quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Paraíso: Saudade ou Esperança?

    O Éden é algo que desperta nossa imaginação em função do poder que a noção do estado paradisíaco exerce sobre nós. Assim, pensamos no Éden como o espaço físico ímpar que sediou a existência do homem dotado de perfeição e de posse da justiça original que nos abandonou em função da primeira transgressão da raça. É bem claro à vista disso que não somente localizamos o Éden atrás de nós, mas também o antepomos ao nosso futuro, não tendo dele consideração apenas por aquilo que foi, mas, acima de tudo, visando seu significado, aquilo que ainda pode ser para nós, como um fim superior acima do nosso decaído estado presente. O Éden nesse sentido é também um símbolo que condensa as nossas mais altas esperanças, e exatamente por isso ele vem a ser para nós uma tela de fundo que projeta uma luz pela qual enxergamos o estado presente da nossa vida. Quando nos referimos à Queda, assinalamos, mesmo inconscientemente, uma vida superior que não é presença, mas que é saudade e ao mesmo tempo esperança.

Aparecendo na Escritura pela primeira vez em Gn 2.8, a palavra Éden provém do termo hebraico עֵדֶן (‘ēden) significa prazer ou deleite, indicando que o lugar que comportava esse estado de perfeição do homem era um lugar aprazível, agradável e prazeroso. Fica clara a noção de que o local rescendia humanidade, como uma casa agradável que ignora qualquer espécie de fratura, brutalidade, sofrimento ou dor. Assim, quanto mais vamos revirando o significado do estado paradisíaco, o Éden de Gênesis, mais vamos nos encontrando com a nossa máxima esperança, e toda a experiência atual que temos do estado da presente vida nos faz imaginar o quão poderoso é o desejo pela perfeição que não temos, algo que fica muito mais impressionante quando contemplando o próprio sofrimento pelo reflexo da perfeição, já que o sofrimento sequer faz sentido sem um desejo pela perfeição, pois toda a dor é o profundo lamento de um estado agradável que já não possuímos mais. Aquele que está doente quer de volta a saúde que possuía, qualquer triste quer uma felicidade que já não tem.

Nesse sentido, a dor nos sinaliza a ausência de algo que outrora foi presente, nos remete a uma saudade e a uma esperança, indicando que sentimos saudades de uma perfeição agora ausente. Contudo, apesar de o Éden suscitar saudade esperança, a revelação da Escritura não nos promete uma simples restauração do paraíso edênico. Não existe restauração na bíblia, pois a revelação divina não conhece uma história que se repete, mas que avança para um destino melhor, e maior, pois assim como Adão é menor do que Cristo, o Éden é menor do que Jerusalém. Não estamos voltamos simplesmente a um início bom, mas avançando para um futuro melhor. É justamente por isso que não podemos conhecer a constituição das muralhas de Jerusalém analisando nosso próprio coração, nem o coração mais íntegro, pois lá será posto aquilo que olho jamais viu, o que jamais subiu ao coração do homem (1Co 2.9), pois essa realidade só pode ser comunicada pelo Espírito, que é o Espírito da Nova Criação, o que não impede que ela seja compreensível pela nossa saudade do paraíso.

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