas de que ao lado da tirania dos reis habitava o costume de devastação da natureza (Is 14.8), sendo que a impiedade devastadora da natureza terá seu juízo diante de Deus, pois chegará a hora de destruir os que destroem a terra (Ap 11.18).

Que o Senhor nos permita participar da manifestação do Filhos ansiada pela natureza (Rm 8.19), ou seja, que, a começar por nós, possamos libertar a natureza do seu julgo de escravidão à qual ela ficou sujeita em virtude do pecado do homem que recebeu autoridade para sujeita-la. Pois se a qualidade daquele que tem autoridade é ruim, logo o exercício de sua autoridade também o será.

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