sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

O Sinal Vertical

  O evangelho de Marcos é considerado o mais antigo de todos os evangelhos ditos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), sendo ele a base fundamental de construção dos evangelhos sinóticos mais tardios, ou seja, Mateus e Lucas. Marcos é assim considerado por ser o Evangelho mais simples dos três, servindo assim de fonte redacional no qual os evangelistas, com base em uma fonte chamada de “Q” (Quelle), acrescentaram ditos de Jesus como o Sermão da Montanha (inexistente em Marcos), certas parábolas, e os relatos sobre o nascimento de Jesus, sua infância, circuncisão etc. No Evangelho de Marcos, ao contrário dos evangelhos de Mateus e Lucas, a narrativa começa já com a pregação de João Batista. O Jesus de Marcos também aqui é mais ativo e menos dialogal como nos evangelhos de Lucas e principalmente de Mateus.

Marcos, assim, serve para vislumbrar aquilo que chamamos de kerygma da comunidade primitiva. A palavra kerygma vem do grego κήρυγμα, e no Novo Testamento é a palavra usada para designar a proclamação, a mensagem, ou seja, aponta para o conteúdo da pregação da comunidade primitiva. Comum aos três evangelhos sinóticos e ao Evangelho de João é o relato sobre o batismo de Jesus e o sinal do Espírito. Em todos os quatro evangelhos é comum o relato sobre o evento da descida do Espírito (Mt 3.13-17; Mc 1.9-11; Lc 3.21,22; Jo 1.29-34). Para a Igreja o sinal divino da descida do Espírito tem inúmeros significados, e entre eles um dos mais significativos é aquele que indica a obra de Cristo como uma decisão absoluta de Deus, uma realização vertical que na descida no Espírito Santo nos informa a autorização absoluta de Jesus como o Cristo, aquele que é o Filho Amado.

    O Sinal do Espírito é o sinal da descida vertical de Deus ao mundo, a sinalização de que a salvação é obra reservada à sua exclusiva autoridade, mas que nem por isso exclui a atuação do homem que, ao contrário, é convidado a se unir a Deus e em sua obra a começar pelo próprio batismo e pela fé. O sinal vertical do Batismo é dado por Deus em interesse pela nossa salvação, pois aí, como atesta João Batista (Jo 1.32,33), Jesus é apontado como aquele que Batiza com Espírito Santo e com Fogo, atestando assim o papel messiânico de Cristo como o Cordeiro de Deus, ou seja, como o salvador do mundo que mediante a concessão do Espírito tem poder também para conceder a Vida Eterna – sendo que a noção de batismo com fogo também sinaliza o poder de Cristo como aquele que pode castigar eternamente. E assim como nos atestam as Escrituras, a salvação não pode ser obra de ninguém senão de Deus, senão daquele que está fora do mundo e acima dele, pois ao Senhor pertence a Salvação (Jn 2.9).

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