domingo, 30 de janeiro de 2022

O Justo Diante de Deus

    Nos dias anteriores ao Dilúvio a escritura relata a escalada alucinante da corrupção humana. O clímax dessa corrupção é narrado em Gn 6.1,2, e ali se diz que os filhos de Deus coabitaram com as filhas dos homens, nascendo assim heróis. Dificilmente é possível defender que se trata da mistura da linhagem espiritual de Sete e a linhagem “mundana” de Caim, mas sim que os anjos coabitaram com as mulheres porque eles as consideraram belas. Uma tradição judaica afirma que esse período é ta terrível porque a união entre as mulheres e anjos nada mais era do que um efeito da prática de magia e feitiçaria. Assim a corrupção chegou à esfera do espírito de uma forma insuportável para Deus, pois dessa união nasceram os poderosos do mundo (possivelmente corruptores, homens só de guerra etc.), e isso para o desgosto de Deus que reduziu a vitalidade do homem em função dessa escalada da maldade dizendo que os anos do homem passariam a ser 120 anos, prometendo apagar a vida na terra.

    No contexto do alastramento da perversidade, Noé é descrito como um homem que achou graça (misericórdia) aos olhos de Deus, assim como era um homem justo e íntegro. O nome Noé vem de נֹחַ (nōah), ou Nôa, cujo significado é tanto descanso ou repouso – como indica a profecia de Lameque, seu pai, que disse que em Noé haveria descanso para os trabalhos e fadigas causadas pela maldição da terra -, como também permanecer ou continuar – o que é sugestivo pois é de Noé de onde flui a raça humana que foi destruída no período do Dilúvio, podendo com justiça concluirmos que ele cumpre um papel semelhante a Adão, fazendo dele o cabeça do novo mundo. Em Noé, dado tudo isso, temos como que uma figura de Cristo, pois ao ser um pregador da justiça Noé desempenha uma função salvadora, construindo uma arca – como figura da Igreja –, onde ele livra a humanidade e também a criação como obra de Deus do juízo do próprio Deus.

    Assim como seu antecessor Enoque, Noé ouvia a Deus, e andava com Deus (Gn 6.9b) e seu ouvir e andar não foram inócuos. Como Enoque, que foi obra da graça, também Noé o foi, pois achou misericórdia aos olhos do Senhor (Gn 6.8). Assim, Noé não achou misericórdia por ser justo, mas porque achou misericórdia Noé era justo, caso contrário dizer que Noé achou misericórdia e graça nem mesmo fará sentido. O apóstolo Paulo afirma de Deus: terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia (Rm 9.15). É importante percebermos isso para nunca partirmos da compreensão de que foi o ato pessoal de Noé que atraiu a graça de Deus; Deus não é causado pela justiça do homem, mas é quem causa toda justiça no homem. Então sendo um ouvinte agraciado por Deus, pregador da justiça divina, homem espiritual, Noé foi o salvador do mundo antigo, livrando a ele e mais sete pessoas do juízo, e parte da criação. Noé é o sinal do Evangelho, é o homem do dilúvio como sinal do batismo, pois no batismo morremos para a maldade do velho mundo e ressuscitamos para a justiça Deus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário