sábado, 8 de janeiro de 2022

Conduzido Pelo Espírito ao Deserto; Ou: O Cristo Vencedor

    Logo após o seu Batismo os evangelhos sinóticos em unanimidade afirmam que Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto (Mt 4.1; Mc 1.2; Lc 4.1), e em Mateus, de forma mais explícita do que em Lucas e Marcos, o evangelista afirma que a intenção do Espírito foi o de conduzir Cristo ao deserto para ser tentado pelo diabo. Aqui temos um tema muito importante que diz respeito ao embate de Cristo contra os poderes satânicos. É interessante notar que nos três primeiros séculos da era cristã, como é possível ver nas reflexões de Justino de Roma (séc. II d.C), o tema relacionado aos poderes satânicos era algo que assombrava as mentes no mundo antigo, sendo ressaltada de forma enfática a vitória de Cristo sobre esses poderes como contraponto a esse desespero existencial elevado ao nível do paroxismo presente na época da igreja nascente.

    Podemos voltar a atenção sobre essa intencionalidade do Espírito em conduzir Cristo ao deserto para ser tentado pelo diabo. Alguns podem se perguntar qual a razão disso, já que a escritura diz explicitamente que Deus a ninguém tenta (Tg 1.13). Sim, por óbvio Deus a ninguém tenta, já que ele não produz qualquer ato mal. Mas a intencionalidade do Espírito é conduzir Jesus com o propósito de colocá-lo ambiente de tentação. Mas importante notar que aqui não se diz que o Espírito conduziu Jesus ao deserto para lá pecar e sim para ser tentado. Tendo isso em vista podemos colocar a questão nos seguintes termos: O Espírito conduziu Jesus ao deserto para ele vencer o demônio, vencer em seu corpo, por meio do seu corpo. Temos aqui, como já sinalizamos, um tema que se tornou importante na Igreja antiga que é o tema do Christus Victor (Cristo Vitorioso), aquele que depõe o poder das trevas.

    O tema da vitória de Cristo é importante para compreendermos um aspecto importante do ministério de Jesus. A partir do evento do deserto, dos 40 dias de jejum e oração, Jesus inicia publicamente o início do esmagamento das potências das trevas, carreira essa que atingiria seu momento alto na Cruz, lá onde Cristo foi glorificado. Agora, após o fim do seu ministério, unidos a Cristo mediante a fé, o batismo e a Ceia, constituídos como seu corpo, podemos vencer as mesmas potências das trevas, tendo em vista também que, para a nossa vitória em Cristo, somos lavados do nosso pecado pelo seu sangue, pecado o qual nos mantinha atados debaixo das mãos do inimigo. Aqui vemos qual é o caminho do Espírito, porque intencionando levar Jesus ao deserto para ser tentado pelo diabo nada mais ele intenta do que realizar em Cristo a nossa salvação e libertação.

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