sábado, 8 de janeiro de 2022

A Primeira Tentação

    Comumente se traça um paralelo entre o evento da tentação de Jesus no deserto e o caminho dos Israelitas pelo deserto após a libertação do Egito. Embora em nenhum lugar da escritura sagrada tal comparação seja feita, ela, em si, não é despropositada, mas muito bem colocada. Ao lado dessa comparação existem outras, como a comparação entre a tentação no Eden e a do deserto. Mas trataremos ao longo das três devocionais que se seguem sobre essa comparação, especificando cada das três tentações, tentações que são relatadas nos livros de Mateus (4.2-11) e Lucas (4.2-13), sendo inexistente em Marcos e João. Mas aqui especificamente trataremos da primeira tentação, aquela relacionada à fome e o interesse que que Jesus evidenciou ser nele superior , ou seja o desejo inegociável de ser alimentado pela Palavra de Deus.

    Ao fim dos 40 dias de jejum e oração tanto Mateus como Lucas relatam que Jesus teve fome, e que justamente nesse momento do auge de sua fragilidade física o diabo se aproximou de Jesus e disse: Se tu és Filho de Deus, ordena que esta pedra se transforme em pão (Mt 4.3 Lc 4.3). Nesta tentação a primeira coisa que o diabo põe à prova é a certeza de Jesus a respeito de si mesmo. Obviamente que o que não faltava a Jesus era poder para realizar tal milagre, mas também resta óbvio a inconveniência de que, como Filho de Deus, Jesus seguir um conselho do demônio para provar aquilo que ele mesmo é. Análoga a essa tentação parece ser também o pedido dos fariseus e saduceus para que Jesus desse um sinal dos céus (Mt 16.1-4), e o pedido de Herodes quase no mesmo sentido (Lc 23.8). Jesus aqui se diferencia de um milagreiro vulgar colocado à disposição de interesses especulativos e da curiosidade vazia.

    No mais, ao resistir à orientação satânica Jesus coloca acima de tudo a vontade divina unicamente à qual ele era realmente submisso, colocando sua relação com Deus até mesmo acima da fome. Aqui Jesus vence onde os Israelitas sucumbiram no deserto ao ansiarem pelas “carnes e pães do Egito” (Êx 16.3), ansiando até mesmo depois de Deus prove-los com carne maná as “cebolas do Egito” por fastio do que Deus havia provisionado (Nm 11.4,5), murmurando contra Ele e pondo à prova a Sua bondade. Nesses dois momentos, ao modo de Esaú, a tendência do povo foi a de ansiar por vender a sua liberdade apenas para comer melhor. Contraponto Cristo, o Verdadeiro Israel, aos israelitas, vemos nitidamente que o bem espiritual deve ser preservado mesmo à custa de certas agruras temporárias que duram um momento. Cristo não vendeu sua posição em Deus ao troco de ter sua fome saciada segundo a orientação do demônio. Aqui, por nós, Ele foi realmente livre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário